Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 16 de junho de 2015

Este Mundo




Este mundo, tão vasto mundo,
um teatro de orgulhos,
um teatro de horrores,
que mesmo assim insatisfeito,
procura este ser indefeso,
pária da natureza,
encontrar verdade em outros mundos!

Este mundo, tão vasto mundo,
cheio de desditados,
cheio de desesperançados,
tem aqueles que procuram,
no imenso céu, vasto céu,
perdido de azul,
outros seres, outros planetas,
que possam acabar com sua inexorável
solidão!

Este mundo, tão vasto mundo,
pensado por Voltaires,
mais que por qualquer outro,
é pleno de infelicidades,
é pleno de tristezas,
é pleno de desfaçatez,
é pleno de falta de sentido,
e mesmo assim
neste tão vasto, tão pequeno mundo,
falamos o tempo todo de felicidade!

Este mundo, tão vasto mundo,
que não pode ser reunido entre minhas pernas,
que não pode ser recolhido em minhas mãos,
mundo tão vasto,
mundo tão pequeno,
que mostra a insignificância,
de quem ainda se pensa centro do Universo!

Este mundo, tão vasto mundo,
que é só meu,
enquanto respirar,
enquanto teimar meu coração,
em bater dentro do peito,
apenas para sussurrar,
minhas tristezas,
pensar minhas banalidades,
existir na minha solidão!

Bom dia



Bom dia meus amigos,
Bom dia mesmo,
Bom dia de verdade!

Se estiverem lendo, este breve bom dia,
É porque hoje é um bom dia,
Estamos vivos, desejando,
Amando, trabalhando,
Esfolando-se nas estradas da vida!

Então bom dia...

Bom dia porque todos os dias,
Fazemos uma escolha entre viver,
E morrer!

Sim, e morrer, por que
Para morrer,
Basta estar vivos, e estamos vivos!

Então, bom dia,
Bom dia meu amigo,
Bom dia minha amiga,
Bom dia meus companheiros de jornada,
Bom dia meus vizinhos,
Bom dia Chanel...

Ah! Quem é Chanel?...
Chanel é uma cadela,
Isso mesmo! uma cachorrinha,
Que era para ser um fox paulistinha,
Mas é uma tomba-latas branca,
Toda pinscher!

Bom dia Chanel, com sua felicidade
Sua angústia quando saio,
Sua felicidade quando chego!

Bom dia mundo, bom dia sol,
Ops! Estamos em Curitiba,
Às vezes esquecemos que ele é amarelo,
Mas, bom dia assim mesmo,
Para você tão ausente de nossas vidas!

Bom dia! Assim,
Tão simplesmente...
Bom dia!


Amigo!



Tenho poucos amigos...
Muito poucos...
Não tantos quanto gostaria de ter tido,
Preciosos por extremamente raros!

Amigo, tive poucos amigos...
Mas tua tristeza me enche de dor,
Por ver que tuas promessas,
Por perceber que tua felicidade,
Desmorona tão facilmente,
Tão dolorosamente,
Quanto não podia ser imaginada!

Amigo! Quanta dor sem sentido,
Quanto sofrimento perdido,
Porque alguém deixou de perceber,
O quanto vivia e vive apenas para o outro!

De verdade, quanto abandono,
Quando vejo a tristeza no olhar do homem,
Que ainda ama, amando cada coisa,
Amando cada certeza, cada encanto!

Como podem ser cruéis as mulheres,
Ao desamarem e condenarem o homem,
Pelos seus desamores!
Culpando-os, magoando-os,
Apenas porque homens!?

Amigo, tens meu ombro,
Tens minha amizade,
Tens o mundo e a admiração,
Espero que tenhas...
A paciência de perseverar no amor!

Amigo, como sofro em ver,
Tua tristeza,
Amigo, como gostaria de ser,
O remédio de toda tristeza,
E de ver-te voltando...
Para a casa onde duas mulheres,
Uma o objeto de todo o desejo,
Outra o fruto de todo amor,
Esperando-te de sorriso,
Braços, olhos, esperanças,
Abertos!

Amigo, abraço...
Amigo, esperança...
Amigo, conte...

Amigo, sempre!

Por que a dor...?



Acredito que cada pensamento,
Traga escondido em sua inocência um espinho.
Acredito que cada pensamento,
Traga sob seu manto uma adaga.

Certamente dor,
Potencialmente morte,
Cada pensamento nos leva mais próximo
Dos abismos que habitam em nós.

Nossa solidão radical,
Nossa liberdade irredutível,
Nossa imensa vacuidade,
Tentam preencher-se de afetos.

Mas para manter afetos não podemos pensar,
Pensamentos condenam,
Pensamentos afastam,
Pensamentos ofendem,
Pensamentos violam!

Mas se não pensarmos, o que há de ser?
Rezaremos de joelhos?
Cantaremos loas, daremos graças?
Pegaremos fuzis para defender a vida?
Mataremos pessoas pela igualdade,
Mataremos pessoas pela liberdade,
Mataremos pessoas porque pensam?

Eis a questão,
Os que pensamos, estamos condenados,
A sermos julgados,
A sermos condenados,
A sermos executados.
Por quê?

Porque somos a dor que não quer calar,
A denúncia da falsidade das...
Instituições,
Religiões,
Políticas,
Ideologias,
E por fim, tão dolorosamente,
Do amor!

Quanta dor, sem nenhum remédio,
Que não seja, a própria dor!
Porque não há outro remédio
Que não o olhar sobre o mundo...
Como ele é, com todas as suas falsidades,
Loucuras, mentiras, obscenidades...

Não há outro remédio que existir...
E dizer sempre...
A vida vale a pena, porque sou livre...

Para pensar!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Chorinho



Aracy Cortes*

Escutar a alegria e a tristeza de um chorinho,
Fechar os olhos e imaginar,
Outros lugares,
Outro tempo,
Outra pessoa,
De mãos dadas,
Com a vontade do beijo,
Com a vontade do contato,
Com a vontade de toda nudez!

Escutar a rapidez e a lentidão de um chorinho,
A dor que faz o coração explodir,
E viajar metros, distâncias,
Viajar até a alma da amada,
Que na distância,
Aguarda o beijo prometido,
Que vai aos atropelos,
Encontrá-la...

Escutar a dor e o existir de um chorinho,
Que fala de amor,
Que fala de paixão,
Que fala de sexo,
Que fala de apertos,
Que fala de graças,
Que fala de cheiros,
Que fala de tudo,
Que fala de nada,
Porque derretido na cama de amar,
Derretido no suor de amar,
Acometido da languidez de amar!

A esse chorinho, quero ouvi-lo,
Com toda sua alegria,
Com toda sua dor,
Com toda sua paixão,
Grudado na pele do amor,
Que me fará derreter,
E permanecer,
Dentro de meu amor!


Quem é Aracy Cortes, a jovem da foto?

Zilda de Carvalho Espíndola, conhecida como Aracy Cortes, (Rio de Janeiro, 31 de março de 1904 — Rio de Janeiro, 8 de janeiro de 1985) foi uma cantora brasileira.
Nascida no Estácio, foi criada pela madrinha muito severa; cresceu e mudou-se com a família para o Catumbi, aonde teve como vizinho um rapaz negro que tocava flauta, Pixinguinha, o fundador do grupo Oito batutas.
Por iniciativa própria começou a cantar em vários teatros da cidade, tornando-se conhecida pela voz de timbre soprano e o jeito personalista de cantar. O reconhecimento veio com a música Que Pedaço, de Sena Pinto (1923), e em seguida outro sucesso, Jura, de Sinhô (1928). Na esteira do sucesso e já muito enfronhada com o mundo da música, foi ela quem lançou também, na década de 1930, outros compositores, então desconhecidos: Ary Barroso e Assis Valente. Com apresentações recorrentes nos teatros de revista, que reuniam a nata do meio artístico, projetou-se como a primeira grande cantora popular, destacando-se em meio ao quase exclusivismo das vozes masculinas da época. Foi dela também a primeira audição de Aquarela do Brasil (Ary Barroso), a primeira e mais importante canção exportada para os EUA, inaugurando o gênero samba-exaltação.
Aracy revelou-se um dos maiores nomes do gênero samba-canção. Comparado ao bolero pela exploração e exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento de um amor não realizado, foi chamado também de dor-de-cotovelo ou fossa. O samba-canção (surgido na década de 30) antecedeu o movimento da bossa nova (surgido ao final da década de 1950), com o qual Maysa Matarazzo já foi identificada. Mas este último representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações em detrimento do drama e das melodias ressentidas, da dor-de-cotovelo e da melancolia.

Se soubesses me ouvir...





Não ouvimos apenas com as orelhas,
Ouvimos quando nos pedem,
Importe-se, acompanhe-me,
Leia-me, escute minh’alma,
Escute meu viver,
Que silencioso marca,
Com o compasso de minhas dores,
Cada pensamento e sentimento,
Que alimentam minha existência!

Não, não sabes me ouvir,
Porque sequer sabes o que sinto,
Porque sequer sabes o que penso,
Porque olvidas meu existir,
Olvidas meu pensar doloroso,
Sobre a verdade desfeita de nós dois!

Não, não sabes sequer onde estou,
Não sabes por que estou,
Não sabes a diferença entre meu sofrer,
Entre meu cansaço de existir sem sentido,
Que se prolonga no teu egoísmo,
De não perceber que existo, para além de ti.

Não, não sabes me ouvir,
Porque em teu insano egoísmo,
Planejado ou sofrido,
Permaneces ausente da vida,
Permaneces ausente da relação,
Que um dia foi tudo,
Hoje é fardo e pesadelo!

Chorar é indigno,
Lamentar é perverso,
Então o remédio é ausentar-se,
Mesmo que na presença!

Depois não lamentes que...
Ao partir, também não saiba ouvir...
Teus lamentos, que me soarão,
Desarrazoadas e incompatíveis,
Com aquilo que prometestes,
Mas que não é mais que saudade!