Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Encontro




Não sabemos quando o encontro se dará.
Não sabemos nem mesmo, se ele se dará como desejamos,
Porque a vida é antes de tudo uma sucessão de desencontros,
Um verdadeiro emaranhado de possibilidades...

Nossos valores e nossa cultura que têm se desconstruído,
Trouxeram outrora a necessidade da permanência,
A tecnologia, essa nos legou o sentido da precariedade,
E com ele o fim de todas nossas certezas...

Assim, os encontros não são mais desejados,
Nem nos trazem mais a concretude do perene,
Fundamentam-se na fugacidade do apelo fácil,
Não têm mais a busca da devoção e da doação!

Com o mundo em aceleração, com o tempo relativo,
Escravizados pelas necessidades que não temos,
Dobrados sobre contingências outras que não nossas,
Somos incapazes de realizar nossa humanidade no outro!

É assim que nossos encontros, são antes prenúncios,
De desencontros mais doloridos e efêmeros juramentos,
São encontros arranjados pela cupidez, não resistentes...
À dor, ao sofrimentos, ao compartilhar de destinos!

Daí por quê, quando do encontro que promete,
Toda verdade e toda luz, que anima cada parte,
Não há porque titubear, mas antes buscar,
Lançar-se todo inteiro, na cama, no espaço de amar!

E esse encontro, quando há de se dar, busca...
Não apenas a satisfação do desejo e dos sentidos,
Mas a construção do outro, a multiplicação do nós,
A beleza, a leveza, o encantamento da devoção!


O encontro, como sublime realização da humanidade!
Da humanidade que habita em mim, e se realiza...
No ato de entregar-me ao outro, pelo outro...
De pensar e viver, para a sublimidade da entrega!

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Promessas




Não precisamos fazer promessas!
Não as devemos fazer, impensadas!
Mas, se proferidas, há que ser determinados,
Sentir o prazer de seu cumprimento cada dia!

Nada há que possa ser cobrado que não tenha,
Sido oferecido, prometido, dado pelo outro,
Porque promessa é compromisso,
De mim, para comigo mesmo, e basta!

Promessas são como leis ditadas pelo desejo,
Estabelecidas como compromissos buscados,
Sentidos como apelos para uma vida intensa,
Vivida de desafios e perseverança cada momento!

Se nada prometi, nada devo, hoje nem amanhã!
Mas, se te prometo, devo a mim, ao que sinto,
Cada coisa que determinei como decreto permanente,
Fiel a mim e ao que sinto, fiel ao desejo que despertas!

Assim, não temais o abandono, se fostes capaz,
No momento em que se fundem nossos destinos,
Arrancar de mim, de tão fundo e muito além,
Uma promessa de vida, permanência e felicidade.

Vivo tão intensamente minhas promessas,
Quanto sou livre quando não há o prometido,
Mas não deixes de perseverar na tranquilidade,
Na paz e a doação que me desvelastes...

Por que promessas, são como leis da eternidade,
Que elaboradas, vinculam cada alma anelada,
No espaço íntimo vivido no momento, no quarto,
De amar, de festejar, o encontro desejado...

Chegamos à Lua





Não consigo conter o riso quando assisto às distopias que se propagam no início do século XXI. Parece-me patético que o homem após ter incensado tanto a razão permaneça obnubilado por contemplar-se como o ápice da criação.
Em 1969 o homem conquistou a superfície da lua. Colocou seus pés sobre a areia que recobre o satélite natural da Terra e, sem o saber muito por quê, do alto de sua arrogância, comunicou que seu primeiro passo era pequeno para o homem mas, gigante para a humanidade.
Mesmo reconhecendo que do ponto de vista tecnológico a façanha tenha tido um significado estupendo,  na prática era apenas uma busca de marcar a hegemonia de um modelo de sociedade, o capitalismo, sobre outro, o socialismo. Não nos apercebemos que tanto um sistema, quanto o outro, amparavam, como amparam, seus sucessos sobre milhares de cadáveres, sobre a morte, a fome, a privação e a doença de milhões de seres humanos.
Recordo-me que naquele tempo o custo de um míssil com ogiva nuclear, fosse americano, fosse soviético, era capaz de alimentar mais de 3 milhões de pessoas na Etiópia, que perdia igual número de habitantes decorrente da forme e da miséria a cada ano.
Hoje ficamos imaginando conquistar de planetas no sistema solar, e mesmo fora dele, e os cientistas “brilhantes” fazem perspicazes comentários sobre a dificuldade de adaptação do corpo humano às condições adversas do Universo, e das consequências que daí resultam ao organismo.
Como podemos conceber que tais condições são adversas, se somos criados para as condições onde surgimos, evoluímos e nos desenvolvemos?
Mas, o curioso, é que nós humanos somos corpos extremamente bem adaptados e construídos para a sobrevivência sobre este minúsculo planeta, somos selecionados de maneira gradual, lenta, primorosa e em 3 milhões de anos, surgimos e evoluímos para várias espécies e subespécies de primatas que desceram das árvores para a estepe, do vegetarianismo para uma condição onívora que nos permitiu cérebros avantajados.
Não somos construídos para outros tipos de gravidade, ou para outros tipos de atmosfera onde não haja abundância de nitrogênio e oxigênio para respirar.
Assim, é insana e pretensiosa a perspectiva de conquistar outros planetas e considerar possível que nossa forma e nossa maneira de viver e sentir permaneçam as mesmas.
Se, em algum tempo, houver a possibilidade de habitar qualquer outro planeta que não nossa Terra, o ser humano resultante será outro. Será selecionado para as novas condições, e se sobreviver, terá uma forma de percepção, sensibilidade, compreensão da realidade e uma identidade outra.
Conquistamos a Lua sim, mas apenas para fazer propaganda de um modelo de organização contra outro. Não ganhamos nada ao pisar lá, e talvez, se tivéssemos ficado com as novelas de Jules Verne, teríamos feito melhor do que encher o espaço em torno da Terra com milhares de restos metálicos que transformam nosso entorno num cinturão de lixo espacial.
Não percebemos ainda que é questão de tempo ter de calcular onde colocar os satélites para que não trombem com o que já despejamos de restos sobre a atmosfera de nosso planeta.
Seremos extintos neste pequeno planeta, mas isto é parte do projeto, é parte da história da própria vida. Nossos irmãos Australopitecos, Pitecantropos, Neanterthais, todos eles deixaram de existir. Estamos liquidando nossos primos chimpanzés, orangotangos, gorilas e bonobos.
Por que haveríamos nós de sobreviver?
Ah, sim! Somos a imagem e semelhança do Criador! É verdade, indiscutível. Mas, na medida em que ele permitiu, dentro de suas leis perfeitas e imutáveis, surgidas de seu Verbo, de seu agir Criador, que surgíssemos e nos multiplicássemos, nossa extinção está também determinada para que haja a preservação da vida!
Como diz Umberto Eco, não há dúvidas de que o homem chegou à Lua, já que se assim não fosse, os soviéticos seriam os primeiros a denunciar o engodo. A questão é, para quê?
De outra forma, lutar contra o aquecimento global é realmente um discurso moderno e interessante, além de mobilizar muitos bilhões de dólares. Interessante é perceber que para cada solução encontrada, apresentar-se-á um novo problema, porque afinal, nós somos o problema. Nós, as criaturas que subjugaram Gaia, corromperam-na para a satisfação de seus desejos egoístas e que agora somos escravos de nossa própria concupiscência.
Sim, a tecnologia nos escraviza e nos coloca na condição de servos voluntários de nossos próprios fornos crematórios.

Chegamos à Lua, e agora?

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Plasticidade do Tempo






O tempo é grandeza que não se mede com régua,
Porque se de ti estou próximo, voa,
Se de ti me afasto, se arrasta.

O tempo se deforma conforme o sentimento,
Que embala meus sonhos, que ampara meus pensamentos,
Que faz de mim desamparado, sempre que de mim não te acercas!

O tempo é como uma neblina densa, que não permite,
Ver para além de um palmo da ansiedade que sinto,
De estar todo o tempo contigo, nenhum tempo afastado!

Assim, sinto o tempo que demiurgo criou,
Como deus, como Cronos, para fazer-nos intuir,
A bem-aventurança do amor, a tortura da solidão!

Mas se no tempo que medeia, entre o adeus e o reencontro,
Medrar em teus lábios, um sorriso esconso,
Saberei então que clepsidra segue, até nosso novo encontro!

E o tempo é também generoso, porque sempre avança,
Não há temor de que pare e nos deixe em abandono,
E de toda forma hei de ir ao seu encontro, hoje, amanhã, depois...

Mas, se a ansiedade da distância toldar-lhe o cenho,
Não entristeças meu amor, saberás que vou ao teu encontro,
Pois os dias conspiram a nosso favor, e hei de estar de novo,
Determinado pelo teu encanto, a vencer o tempo. Quanto tempo...