Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O tempo e nossa perspectiva

 




Quando nos pegamos pensando no tempo percebemos, da maneira mais singela, que o tempo é uma realidade que nos diz, que o passado se afasta de nós cada vez mais com a velocidade que nossas tristezas e nossas amarguras imprimem, o futuro vem ao nosso encontro com a velocidade que nossas promessas e nossas esperanças conseguem imprimir ao nosso desejo. Mas, o presente, ora, o presente vive a angústia de querer ser agarrado, para poder ser vivido, e isso gasta toda nossa força e energia, num baldado esforço que acaba por nos deixar desamparados do passado que se alheia e do futuro, que está sempre a chegar, mas que ao ser presente, se esgota na angústia da espera.

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Saiba

 



 

Saiba que quando os pássaros voam,

Voam para destinos sabidos,

Onde aguardam cantos,

Onde aguardam folhas,

Onde aguardam vidas,

Onde aguardam ninhos,

Onde se mostram penas,

Onde se mostram danças,

Onde o amor se faz necessário,

Para a conquista da felicidade,

Para a conquista da eternidade,

Na conjunção de duas vontades,

Na conjunção de duas almas,

O encontro de dois corpos,

De dois desejos,

E assim como os pássaros,

Saiba que voo para você,

Para encontrar nos teus olhos,

A luz que ilumina o horizonte,

Para encontrar o ninho,

Onde me faço plenamente,

Teu amante!

Dores

 



 

 

Tantas dores que sentimos,

Sem compreender sua natureza,

Sem entender suas origens,

Mas, umas trazem a doçura do amor,

Outras, os azedumes do desamor,

Todas elas, provas de nosso existir,

Porque só há de sentir a dor,

Aquele que vive para percebê-la,

Que vive para senti-la em plenitude,

Sabendo que ao respirar,

Dói um pouco mais, do que no repouso,

Dói um pouco mais, quando do soluço.

Mas, se temos dores, se as sentimos,

Vivos estamos para carrega-las,

Vence-las, tão somente,

Para poder sorrir e sentir,

O prazer de estar vivo,

De se encontrar novamente,

Com a esperança dos corpos,

Com a esperança do gozo,

Com a esperança do amor,

Que não acaba nunca,

Quando se tem toda uma vontade,

Toda uma boa vontade,

De existir, para amar!

Ilusão

 



 

 

O mundo é ilusão ou certeza?

Será meu sentir um ocultar?

Será o que sinto e penso,

Mera projeção de um demiurgo?

Que zomba de meu sofrimento,

Que zomba de minha alegria,

Ou que se entendia,

Com toda nossa miséria,

Com toda nossa angústia,

Com toda nossa limitação?!

 

Será então tudo que sinto?

A ilusão prometida como encanto!

A ilusão oferecida como promessa!

Será então tudo que vivo,

Mera aparência, que se esgota,

Assim, no dia ou na noite,

Em que suspiramos uma última vez?

 

Mas seja o mundo ilusão,

Seja o mundo uma certeza,

Levo do mundo, a sensação,

De que em minha humilde fragilidade,

Existi, amei, sofri, chorei, ri,

Que nessa sofreguidão,

Encontrei outros como eu,

Outros tão melhores que eu,

E assim, entendi a ilusão!

Como a promessa de um intervalo,

Entre dois nadas, para construir,

Um sentido, um pequeno sentido,

O de perpetuar, verdadeiramente,

O ato de amar, criador e criatura,

Seja lá, existirmos ou sermos,

Mera ilusão!

Uma manhã

 



 

 

Todas as manhãs,

São todas tão iguais,

Apenas, porque manhãs;

Mas uma manhã;

Pode ser promessa de muitas outras

Manhãs;

Mas também a última manhã,

Então façamos desta manhã,

Uma manhã tão única,

Como se fosse a última,

Sendo antes a primeira,

De todas as manhãs,

De uma vida longa,

Porque vivida, como eterna,

Vivida como infinita,

Vivida como amizade,

Vivida como amor,

Vivida como hoje e amanhã;

Vivida como manhã.

Hoje!

Luz

 



 

Fere os olhos a luz que surge com o dia,

Fere a alma o silêncio que dela emana.

Daquela luz distante que invade a alma;

Daquela luz distante que enche de sombras.

Tantos corpos, tantas almas,

Luz, luz que ilumina, mas ensombrece,

Luz, que alumia, mas que esconde,

Luz, que empalidece pelo ofuscamento,

Luz, que irradia, quando entorpece,

Os sentidos feridos pelas curvas do teu corpo!

Fere os olhos a luz que surge com o dia,

E todos os seres acordam para mais um dia,

Escolhem a vida, negando a morte,

Energizando corpos, acendendo almas.

Mais um dia, iluminado pela luz,

De um astro tão distante,

Em cujo tempo..., oito minutos,

Basta para imaginar, toda a sombra,

Que existiria, não fosse a luz, tão medonha,

Cegar-me para tudo que não quero ver.

Luz, encantamento surgido, do sim predito.

Fere os olhos, esta luz que surge, com os dias!

Nada

 



 

Estou quase todo vazio,

Vazio de você, vazio de mim,

Vazio de tudo que importa,

E quanto mais vazio, mais pleno,

Pleno de um nada, abissal,

Que só faz sentido na solidão,

Que vivo, assim, desesperadamente,

Quando estou todo vazio,

Vazio de você, vazio de mim,

Vazio de tudo que importa,

Mas quanto mais vazio,

Mais pleno de um nada,

Abissal, estupendo, magnífico,

Que torna o vazio, pergunta,

Que torna o vazio, resposta,

Que torna o vazio, solução.

Estou quase todo vazio,

E quanto mais vazio,

Quanto mais escuro,

Quanto mais abissal,

Mais plenamente eu,

Mais desesperadamente eu,

Mais pleno da certeza,

Que desse vazio, emerge,

Um não sei que de existir,

Infinito, eterno, permanente,

E vazio, percebo que nada,

Nada me faz mais eu, que

Inexistir em você...

Demais

 



 

Demais,

Demais,

Mais que demais,

Experiência do belo,

Que encantamento faz!

 

Demais,

Repeti,

Assombrado pela beleza,

Que é encantamento,

Vivido apenas,

Na relação com o olhar,

Perdido nas profundezas,

De cada alma,

Vislumbrada,

Apenas um instante,

Não mais,

Quando contemplado,

Nas profundezas do mirar.

 

Demais,

Que demais,

Experimentar esse viver,

Apenas para tocar,

Apenas para sonhar,

Apenas para pensar,

Apenas para viver,

E então, derreter,

Desmanchar,

Extenuar-se,

Mais, que demais,

Apenas para dizer,

Sem palavras,

Num silêncio,

Interrompido,

Por um grito surdo...

 

Deus.

Feliz Ano Novo! Feliz 2025!




Cosmos... o Cosmos simplesmente não percebe, porque inexistente, a passagem do tempo, que é medida nossa. Mas... exatamente por que nossa, é única, faz promessas, traz esperanças, renova energias, enfim, entorpece nossas tristezas e abre alas a nossas alegrias e desejos. Impassível o relógio vai marcando um tempo que só faz sentido, quando vivido, como passagem, como transcendência. Hoje, podendo ser qualquer outro dia, convencionamos, todos nós, é 31 de dezembro. Amanhã, primeiro de Janeiro, do deus Janus, o bifronte que vê o passado e o futuro. Alvissaras ao novo ano, ao novo dia, às novas esperanças, às novas lutas, aos novos enfrentamentos e à escolha de viver e dar sentido a cada dia, cada novo dia, que nada mais é que mais uma volta que a Terra dá em torno de seu eixo, para mais 365 dias, terminar mais uma volta em torno de nossa estrela. Mais um ano, mais 365 promessas a se realizarem. Felicidades, sucesso, destemor, muita champanhe, alegria, ternura e felicidade neste dia, em todos os dias, pela eternidade do que vivemos. Feliz Ano Novo!!

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Amor de verdade

 



 

 

Como saber se um amor é de verdade?

Como explicar se um amor é de verdade?

Só é capaz de entender e sentir isso,

Aquele que percebe a ausência como sofrimento,

Que percebe sempre a sombra de quem partiu,

Que percebe a falta, como uma amputação.

 

Amor de verdade é aquele que não acaba,

Não pode acabar, porque é sempre aqui,

É sempre em mim, é sempre em você.

Amor de verdade, não se importa com o quê,

Não se importa com o como, nem se...

Amor de verdade é desesperado pela presença,

Seja agora, seja daqui a pouco, seja sempre,

Seja nunca.

 

Como saber se um amor é de verdade?

Quando não houver explicação para o que sinto,

A não ser, nas trevas que me sobram,

Na ausência do amado, na falta dele.

Não é uma reciprocidade contratual,

É, antes, uma necessidade visceral,

Algo tão doloroso, intenso e único,

Que é como o ar. Se nos falta, morremos.

 

Amor de verdade é sombrio e doloroso,

Mas, sem medidas, na felicidade que proporciona,

Tão e simplesmente por existir.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Espanto


 


 

A vida é todo o tempo

Espanto,

Porque todos os dias,

Tenho uma nova história,

Tenho uma nova chance,

Tenho uma nova esperança.

 

Todos os dias são de espanto,

Porque tua beleza, que é cada dia maior,

Invade minha memória,

E não consegue dar conta,

Do que encontro, em cada encontro,

Com nossa história.

 

E de espanto em espanto,

Vivo o momento de tua ternura,

Vivo intensamente cada palavra,

Cada momento de cuidado,

De lembrança, de carinho,

Cada momento de aceitação.

 

Espanto,

Por aceitar o que não parece aceitável,

Por acreditar, no que parece inacreditável,

Por viver, o que não parece ter vida,

Espanto,

Por seres mais do que posso acreditar,

Por existires mais, do que no tempo,

Em que somos mais que um, e nunca,

Chegamos a ser dois,

Espanto,

Porque é de espanto que se faz a vida,

Improvável,

Impensável,

Inimaginável,

A não ser, na mente que se espante,

De existir,

De amar,

De persistir.

Desapego


 


 

 

Quando vejo, nos sinais que deixa,

O desapego de nossa história,

Sinto dor, sofro imensamente,

De um abandono que se anuncia.

 

Quando percebo, nos passos que deixa,

Que caminhas para longe, de nós,

Percebo que toda dor tem causa,

Que todo abandono é incompreensão.

 

Quando sinto, que abandona nossos sonhos,

É porque já não reúnes em ti,

Nenhuma esperança, sinônimo de amor,

Sinônimo de vida, revelação que transborda.

 

Quando percebo a dor que me causa,

O desapego que queres me fazer sentir,

Percebo minhas insuficiências,

Morro um pouco, deixo de existir.

 

Desapego é dor, desapego é abandono,

Por causas, ou sem causas,

De um amor que dura, enquanto...

Viver em mim, os restos de ti.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Levantar

 



 

Quando o sol se levanta

De seu leito imaginário

Afastando de si, sonhos e torpores

Insufla vida, energia e vontade

Tal como Deus de bondade

Inundando a alma devota

Do desejo ardente do partir

Do viver, não mais que apenas um dia,

Mas, mal sabemos que essa eterna repetição

É a prova eterna e ilimitada

De nossa permanência infinita

Nesse constante suceder-se

De claridade e escuridão

Permanecendo sempre invariáveis

Únicos, indivisos, inteiros,

Num tempo que não há,

Nesse mesmo lugar, nicho percebido e sabido

Como o espaço de sentir e amar!

Assim, mais um dia em nossa eternidade!

Cri Cri

 





 

Cri

Cri

Cri

Splach

Cri

Cri

Cri

Tibum

Cri

Cri

Cri

Slept

Cri

Cri

Cri

Boom

E o silêncio se fez,

Os olhos se fecharam,

A ansiedade passou,

Os amores findaram,

A existência acabou.

Sem ruído, não existo,

Sem dor, não penso,

Sem paixão, não vivo.

Assim, que se exploda o silêncio...

Cri

Cri

Cri

Kaboom!

Olhos



 

Os olhos são janelas,

Janelas que permitem,

Uma visão privilegiada, de

Um pequeno pedaço da alma.

Permitem uma sondagem,

De tudo que vai no mais fundo.

Demonstram tantos afetos,

Que animam o existente,

Com seu brilho, com seu enigma,

Com os segredos que esconde,

Daquele que se reflete, único.

Os olhos são belas preciosidades

Que falam de nós, sem que

Possamos imaginar a extensão.

Os olhos são belos, porque

Aquela que os anima

É expressão e promessa

Do ato de amar. Nos olhos!


Tua Nudez

 



 

Tua nudez encanta meu existir.

Tua pele, uniforme,

convive com as nebulosas

como forma de beleza infinita e universal.

Gosto das formas,

gosto do gosto,

gosto do brilho,

gosto do cheiro!

Gosto ainda mais,

de toda a nudez que se expande de ti,

que expõe tua alma e faz brilhar o dia

como um clarão de energia,

de paz,

de alegria!

Gosto de tua nudez

que me envolve e me acaricia,

tornando-me todo e inteiro teu.

Gosto de tua nudez,

como gosto de cada parte

em si e por si!

Gosto de tua nudez

como parte de mim,

gosto de tua nudez

como encantamento e magia!

Gosto de tua nudez como poesia!

Gosto de tua nudez

como prelúdio do gozo,

que quero,

seja tua assinatura

sobre a página de nossa história!

Gosto de tua nudez,

simples assim!

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Queria, escrito

 



 

Queria ter escrito,

Aquele verso cheio de ternura,

Queria ter escrito,

Aquela mensagem verberada de amor.

 

Queria realmente ter percebido,

A necessidade que tinha,

De dizer uma única coisa, todas as coisas,

Feito palavras, feito monumento.

 

Queria apenas que permanecesse,

Em mim e em você, a verdade daquele momento,

Aquele, em que eu queria ter escrito,

Sobre tua pele, tudo que sentia.

 

Queria ter escrito,

Com ânsia, com sofreguidão,

Todos os sentimentos que me assolavam.

Queria ter escrito, com tuas mãos.

 

Queria ter escrito,

Cada palavra que me assombrava,

Que em mim transbordavam,

Sobre a pele que te cobre.

 

Queria ter escrito,

Toda a lembrança que me cai

Em cada momento que vivo

Sobre nossa verdade de existir.

 

Queria ter escrito,

Todo um poema,

Toda uma verdade,

Que resumisse você.

Promessas

 



 

 

Sinto uma felicidade imensa,

Quando habito em você,

Fiz muitas promessas, todas elas,

Tão absolutamente verdadeiras,

Que seria incapaz de não as realizar.

 

Fiz tantas e muitas promessas,

Que foram extraídas de tão fundo,

Que foram a expressão tão sentida,

De tudo que existia naquele momento,

De ter você em tudo, toda em mim!

 

As promessas continuam lá,

Onde foram prometidas, ainda,

São verdades absolutas, sentidas,

São dores e feridas não realizadas,

São ainda promessas, a serem cumpridas.

 

Promessas, são mais que tudo,

Manifestos permanentes da vontade,

E mesmo que seja insuficiente o sujeito,

É mais que realidade e pleno o sentimento,

Que faz da promessa verdade.

 

Promessas, prometo e prometido está,

Temos de ser capazes de as fazer, mais uma vez,

Tantas vezes, quanto seja necessário,

Para que possamos concretizar,

Na vida que nos resta prometida.

sábado, 31 de dezembro de 2022

Novo Ano

 


 

De fato, um dia não é 31 de dezembro e outro 1° de janeiro.

Todos convencionamos chamá-los assim, e apenas,

Enquanto todos aceitamos a convenção é que temos

Um Ano Novo para comemorar.

 

É apenas porque aceitamos acreditar uns nos outros,

Aceitamos o que cada um e todos concordam,

Que é possível comemorar um dia como o da Paz Mundial,

Mesmo que haja guerra em tantos lugares improváveis.

 

Sentimo-nos tão cansados, tão exaustos nos finais de anos,

Talvez porque tenhamos tanto a pensar nas festas familiares,

Porque tenhamos que nos preocupar com o sentimento e com a lembrança,

De cada um e de todos que fazem parte de nossas vidas.

 

De repente, começa um “novo ano” e nossas energias se renovam,

Reencetamos promessas, nos propomos começar outras tarefas,

Fazemos juras de amor, fazemos compromissos de fidelidade,

Tentamos nos emendar novamente em nossas fragilidades.

 

Pensamos em sucesso, felicidade, realização, como possíveis,

Apenas porque um dia mudou, porque a terra girou mais uma vez,

Desapercebida de qualquer sentido, em torno de seu eixo,

E nos brindou com o teatro do nascer e do pôr do Sol.

 

Nosso pensamento mágico, que dá concretude ao movimento,

Do nosso planeta em torno do Sol, entende que algo se reinicia,

Que algo acontece para além da experiência sensível,

E este algo magicamente recebe o nome da Ano Novo.

 

Assim, para todos nós que acreditamos que amanhã será 2023,

Da nossa era comum, porque Dionísio Pequeno calculou errado,

O nascimento do Deus menino, que construiu uma civilização,

Que se mundializou, que se tornou padrão de medida do tempo.

 

Assim, para todos nós que acreditamos que amanhã será um novo ano,

Que será prenhe de novas promessas, novos sentidos, novas ideias,

Para todos nós que acreditamos no amor, na sensibilidade, na leveza,

Para todos nós, Feliz Ano Novo, que venha a Felicidade merecida.

 

E sinceramente, a imerecida também, porque a vida não é feita

De méritos, de sentidos, de razões, de obrigações, de deveres,

A vida é feita apenas e tão somente de tudo que desejamos e realizamos,

Cujo sentido é atribuído a cada nascer do Sol. Felicidades então. 


Feliz Ano Novo! Feliz 2023! Tim-tim!