Beatriz é uma mulher bela, sensual e inteligente, tem
os cabelos louros, os olhos de um azul encantador, um sorriso de madona
renascentista, e seu andar provoca todos os bons e maus instintos dos
homens. Nasceu para ser bela e para ser
feliz.
Porém, como sói acontecer na história dos homens e
mulheres, que existem de fato, e não apenas nos contos de fadas, Beatriz vivia
a procura de sua outra metade, não de uma laranja, mas de um caminhão delas, já
que ela era o sonho encantado de todo príncipe em busca do beijo derradeiro,
antes do final feliz.
Inteligente e capaz de ocupar todo um sonho de beleza
impar, Beatriz saiu pelo caminho da vida a existir e procurar o seu príncipe
encantado, talvez nem tão príncipe e nem tão encantado, mas que fosse seu.
Encontrou certo dia, um homem, Pedro, que por ela se
apaixonou, e que se encantou por cada detalhe, por cada pedaço de existência
que era preenchido por ela. O único problema é que viviam mais de 400
quilômetros um do outro, o que de fato era um tropeço em suas perspectivas.
Encetaram então um namoro epistolar, com todas as
formas de trocas possíveis, apenas não as nuvens de fumaça, porque já
desnecessárias. Cansaram de ir e vir no caminho entre as cidades, a ponto de
terem dado nomes particulares e só seus a cada curva, reta, bosque e árvore da
estrada, porque aquele caminho fazia parte de suas histórias.
Com o tempo, o príncipe, digo Pedro, começou a
reprovar-lhe os belos vestidos, os sapatos que lhe adornavam os pés, as
discretas maquiagens que lhe acentuavam a beleza, o que poderia ser normal, na
medida em que, os homens apaixonados são sempre muito inseguros. No entanto,
ela suportava mal e acreditava que quando vivessem juntos, ele mudaria um
pouco, ela outro pouco, e ambos se encontrariam num meio termo, que pudesse
permitir uma vida encantada, como havia se prenunciado 6 messes antes.
O amor a tudo ilude e a tudo parece superar, mas, se
Pedro queria que ela parecesse com uma “crente”
e ela o havia encontrado como Madonna, o meio termo poderia ser algo
como um filhote de jacaré com cobra, ou
seja uma jacabrinha, ou ainda uma cocaré. De certeza, conceberíamos algo que
poderia estar entre o brilho e o nada.
Mas, ela insistiu, porque ele era muito sério,
circunspecto, determinado, tanto que se fizéssemos dele uma foto para o Face,
mais se pareceria com o príncipe Bismarck do que com o belo William, esposo de
Kate.
Mas mesmo assim, ela acreditava, porque acreditava em
Papai Noel, em Coelhinho da Páscoa e também na velhinha de Taubaté.
Insistiu de maneira
pura e determinada naquele profundo sentimento que tinha por Pedro, sem
levar em conta os 400 quilômetros, que afinal nada significavam. Ele marcava e
desmarcava o casamento, como quem marca uma ida ao barbeiro, e os homens, como
todos sabemos, só vão ao barbeiro quando já parecidos com o Bozo. Eu disse
homens, não metrossexuais.
Vai daqui, vai de lá, chegou enfim o momento de casar,
e Pedro ficou muito feliz de levar a bela Beatriz ao altar. Após as juras de
praxe na frente do pastor, porque não eram católicos, sentiram-se plenos de
certeza do amor que tinham, ele por ela, pensando que ela nunca ia mudar, mas
desejando que ela mudasse tudo, e ela imaginando que ele ia mudar, sem saber
que os homens não mudam, ou se mudam, mudam para pior.
Passados alguns anos, encontramos Pedro, muito
contente com o nascimento de sua filhinha, Suzana, e perguntamos, como estava
Beatriz.
-
Quem, Beatriz?
-
Sim, a sua
esposa...
Descobrimos então que Pedro já se casara mais duas
vezes, e que Beatriz era agora esposa de um médico, pelo que sabia, e que ela
parecia uma piranha, por isso havia casado com uma mulher mais velha, que o
fazia feliz.
Estranho este amor, amor tão lindo, o que aconteceu.
-
Ah! –disse-me
Pedro - quando percebi que Beatriz não
entendia o que eu desejava, fui entristecendo, e a hoje minha esposa me
consolou...
Sempre assim, o amor é lindo, apenas nos contos de
fadas, apenas enquanto nos enganamos para descobrir que na realidade temos muitas diferenças e poucas semelhanças, e que não sabemos muitas vezes, amar o outro, tal qual é e tal qual era ao nos apaixonarmos por ela.
Mas, sempre é possível ser feliz, e é encantador saber que a felicidade está sobre os lençóis de nossas camas, que ficam manchados com a presença do desejo.
Mas, sempre é possível ser feliz, e é encantador saber que a felicidade está sobre os lençóis de nossas camas, que ficam manchados com a presença do desejo.
Se os lençóis não amanhecerem manchados, amarrotados,
furados, enfim, tão desalinhados quanto o nosso desejo pelo outro, o amor pode
ser lindo, mas o casamento é uma ....
Enfim, Beatriz viveu um grande amor, depois outro e ainda outro, e Pedro vive ainda a esperança da beatitude, onde só há lugar para o desejo, o
conflito e a paixão!
Mas esta é a vida dos homens e das mulheres.