número Zero
Umberto Eco
Sinopse
Um grupo de redatores, reunido ao acaso, prepara um jornal.
Não se trata de um jornal informativo; seu objetivo é chantagear, difamar,
prestar serviços duvidosos a seu editor. Um redator paranoico, vagando por uma Milão
alucinada (ou alucinado numa Milão normal), reconstitui cinquenta anos de
história sobre um cenário diabólico. E, nas sombras, a Gladio, a loja maçônica
P2, o assassinato do papa João Paulo I, o golpe de Estado de Junio Valerio
Borghese, a CIA, os terroristas vermelhos manobrados pelos serviços secretos,
vinte anos de atentados e cortinas de fumaça - um conjunto de fatos
inexplicáveis que parecem inventados, até um documentário da BBC mostrar que
são verídicos, ou que pelo menos estão sendo confessados por seus autores. Um
perfeito manual do mau jornalismo que o leitor percorre sem saber se foi
inventado ou simplesmente gravado ao vivo. Uma história que se passa em 1992,
na qual se prefiguram tantos mistérios e tantas loucuras dos vinte anos
seguintes, enquanto os dois personagens acreditam que o pesadelo terminou. Uma
aventura amarga e grotesca que se desenrola na Europa do fim da Segunda Guerra
até os dias de hoje.
Como penso:
A novela recente de Umberto Eco evoca episódios reais da
história recente da Itália, como a operação Gladio, o caso da loja maçônica P2, o assassinato do papa João
Paulo I, o golpe de Estado de Junio Valerio Borghese e os atentados terroristas
manobrados por serviços secretos, e com isso, Eco desenvolve a trama pelo ponto
de vista de Colonna, um ghost writer
mais ou menos fracassado que aceita um emprego no jornal “Amanhã”, periódico criado por um magnata da
mídia não para informar, mas para difamar, manipular, caluniar, chantagear e
amedrontar adversários políticos.
Eco, de forma brilhante, inspirou-se em um personagem real,
Carmine Pecorelli, que editava um boletim de notícias que era enviado a um
público seleto de poderosos, acenando com a divulgação notícias constrangedoras
e em função disso, acabou sendo assassinado.
A ação do romance se passa em Milão, em 1992, ano marcado
pela eclosão de escândalos de corrupção, mas também pelo início da operação
“Mãos Limpas”, que colocou no banco dos réus políticos e influentes e
empresários poderosos, implodindo o sistema político do país.
Para explicar a ambientação da novela, em entrevista recente,
Eco explicou: "Elegi 1992 para situar o livro porque nesse momento houve
esperança, nasceu a operação 'Mãos Limpas' e parecia que tudo mudaria, havia a
luta contra a corrupção, mas chegou Berlusconi e as coisas aconteceram
exatamente ao contrário".
Mas “Número zero” não é somente uma crítica aos vícios do
jornalismo sensacionalista e manipulador: Umberto Eco aponta o dedo para os
vícios que cultivamos dentro de nós, e que permitiram chegarmos a esse ponto,
mais do que isso, Eco denuncia e nos alerta sobre a precariedade da informação,
de como é possível manipular a verdade ao sabor de interesses que não são os de
comunicar, resultando inclusive, na possibilidade de matar ou morrer pelo
conteúdo do que se quer informar.
Um livro brilhante, uma obra fantástica e agradável. Como já
dito, Show!