Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

número Zero






número Zero
Umberto Eco


Sinopse

Um grupo de redatores, reunido ao acaso, prepara um jornal. Não se trata de um jornal informativo; seu objetivo é chantagear, difamar, prestar serviços duvidosos a seu editor. Um redator paranoico, vagando por uma Milão alucinada (ou alucinado numa Milão normal), reconstitui cinquenta anos de história sobre um cenário diabólico. E, nas sombras, a Gladio, a loja maçônica P2, o assassinato do papa João Paulo I, o golpe de Estado de Junio Valerio Borghese, a CIA, os terroristas vermelhos manobrados pelos serviços secretos, vinte anos de atentados e cortinas de fumaça - um conjunto de fatos inexplicáveis que parecem inventados, até um documentário da BBC mostrar que são verídicos, ou que pelo menos estão sendo confessados por seus autores. Um perfeito manual do mau jornalismo que o leitor percorre sem saber se foi inventado ou simplesmente gravado ao vivo. Uma história que se passa em 1992, na qual se prefiguram tantos mistérios e tantas loucuras dos vinte anos seguintes, enquanto os dois personagens acreditam que o pesadelo terminou. Uma aventura amarga e grotesca que se desenrola na Europa do fim da Segunda Guerra até os dias de hoje.

Como penso:

A novela recente de Umberto Eco evoca episódios reais da história recente da Itália, como  a operação Gladio, o caso da  loja maçônica P2, o assassinato do papa João Paulo I, o golpe de Estado de Junio Valerio Borghese e os atentados terroristas manobrados por serviços secretos, e com isso, Eco desenvolve a trama pelo ponto de vista de Colonna, um ghost writer mais ou menos fracassado que aceita um emprego no jornal  “Amanhã”, periódico criado por um magnata da mídia não para informar, mas para difamar, manipular, caluniar, chantagear e amedrontar adversários políticos.
Eco, de forma brilhante, inspirou-se em um personagem real, Carmine Pecorelli, que editava um boletim de notícias que era enviado a um público seleto de poderosos, acenando com a divulgação notícias constrangedoras e em função disso, acabou sendo assassinado.
A ação do romance se passa em Milão, em 1992, ano marcado pela eclosão de escândalos de corrupção, mas também pelo início da operação “Mãos Limpas”, que colocou no banco dos réus políticos e influentes e empresários poderosos, implodindo o sistema político do país.
Para explicar a ambientação da novela, em entrevista recente, Eco explicou: "Elegi 1992 para situar o livro porque nesse momento houve esperança, nasceu a operação 'Mãos Limpas' e parecia que tudo mudaria, havia a luta contra a corrupção, mas chegou Berlusconi e as coisas aconteceram exatamente ao contrário".
Mas “Número zero” não é somente uma crítica aos vícios do jornalismo sensacionalista e manipulador: Umberto Eco aponta o dedo para os vícios que cultivamos dentro de nós, e que permitiram chegarmos a esse ponto, mais do que isso, Eco denuncia e nos alerta sobre a precariedade da informação, de como é possível manipular a verdade ao sabor de interesses que não são os de comunicar, resultando inclusive, na possibilidade de matar ou morrer pelo conteúdo do que se quer informar.
Um livro brilhante, uma obra fantástica e agradável. Como já dito, Show!