Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Silêncio






Quanto o silêncio pode dizer?
Falaria de meus medos?
Falaria de minhas angústias?
Falaria de minhas insuficiências?...

O silêncio é a voz atormentada,
Multívoca, tagarela, que não cala,
Falando de toda a angústia, de todo o medo.
Gritando minhas insuficiências até aniquilar,
Toda sorte de bem aventurança!

O silêncio não é falta, mas sobejo...
O silêncio é um dizer perdido na algaravia dos pensamentos!
O silêncio é um discurso desesperado, dito de forma tímida,
Que faz permanecer uma ligação opressiva com a dor da ausência!

Silêncio, uma tortura, que se repete,
Uma forma emasculada, viperina,
Que envenena a alma, faz desfalecer o crente!
Silêncio, como denúncia da presença...

Como vencer o silêncio que me esmaga,
Se a cada minuto, ele se faz mais pesado,
Se a cada momento ele marca em tons fúnebres,
O fim da existência, a morte em vida?

Néscios






A quem pensamos enganar,
A quem pensamos burlar,
A quem pensamos esconder...
A quem?

Somos todos néscios, não encontramos
Motivação, coragem, determinação,
A não ser em nossas vãs certezas,
Que se desfazem ao primeiro contato,
À primeira prova com a realidade...

Tolos, acreditamos que todos são iguais,
Mas somos tão diferentes, tão absurdamente estranhos,
Distantes em todos os sentidos e por todas as razões,
Somos tolos em acreditar,
Que podemos ser iguais.

Talvez a marca distintiva do humano,
Seja sua estupidez,
Seja sua capacidade inesgotável,
Atávica, infinita,
De se enganar!...

De Profundis






Das profundezas de minh´alma
Assalta-me um outro, pleno,
Pleno de angústia, de ansiedade,
De sofrimento sufocante, que me...
Paralisa, abate,
Que me contempla com um sorriso sardônico,
Aprazendo-se de meu sofrimento inaudível.

Das profundezas em que habita,
Dilacera-me a alma, devora-me,
Remove cada parte de mim, e a devora,
Gargalha com meu sofrimento, sorve lentamente,
Cada lágrima que não derramo, que contenho,
Apraz-se a cada instante, com a sensação de sufocar-me.

Das profundezas de mim...
Revolve-me até o último pensamento,
Rouba-me a humanidade, despe-me,
Espelha-me, deforma-me, grita-me,
Desesperadamente, solitário de mim,
Percebo que o que me devora, tem minha imagem,
Horrorizo-me. O que me resta?...

Das profundezas em que habito,
Nada me resta, a não ser permanecer acorrentado,
À dor de existir, de enganar-me,
Para ser assaltado, num momento qualquer,
Pelas certezas de uma angústia eterna,
Que me devora e me desvela,
Mostrando a eternidade de cada segundo,
Na infinitude do sofrimento que carrego...