A vida é
uma sucessão ilógica de acontecimentos,
Todos tão frouxamente encadeados que muitos,
Parecem permanentes e verdadeiros, imutáveis,
Mas a vida insiste em serpentear o universo,
De todas as vidas possíveis, de todos os sonhos
sonhados,
E assim, muito de repente, o caos se estabelece,
O tempo, não parece mais um tempo encadeado,
A idade, não parece mais um limitador para contar
a história,
E então, confundem-se a sucessão das causas,
Confundem-se numa explosão estrepitosa, as consequências,
E passamos a viver um tempo, não tempo,
Não existimos mais no encadeamento plausível,
Não conseguimos mais nos encaixar na sucessão dos
fatos,
E misturamos nossa vida com a do outro, e percebemos,
Que não faz mais sentido o tempo que vivemos,
E não percebemos a lógica da sucessão causal.
Sentimos uma necessidade imperiosa de recontar,
De reestruturar passado e presente em nova síntese,
Queremos ter filhos para além dos filhos que
temos,
Queremos fazer mil vezes amor, para além dos
amores que fizemos,
Queremos viver intensamente o momento do gozo,
para além
De todas as paixões,
De todas as sofreguidões.
De todas as explosões e estases vividos!
E então, temos de recontar o passado, para poder
viver este presente,
Temos de refazer memórias para incluir aquele que
dá novo sentido,
Para fazer sentido na vida que segue novos leitos,
novas imensidões!
Que podemos fazer se a vida é feita de encontros,
desesperados,
Desejados, intensamente buscados, para justificar
nossa existência?
Encontros, não são casuais, mas desejados,
planejados no futuro
Para dar sentido e concretude ao nosso passado!
E então toda razão se revela, no espaço intimo do
leito de amar,
Onde a parte melhor de mim se funde no mais belo
existir do outro!
E assim, vou vivendo intensamente esta ilogicidade
da vida,
Esta falta de sentido, que é vencida no encontro
do amado,
Que atribui sentido, inesperado, perturbado,
avassalador,
E que expõe o absurdo do tempo, o absurdo da causa
e do efeito,
Que ganha novo sentido no encontro, que desejo,
seja definitivo,
Para então poder, de forma acabada, reescrever minha
história,
Para incluir o outro, em cada lembrança, em cada
momento,
Para colorir com o outro, cada momento vivido,
dando novo sentido,
Atribuindo novo valor, a cada fato da vida
percebido como parte,
Do todo que me constitui como unidade, como
singularidade,
Neste existir, que sem paixão, não seria mais que
um suspiro insignificante!