Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Saiba

 



 

Saiba que quando os pássaros voam,

Voam para destinos sabidos,

Onde aguardam cantos,

Onde aguardam folhas,

Onde aguardam vidas,

Onde aguardam ninhos,

Onde se mostram penas,

Onde se mostram danças,

Onde o amor se faz necessário,

Para a conquista da felicidade,

Para a conquista da eternidade,

Na conjunção de duas vontades,

Na conjunção de duas almas,

O encontro de dois corpos,

De dois desejos,

E assim como os pássaros,

Saiba que voo para você,

Para encontrar nos teus olhos,

A luz que ilumina o horizonte,

Para encontrar o ninho,

Onde me faço plenamente,

Teu amante!

Dores

 



 

 

Tantas dores que sentimos,

Sem compreender sua natureza,

Sem entender suas origens,

Mas, umas trazem a doçura do amor,

Outras, os azedumes do desamor,

Todas elas, provas de nosso existir,

Porque só há de sentir a dor,

Aquele que vive para percebê-la,

Que vive para senti-la em plenitude,

Sabendo que ao respirar,

Dói um pouco mais, do que no repouso,

Dói um pouco mais, quando do soluço.

Mas, se temos dores, se as sentimos,

Vivos estamos para carrega-las,

Vence-las, tão somente,

Para poder sorrir e sentir,

O prazer de estar vivo,

De se encontrar novamente,

Com a esperança dos corpos,

Com a esperança do gozo,

Com a esperança do amor,

Que não acaba nunca,

Quando se tem toda uma vontade,

Toda uma boa vontade,

De existir, para amar!

Ilusão

 



 

 

O mundo é ilusão ou certeza?

Será meu sentir um ocultar?

Será o que sinto e penso,

Mera projeção de um demiurgo?

Que zomba de meu sofrimento,

Que zomba de minha alegria,

Ou que se entendia,

Com toda nossa miséria,

Com toda nossa angústia,

Com toda nossa limitação?!

 

Será então tudo que sinto?

A ilusão prometida como encanto!

A ilusão oferecida como promessa!

Será então tudo que vivo,

Mera aparência, que se esgota,

Assim, no dia ou na noite,

Em que suspiramos uma última vez?

 

Mas seja o mundo ilusão,

Seja o mundo uma certeza,

Levo do mundo, a sensação,

De que em minha humilde fragilidade,

Existi, amei, sofri, chorei, ri,

Que nessa sofreguidão,

Encontrei outros como eu,

Outros tão melhores que eu,

E assim, entendi a ilusão!

Como a promessa de um intervalo,

Entre dois nadas, para construir,

Um sentido, um pequeno sentido,

O de perpetuar, verdadeiramente,

O ato de amar, criador e criatura,

Seja lá, existirmos ou sermos,

Mera ilusão!

Uma manhã

 



 

 

Todas as manhãs,

São todas tão iguais,

Apenas, porque manhãs;

Mas uma manhã;

Pode ser promessa de muitas outras

Manhãs;

Mas também a última manhã,

Então façamos desta manhã,

Uma manhã tão única,

Como se fosse a última,

Sendo antes a primeira,

De todas as manhãs,

De uma vida longa,

Porque vivida, como eterna,

Vivida como infinita,

Vivida como amizade,

Vivida como amor,

Vivida como hoje e amanhã;

Vivida como manhã.

Hoje!

Luz

 



 

Fere os olhos a luz que surge com o dia,

Fere a alma o silêncio que dela emana.

Daquela luz distante que invade a alma;

Daquela luz distante que enche de sombras.

Tantos corpos, tantas almas,

Luz, luz que ilumina, mas ensombrece,

Luz, que alumia, mas que esconde,

Luz, que empalidece pelo ofuscamento,

Luz, que irradia, quando entorpece,

Os sentidos feridos pelas curvas do teu corpo!

Fere os olhos a luz que surge com o dia,

E todos os seres acordam para mais um dia,

Escolhem a vida, negando a morte,

Energizando corpos, acendendo almas.

Mais um dia, iluminado pela luz,

De um astro tão distante,

Em cujo tempo..., oito minutos,

Basta para imaginar, toda a sombra,

Que existiria, não fosse a luz, tão medonha,

Cegar-me para tudo que não quero ver.

Luz, encantamento surgido, do sim predito.

Fere os olhos, esta luz que surge, com os dias!

Nada

 



 

Estou quase todo vazio,

Vazio de você, vazio de mim,

Vazio de tudo que importa,

E quanto mais vazio, mais pleno,

Pleno de um nada, abissal,

Que só faz sentido na solidão,

Que vivo, assim, desesperadamente,

Quando estou todo vazio,

Vazio de você, vazio de mim,

Vazio de tudo que importa,

Mas quanto mais vazio,

Mais pleno de um nada,

Abissal, estupendo, magnífico,

Que torna o vazio, pergunta,

Que torna o vazio, resposta,

Que torna o vazio, solução.

Estou quase todo vazio,

E quanto mais vazio,

Quanto mais escuro,

Quanto mais abissal,

Mais plenamente eu,

Mais desesperadamente eu,

Mais pleno da certeza,

Que desse vazio, emerge,

Um não sei que de existir,

Infinito, eterno, permanente,

E vazio, percebo que nada,

Nada me faz mais eu, que

Inexistir em você...

Demais

 



 

Demais,

Demais,

Mais que demais,

Experiência do belo,

Que encantamento faz!

 

Demais,

Repeti,

Assombrado pela beleza,

Que é encantamento,

Vivido apenas,

Na relação com o olhar,

Perdido nas profundezas,

De cada alma,

Vislumbrada,

Apenas um instante,

Não mais,

Quando contemplado,

Nas profundezas do mirar.

 

Demais,

Que demais,

Experimentar esse viver,

Apenas para tocar,

Apenas para sonhar,

Apenas para pensar,

Apenas para viver,

E então, derreter,

Desmanchar,

Extenuar-se,

Mais, que demais,

Apenas para dizer,

Sem palavras,

Num silêncio,

Interrompido,

Por um grito surdo...

 

Deus.

Feliz Ano Novo! Feliz 2025!




Cosmos... o Cosmos simplesmente não percebe, porque inexistente, a passagem do tempo, que é medida nossa. Mas... exatamente por que nossa, é única, faz promessas, traz esperanças, renova energias, enfim, entorpece nossas tristezas e abre alas a nossas alegrias e desejos. Impassível o relógio vai marcando um tempo que só faz sentido, quando vivido, como passagem, como transcendência. Hoje, podendo ser qualquer outro dia, convencionamos, todos nós, é 31 de dezembro. Amanhã, primeiro de Janeiro, do deus Janus, o bifronte que vê o passado e o futuro. Alvissaras ao novo ano, ao novo dia, às novas esperanças, às novas lutas, aos novos enfrentamentos e à escolha de viver e dar sentido a cada dia, cada novo dia, que nada mais é que mais uma volta que a Terra dá em torno de seu eixo, para mais 365 dias, terminar mais uma volta em torno de nossa estrela. Mais um ano, mais 365 promessas a se realizarem. Felicidades, sucesso, destemor, muita champanhe, alegria, ternura e felicidade neste dia, em todos os dias, pela eternidade do que vivemos. Feliz Ano Novo!!