Morte, vai encontrar os trovadores
Que cantam amores vãos
Ensina-lhes, ó morte, a cantar
Como quem passa seus dias
Completamente fora do mundo
Para que não os faça cair.
Morte, tu sabes enfeitiçar
Aqueles que teu canto sabem cantar
E que temem a Deus noite e dia,
E um coração que tal fruto
Pode gerar, em verdade,
Zomba bem, morte, tuas peças.
Estes
versos são de Hélinand de Froidmont,
que viveu no século XII, no período em que a morte começa a ser imaginada como
o cavaleiro que, munido de um maço ou uma ceifadeira, caminha pelo mundo
colhendo as almas, tentando recolher o máximo de humanos que incautos, deixaram
o tempo e a vida correrem, apenas preocupados com o canto da morte. Não, não
precisamos pensar na morte, nem saber-lhe os cantos, porque para nós, os vivos,
ela não existe, não está aqui e não estará, enquanto em nossa alma habitar o
amor, o verdadeiro amor que beatifica cada dia, que transforma cada despertar
numa escolha, que torna a vida dádiva agradecida, em cada dia, em cada momento
em que percebemos que existir é um privilégio, único, que se esgota a cada
suspiro, a cada piscar de olhos, a cada momento que nos aproxima do derradeiro
movimento de respirar, que não sei onde está, nem o quero saber, mas que estará
logo ali, onde nem apenas imagino que esteja. A morte é antes de tudo, um
irredutível convite à vida!
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