Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Notas






Viajo nas notas,
Das músicas que tocam,
Que invadem o meu tempo,
O meu espaço,
O meu sentir!

Nada sou sem este ritmo,
Sem estas notas que me invadem,
Vozes brancas,
Vozes negras,
Vozes amarelas,
Indistintas.
Porque falam à alma,
Toda nossa alma,
Sem cor,
Sem raça,
Sem tempo,
Apenas um existir,
Desesperado e ansioso,
Por mais um dia,
Por mais uma chance,
Por mais uma possibilidade.

Quero existir para além de mim,
Quero permanecer para além de mim,
Quero tudo o que não posso,
Porque tenho em mim,
A humanidade que não encontra limites,
Em seus tão estreitos limites.

A música é a forma de transcender,
Não importa que não haja amanhã,
As notas hão de se repetir,
Infinitamente no universo,
Para além do universo,
Reverberando todos os nossos sentimentos,
Todas as nossas mágoas,
Todas as nossas ansiedades!

Quero desaparecer num instante,
Que seja uma eternidade,
Desaparecer simplesmente,
Numa nota, que se repita,
Por toda a eternidade,
Cantando a simplicidade de minha,
Alma,
Minha natureza,
Pobre e pequena permanência,
De um ser tão insignificante,
Que é eterno,
Todo na música,
Que o invade,
Que dele parte,
Apenas para inutilmente,
Prolongar uma vida,
Que não tem objeto,
Não tem sentido,
Não tem razão,
Mas que se perpetua,
Nas notas musicais,
Nas cores que delas partem,
Nos enlevos que vivemos,
Intensamente, invadidos,
Pelos sons, inexplicáveis,
Que têm mais força,
Que o vinho,
Que a tristeza,
Que a alegria!

Quero partir numa nota,
Quero ter a graça, de não partir,
Em silêncio!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Mais Vida






Queremos viver mais,
Queremos morrer muito velhos,
Mas parecendo muito jovens,
Vivemos a insanidade do desejo,
De não morrer!

Mas vivemos mal o que temos,
Vivemos desejando o que não temos,
Vivemos desprezando o que temos,
Queremos muitas coisas das quais não necessitamos,
Necessitamos de muitas coisas que não queremos,
Vivemos imaginando um eu,
Que é outro eu,
Que não o nosso!

Vivemos imaginando uma eterna juventude,
Juventude que é só ansiedade,
Medo, insegurança, sonhos,
Que nunca se realizaram.
Não como gostaríamos que tivessem se realizado,
E se realizados, carregamos o peso de todas,
As nossas dores,
De todo nosso medo,
De toda nossa insegurança,
Da necessidade de competir,
Da necessidade de destruir,
Da necessidade de aniquilar o que...
Se interpõe entre a conquista...
E seu usufruto,
Mas não vemos,
Quão inexorável, é perder tudo,
Porque tudo acabará no momento,
Sublime momento,
De morrer!

Queremos viver muito,
Queremos rejuvenescer muito,
Apenas para parecermos,
O que não somos, 
Nem nunca poderemos ser!

A eternidade não é sequer,
Uma possibilidade do Universo,
Que marcha silencioso,
Inexorável,
Para seu ocaso!

Não quero viver mais,
Quero viver o que me for dado,
Quero amar, o que me ama,
Quero existir, para meu existir,
Quero encarar meu ocaso,
Como um ocaso necessário,
Como um ocaso maravilhoso,
Como um ocaso que me faz humano,
Porque sentido,
Porque percebido,
Porque consciente,
E assim, mais humano,
Não quero resisti-lo,
Não quero falsificá-lo,
Não quero desejar outro,
Curso para a vida,
Que não o curso que leva para a morte.

Não quero desejar mais do que tenho,
Quero ter o que desejo,
Mas desejar apenas o que tenho,
Todo o resto não me faz falta,
Basto-me, na existência que tenho,
E se um dia,
Não me bastar,
Porque incapaz de ter,
De desejar,
O que me basta para existir,
A porta da frente,
Estará sempre oferecida,
Para sair da vida,
E não entrar para a história,
Ou na eternidade,
Mas apenas habitar,
O panteão do certo,
O panteão do líquido,
O panteão do que deve ser!

Viver mais, para quê?
Apenas e tão somente para amar,
O mar, o ar, o luar, o tempo,
De poder amar,
A amada que habita meus sonhos!

Não quero mais viver,
Do que a vida se me ofereça,
Com toda sua beleza,
Com toda sua crueza,
Com toda sua verdade!

Viver mais, tão somente hoje!