Choro
desesperadamente tua ausência. Tua ausência em mim, desejada,
consentida, buscada para além do meu desejo, para além do meu
querer.
Minha
beleza rejeitada como peso, como dever de conservação, uso-a para
te seduzir, para te perturbar, para te atrair, mas o que fazes, é
antes, mostrar-me a insignificância de minha existência, uma
existência que se arrasta entre um ato de amor e outro, como apenas
e tão somente orgasmos perdidos em tempos comprimidos entre
ausências.
O
silêncio a que me forças, o silêncio a que me condenas, se
expressa no choro que marca meu rosto, que faz meus olhos inchados,
que me curva sobre mim mesmo, como que, buscando lamber as feridas
que teu desprezo e ausência vão produzindo em meu corpo.
Abro
mão de minha intimidade, escancaro minha privacidade, desfaço da
dignidade de meu corpo e não consigo mostrar o quanto me fazes bem,
por me fazeres mal. Não me compreendo, não consigo compreender de
forma clara, que se estivesses a meu lado, enchendo-me de carinho,
enfadaria-me tua presença, repulsaria-me tua má consciência e tua
desfaçatez.
Caminho
para o abismo, certa de que eu o procuro e o realizo em minha louca
certeza do afeto que te tenho, sem que este afeto não me traga outra
coisa, que um sofrimento sem sentido, uma desdita que marca meu
desamor, antes por mim do que por toda a humanidade.
Pelas
ruas chamam-me a atenção uma imagem negativa, em oposição, ao que
me pode amar, como uma condenação perpétua ao sofrimento e à
solidão, que acarinho como se fosse minha própria forma de
expressar meu existir.
Meu
choro, que encharca minha alma de dores, é o lamento de não me
aceitar como livre e solitária até a condição de uma condenação,
de um desesperador existir vão e estéril.
Não
creio que sou capaz, porque sou capaz de não acreditar na verdade
que se abate sobre minha existência, que marca meu corpo e minha
alma, deixando neles sulcos e cicatrizes, causados pelos açoites que
permito, outros que pensei amar, lançar sobre minha ensandecida
existência.
Mas
sei que em algum ponto deste existir, há um momento em que existirei
para além dos sofrimentos, e neste ponto, estarei pronta para gozar,
amar, beijar e enlouquecer de amor, como se fosse a única e última
vez, até um suspiro final.
Porque
amar é morrer!
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