Muitos
homens e mulheres passaram toda a vida buscando o seu objetivo
primeiro ou último. Muitos filósofos e filósofas gastaram rios de
tinta discutindo a natureza humana. Muitos de nós nos questionamos
sobre o sentido da vida, do tempo, dos afetos, de tudo quanto fazemos
e pensamos.
Tão
doloroso é perceber que toda esta energia foi dispensada sem
qualquer proveito, porque não há natureza humana. Não há
objetivo, seja primeiro ou último na vida que não seja a própria
vida!
Por
quê nos questionamos tanto sobre nossos pensamentos e nossas ações
e não sobre suas consequências para a existência da humanidade?
Os
muçulmanos estão a nos ensinar o verdadeiro valor da religião, que
é a de unificar distintas tribos do primata humano, todos sob uma
mesma crença, dando sentido e objetivo para suas vidas, já que tão
perdidos e solitários numa população imensa, informe, desunida e
autopredadora.
O
radicalismo islâmico é tanto mais incompreensível ao ocidente,
quanto mais sincero, mais íntimo, porque ele faz com que o fenômeno
religioso volte a ser o que era em sua origem, o reconhecimento e
pertencimento a uma tribo.
Enquanto
isso no Ocidente, pertencemos a tantas tribos, a tantos grupos, que
nossa identidade amorfa não nos permite mais sermos intolerantes.
Mas isso nos enfraquece, porque já não temos unidade, ou qualquer
fenômeno ou ideia que seja capaz de galvanizar nossa identidade
comum para se contrapor às tribos cuja religião é o traço de
união radical.
Talvez
antes de pensarmos em natureza humana, em objetivo da vida, devamos
nos preocupar em buscar elementos de identificação e os levemos à
radicalidade.
O
laicismo é fundamental no Ocidente, é ele que nos permitiu não
queimar bruxas e hereges em fogueiras, nem buscar pela guerra
eliminar os crentes de outras religiões. Outro aspecto fundamental é
a democracia liberal que está a buscar novos fundamentos, e que
garantiu a prosperidade e a sociedade que todos criticam, mas que
desconfio, ninguém em sã consciência gostaria de se desfazer.
Queremos
liberdade, queremos vida com menos Estado, menos impostos, menos
guerras, menos fanatismos! Temos de buscar identificar um traço que
nos una numa grande tribo de resistência aos fundamentalismos
religiosos, aos evangelismos, ao islamismo e ao estado teocrático
israelense.
Somos
contra fronteiras, somos contra o não reconhecimento do mérito,
somos a favor da liberdade como princípio fundamental de toda a
sociedade humana, e se há algum direito mais inalienável que a
vida, este direito é a liberdade. Todo atentado contra a liberdade é
um atentado contra toda a humanidade, contra a vida em suas mais
distintas formas é antes de tudo uma violência contra a VIDA em
absoluto.
Façamos
da LIBERDADE uma religião, que nos permite tolerar tudo e todos, que
permita a sobrevivência das diferentes e irredutíveis tribos neste
pequeno e insignificante planeta. Acredito que esta seja a única
razão para que se permita o diferente, o radicalmente distinto de
mim.
Não
faz a menor diferença dizer que Deus é um só, que todos são
irmãos, que todos somos filhos da mesma divindade, se acreditamos
que Deus, ao se chamar Iavéh, Jeová, Ala ou Jesus, não só não é
o mesmo como autoriza que nos matemos de forma abjeta, apenas porque
seu nome é diferente, como se não fosse o mesmo. Como não é o
mesmo!
Mas
o anseio da liberdade de existir, de ser livre para acreditar e não
acreditar, para fazer e deixar de fazer, para sustentar templos ou
derrubá-los é absolutamente igual em cada um e em todos os primatas
humanos.
Sejamos
livres para defender a dignidade dos bonobos, chimpanzés, gorilas,
orangotangos, nossos primos ontológicos, sejamos livres para olhar
nos olhos de nosso cachorro e encontrar no fundo deles uma igual e
profunda dignidade, e direito à vida, como temos todos!
Transijo,
sou capaz de tolerar o que quer que seja, desde que não me roubem a
liberdade de ser livre, a liberdade de pensar a liberdade!
Não
temos objetivo algum, não temos finalidade alguma, não somos imagem
nem semelhança de coisa alguma, não temos um caminho progressivo ao
Nirvana, nem temos ao final paraíso ou inferno, mas com certeza
temos esta pequena e delicada vida, preenchida de uma solidão e de
uma liberdade radicais, vamos nos unir numa única e imensa tribo, de
primatas humanos que amam a liberdade.
Liberdade
de amar, liberdade de viver sem medo, liberdade de viver sem
governos, liberdade de produzir sem regulamentos estúpidos,
liberdade de ir e vir pelo mundo, sem que reconheçamos fronteiras
artificiais que apenas projetam nos homens ódios tribais
incompreensíveis, liberdade que nos torne mais fiéis a um único e simples mandamento, o amor à VIDA.
Liberdade
único princípio que não pode ser modulado, afastado e
amesquinhado. Liberdade como traço indistinto entre o humano e toda
a natureza que o cerca.
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