Ando pelas ruas,
pensando no que devo fazer, no que tenho que fazer, no que quero fazer, e
descubro que não há qualquer sentido, mesmo que buscado e esperado.
Vejo uma multidão de
anônimos circundantes, todos desconhecidos, todos ensimesmados, todos buscando
um sentido que não existe, buscando algo onde não há nada para ser achado,
todos correndo atrás de um tempo que é mera convenção, sem perceber que nada há
para ser perseguido, conquistado, vivido...
Escuto música, uma
música que vem de outros tempos, onde outro eu era e sonhava com outras coisas
que não mais ouso sonhar. Ouço as músicas com o prazer saudoso de um tempo que
não mais existe, de uma alegria, de uma juventude que foi, para não mais
voltar. Ouço as músicas que me prometiam tanta energia, alegria, conquista e
ação, que se frustraram num mar de obrigações, compromissos, valores
alienígenas à minha alma.
O país que percorro
traiu sempre, e tal como algo previsível, permanece traindo todas as promessas
de que um dia viveria bem, sem inflação, sem juros altos, sem correção
monetária, sem o descalabro de um sistema político ilegítimo e injusto.
Continuo a viver num país de fancaria, onde a banda permanece passando para
gáudio da patuleia, para o entorpecimento das consciências, onde todo jogo
político é magia para produzir mais sofrimento, desmando e desalento.
O futuro que nos
aguarda é nenhum, os que podem, partem destas terras onde não mais canta o sabiá,
nem a arara, nem o canário, onde o que canta são as aves de agouro, cantando o círculo
vicioso do país do futuro que fica sempre num futuro cada vez mais distante.
Caminho pelas ruas como
se fossem leitos secos de rios extintos há muito na memória do tempo, onde só
há pedras e poeira, onde não mais existem peixes, onde não mais encontro
esperança. São como veias ressecadas pela violência da divisão provocada e
fomentada pela esquerda vil, que se apropriou de nossas consciências.
Não me sinto culpado
pelas misérias que assolam meu país, sinto-me antes vítima dos discursos
segregacionistas, revolto-me com o retorno do conceito de raça, repugna-me as
clivagens artificialmente criadas na sociedade de um país tão pobre.
Acreditei um dia que
viveria num país com inflação decente e moeda forte, depois de tanto desespero
vivido como consequência de um insano nacional desenvolvimentismo, dos
incapazes gerentes militares do Estado nas décadas de 70 e 80. Mas não tive
sorte, surgiu no país um salvador da pátria, um novo Dom Sebastião que sucumbiu
num novo Alcácer Qibir, agora feito de mensalões e petrolões. Não sem antes
reproduzir na nova matriz econômica todos os erros do nacional
desenvolvimentismo. Mas na sua jactância, plena de ignorância, não conseguiu
mais do que desfazer a promessa de um novo país.
Caminho pelas ruas como
se fossem as de Berlim em 1945, porque restam apenas escombros de nossas
esperanças, escombros da mensagem estúpida de que não deveríamos ter medo de
ser feliz.
Nossa sociedade armou
uma arapuca em que todos os nossos sonhos e esperanças são presos e devorados,
por um Estado gigante que só tem coragem de ameaçar e estraçalhar os homens de
bem, os que trabalham, que sonham, que constroem família, e privilegiam os
parasitas e os ideólogos de alienígenas pensamentos de esquerda.
A canícula que abrasa
este país nada mais é que a proximidade que chegamos das chamas do inferno de
Dante, onde todas as boas intenções das más consciências ardem na pira
gigantesca da corrupção, do desmando, da estupidez, da incapacidade, do
apadrinhamento, da insensatez e da cupidez.
Fossem outros os
homens, fossem outros os tempos, já teriam embarcado os mandatários para além
Oceano, para morrer em paz, longe destas terras. Mas qual um país às avessas,
mandamos morrer em Paris o mais honesto dos governantes, apegam-se ao poder os
mais corruptos.
Exércitos de insanos,
que se dizem movimento, permanecem ativos para ameaçar a liberdade e a
democracia, permanecem alertas para ameaçar a liberdade de pensamento,
embaralham impeachment com golpe, esquecendo que o poder, em última instância,
é poder do povo, que pode revogar a qualquer momento o mandato que concede.
Desalento... ando nas
ruas e penso: ...
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