Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ignoto






Ignoto, caminho sem direção,
Desconhecido, anônimo,
Impotente, crente na ação.
Digo-me que faço diferença,
Creio na diferença que faço,
Mas o mundo sublinha minha desrazão,
Acentua meu sentimento de perda,
Meu sentimento de perdimento,
Que se acentua perante um Estado,
Que me avilta, que me rouba,
Que me despreza, que me confunde.
Ignoto sou todo o tempo e tanto tempo,
Até que o Estado descobre que pode,
A qualquer tempo, esbulhar-me
De todo esforço, de todo crédito,
De todo trabalho, de toda esperança.
Vivo ignoto e anônimo,
Num país construído por migrantes,
Todos vindos para cá miseráveis,
Todos esperando aqui a redenção,
Que fez apenas construir, o sonho,
De salvar tudo, sem nada salvar!
Ignoto, anônimo, desarrazoado,
Acreditava na democracia,
Tão deslavadamente conspurcada,
Pela falta de legitimidade de toda,
Toda e qualquer representação,
Por que contaminada pelo vício original,
De ser apenas a reprodução,
Reprodução de um sistema espúrio,
Corrupto, corruptor, deformado,
De um mundo blindado para evitar,
Que aquele que vota, saiba em quem,
Saiba como e saiba por que vota.
Ignoto, anônimo, desarrazoado e desesperançado,
Vejo um país consumido por um Estado,
Que qual vampiro, consome o sangue à sociedade,
Consumindo-lhe o melhor de seus anos,
O melhor de sua energia,
Devolvendo apenas, populismo rasteiro,
Migalhas embandeiradas,
Ignorância disseminada e aplaudida,
Bolsas misérias que cativam famintos,
Bolsas misérias que perpetuam pobreza,
Bolsas misérias que tornam partidos campeões,
Campeões de votos nordestinos...
Culpado não é o ignorante que me rouba a esperança,
Que vota em Cunhas, Renans, Dilmas, Collors e Lulas,
Culpados são os que semeiam a ignorância,
Que estão instalados nos palácios,
Que estão instalados nas cátedras,
Pisam vermelhos tapetes, andam em carros de metros,
Que falam a língua da marquetagem,
Ou que nos seduzem com o discurso,
Pseudo-acadêmico, pseudo-filosófico, 
Que esperam apenas suas bolsas,
Seus salários e dedicações "exclusivas",
E articulam a compra das almas e das consciências.
Ignoto, lamentavelmente desperto,
Vejo que não há esperança,
Onde antes havia orgulho,
Que não há alternativa,
Onde antes havia possibilidade,
Ignoto percebo que roubaram meus sonhos,
Devolveram-me misérias,
Acenam-me com outras misérias,
Apelam-me por ajuda, para corrigir,
As mazelas por eles mesmos criadas.
Por que tenho que auxiliar a corrigir,
A quem só fez perder minha esperança?
Se for ajudar, não ajudaria um governo
Que fez perder o Estado em desmandos,
Em corrupção, em medo, em desalento.
Crer que pudesse eu, ignoto e anônimo que sou,
Dando mais de mim, sem qualquer retorno,
Rearranjar o estado de coisas em descalabro,
Seria mais um atestado insano de ignorância.
O que posso fazer eu, ignoto, anônimo, desesperançado,
Senão sangrar e ver o precipício,
De mais impostos, mais Estado,
Mais insanidade de uma esquerda vil,
Corrupta, populista e imatura?
Quero como ignoto, um Estado tão pequeno,
Mas tão pequeno que me permita viver,
Tão forte que me proteja do outro,
E que minimamente seja honesto,
Para além do político, para além do humano.
Ignoto, resta-me apenas sentar sobre o chão,
De um país roubado e vilipendiado,
Chorar todas as falsas esperanças,
Todas as promessas vãs,
Todas as desonestas biografias,
Todas as violações do mérito.
Ignoto, devo desacreditar,
Pela primeira vez, devo desacreditar,
E se eu, ignoto e anônimo, como outros milhares,
Passo a desacreditar,
Abrem-se as portas do Inferno,
Inferno das boas intenções,
Inferno dos salvadores da pátria,
Inferno das bolsas misérias,
Inferno da besta legiferante que...
Diz o que comer,
Diz o que beber,
Diz o que fazer,
Diz o que falar,
E por fim, busca...
Dizer o que devo pensar.

Ignoto eu em meu solitário desespero!

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