Era um país, que ficava
nos trópicos, tinha uma natureza exuberante, um vasto território, rico em
florestas, rios, minerais. Seu solo era rico, como também o seu subsolo, a
franja marinha prenunciava uma vocação de conquistas e de expansão.
Neste país de faz de
contas, sempre que o petróleo baixava no mercado internacional a gasolina subia
nos postos de combustíveis. Sempre que havia uma crise internacional, depois
que um governo progressista tomou o poder, nele se encarava como uma marolinha,
até se perceber um tsunami.
Neste país de faz de
contas, o combustível renovável subia quando subia o combustível fóssil, subia
quando era entressafra, subia quando não tinha outro motivo que a ineficiência
e o apadrinhamento dos usineiros, que eram por sua vez os dominadores da
política do nordeste, que volta e meia, tornavam o partido no poder, o maior
partido do ocidente.
Neste país de faz de
contas, o governante nunca sabia de nada, e isto fazia com que nunca na
história daquele país houvesse tanta corrupção, tanto desmando, tanta espoliação
do povo, que ao ver repetida mentiras todos os dias, por milhares de vezes,
sempre acreditavam na inocência dos culpados e sempre condenavam os inocentes,
o próprio povo, a sustentar um Estado burocrático, inchado, aparelhado e
ineficiente.
Ora, este país de faz
de contas criou o racismo oficial, as cotas que dividiam o país em estamentos
coloridos e econômicos, neste país abastecia-se o automóvel mais com impostos
do que com combustível, porque o que realmente fazíamos era trabalhar para
sustentar um sistema político parasitário.
Fazia-se tanto de conta
que em cada litro de combustível havia um imposto de mercadorias que equivalia
a mais de 40% do preço da bomba, sem contar os impostos da dita União, um
centro sanguessuga que espoliava a riqueza da periferia para distribuir aos
coronéis do sertão.
Contava-se para as
crianças estórias belas de fadas em que este país de faz de contas um dia seria
o país do futuro, mas o que restava na vida era apenas foi uma vez. Neste país
havia um dragão que volta e meia assolava a população e a economia, ajudado
pelos desmandos dos aparatchiks dos partidos da esquerda festiva ou dos grupos
reacionários da direita. Assim, não restava ao povo mais que buscar salvadores
da pátria, que nunca se apresentavam para matar o dragão, senão para
alimentá-lo às escondidas e envergonhadamente, para em seguida, com o
discurso de nunca antes neste país, soltá-lo novamente sobre a riqueza e a vida
dos cidadãos.
Neste país de faz de
contas, havia impostos e mais impostos, e taxas, e contribuições e muitos mais
mecanismos de escravização do trabalho, tudo em nome da coletividade, que não
era a do povo, mas a daqueles que se locupletavam do Estado.
Agora diz que, quando o
barril do petróleo atinge menos de US$ 30.00, neste país cada litro não sai por
menos do que US$ 1.00, mas ainda é sabido que, se o petróleo subir a gasolina
vai subir, se ele baixar, ela vai subir, e se houver furo de caixa no governo,
ela vai subir, se os governos estaduais ficarem mamando no governo federal ela
vai subir, assim, a perspectiva que temos quanto ao consumo de combustíveis é
que nunca na história deste país haverá uma real valoração dos combustíveis,
nem teremos informado com transparência na bomba, quem mais nos rouba.
Pagamos um preço alto
para existir modestamente no país de faz de contas, onde houve um tempo que o
lema era “sem medo de ser feliz”, cuja tradução aproximada é “sem medo de ser
roubado, tungado e esfolado e ainda ter de sorrir”!
Neste país de faz de
conta, bom mesmo era nunca ter trabalhado, ter sido líder sindical, ou assaltante
de banco, ou chineleiro no Araguaia, porque então poderíamos governar o tal
país e fazer de conta que tudo está melhor, no melhor país do mundo.
Neste país panglossiano
havia sempre uma certeza, este é o país do futuro, de um futuro cada vez mais
distante, onde o passado, como nunca dantes na sua história, será medido pela
ruína da cultura, da saúde, da educação.
É, talvez este não seja
um conto de fadas, talvez seja necessário um demiurgo para exorcizar este país,
redescobrindo-o ou melhor, encobrindo-o, para que no próximo achamento, haja
menos necessidade de não ter medo de ser feliz e mais coragem de desafiar aqueles
que nos humilham, traem e espoliam.
Melhor seria: “sem medo
de ter coragem”, coragem como a certeza do que deve ser feito para varrer da
história do país todos os políticos, substituindo-os a cada gestão, impedindo
camarilhas.
Coragem para fechar o
livro, parar de fazer parte de uma história nada de fadas, e que sempre acaba
sem um final feliz para o cidadão!