Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Um conto nada de fadas





Era um país, que ficava nos trópicos, tinha uma natureza exuberante, um vasto território, rico em florestas, rios, minerais. Seu solo era rico, como também o seu subsolo, a franja marinha prenunciava uma vocação de conquistas e de expansão.
Neste país de faz de contas, sempre que o petróleo baixava no mercado internacional a gasolina subia nos postos de combustíveis. Sempre que havia uma crise internacional, depois que um governo progressista tomou o poder, nele se encarava como uma marolinha, até se perceber um tsunami.
Neste país de faz de contas, o combustível renovável subia quando subia o combustível fóssil, subia quando era entressafra, subia quando não tinha outro motivo que a ineficiência e o apadrinhamento dos usineiros, que eram por sua vez os dominadores da política do nordeste, que volta e meia, tornavam o partido no poder, o maior partido do ocidente.
Neste país de faz de contas, o governante nunca sabia de nada, e isto fazia com que nunca na história daquele país houvesse tanta corrupção, tanto desmando, tanta espoliação do povo, que ao ver repetida mentiras todos os dias, por milhares de vezes, sempre acreditavam na inocência dos culpados e sempre condenavam os inocentes, o próprio povo, a sustentar um Estado burocrático, inchado, aparelhado e ineficiente.
Ora, este país de faz de contas criou o racismo oficial, as cotas que dividiam o país em estamentos coloridos e econômicos, neste país abastecia-se o automóvel mais com impostos do que com combustível, porque o que realmente fazíamos era trabalhar para sustentar um sistema político parasitário.
Fazia-se tanto de conta que em cada litro de combustível havia um imposto de mercadorias que equivalia a mais de 40% do preço da bomba, sem contar os impostos da dita União, um centro sanguessuga que espoliava a riqueza da periferia para distribuir aos coronéis do sertão.
Contava-se para as crianças estórias belas de fadas em que este país de faz de contas um dia seria o país do futuro, mas o que restava na vida era apenas foi uma vez. Neste país havia um dragão que volta e meia assolava a população e a economia, ajudado pelos desmandos dos aparatchiks dos partidos da esquerda festiva ou dos grupos reacionários da direita. Assim, não restava ao povo mais que buscar salvadores da pátria, que nunca se apresentavam para matar o dragão, senão para alimentá-lo às escondidas e envergonhadamente, para em seguida, com o discurso de nunca antes neste país, soltá-lo novamente sobre a riqueza e a vida dos cidadãos.
Neste país de faz de contas, havia impostos e mais impostos, e taxas, e contribuições e muitos mais mecanismos de escravização do trabalho, tudo em nome da coletividade, que não era a do povo, mas a daqueles que se locupletavam do Estado.
Agora diz que, quando o barril do petróleo atinge menos de US$ 30.00, neste país cada litro não sai por menos do que US$ 1.00, mas ainda é sabido que, se o petróleo subir a gasolina vai subir, se ele baixar, ela vai subir, e se houver furo de caixa no governo, ela vai subir, se os governos estaduais ficarem mamando no governo federal ela vai subir, assim, a perspectiva que temos quanto ao consumo de combustíveis é que nunca na história deste país haverá uma real valoração dos combustíveis, nem teremos informado com transparência na bomba, quem mais nos rouba.
Pagamos um preço alto para existir modestamente no país de faz de contas, onde houve um tempo que o lema era “sem medo de ser feliz”, cuja tradução aproximada é “sem medo de ser roubado, tungado e esfolado e ainda ter de sorrir”!
Neste país de faz de conta, bom mesmo era nunca ter trabalhado, ter sido líder sindical, ou assaltante de banco, ou chineleiro no Araguaia, porque então poderíamos governar o tal país e fazer de conta que tudo está melhor, no melhor país do mundo.
Neste país panglossiano havia sempre uma certeza, este é o país do futuro, de um futuro cada vez mais distante, onde o passado, como nunca dantes na sua história, será medido pela ruína da cultura, da saúde, da educação.
É, talvez este não seja um conto de fadas, talvez seja necessário um demiurgo para exorcizar este país, redescobrindo-o ou melhor, encobrindo-o, para que no próximo achamento, haja menos necessidade de não ter medo de ser feliz e mais coragem de desafiar aqueles que nos humilham, traem e espoliam.
Melhor seria: “sem medo de ter coragem”, coragem como a certeza do que deve ser feito para varrer da história do país todos os políticos, substituindo-os a cada gestão, impedindo camarilhas.
Coragem para fechar o livro, parar de fazer parte de uma história nada de fadas, e que sempre acaba sem um final feliz para o cidadão!

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