Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Entrevista com Lulla de Sliva, ex-presidente do Braziu






Em virtude das investigações levadas a efeito pelo ministério público do Braziu, desencadeadas por suspeitas de fraudes, corrupção. abuso de poder econômico, assassinato, estelionato eleitoral e desvios bilionários de recursos públicos, como nunca antes na história do Braziu, resolvemos entrevistar o ex-presidente Lulla de Sliva, para saber mais sobre o que ele pensa de todos os problemas que afligem o país. Entrevista exclusiva à repórter Marina Iludida de “O Paíz”.

O Paíz – Primeiramente muito boa tarde senhor ex-presidente e obrigado por nos receber...
Lulla de Sliva – Eu é que agradeço ao jornal a oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido trazidos à tona pela mídia golpista em nosso país, que apenas quer desacreditar um líder operário, que muito pouco trabalhou, por óbvio, mas que nem por isso deixa de ser o representante típico da sociedade operária da nação, daquela parcela que faz política.
OP – Ex-presidente, diz o ministério público que o senhor é dono de um Triplex na praia de Arujá e de um Sítio em Tatibaia, onde o senhor não só frequenta, como muitas empresas envolvidas em desvios acabaram por fazer reformas de valores milionários, o que o senhor tem para dizer sobre isso?
LS – Bom, pode me chamar de presidente, eu não me constranjo. Depois há que se dizer que nunca antes neste país o povo foi tão feliz, o salário mínimo subiu tanto, o país cresceu a uma velocidade vertiginosa e hoje somos uma potência. Saí como 82% de aprovação da presidência e o povo quer que eu volte, escute isso, escute o clamor das ruas, o povo quer que eu volte. Esta é uma demonstração clara de que nosso governo foi sem dúvidas o melhor, o mais progressista, o mais revolucionário da história do Braziu.

OP – Mas, “presidente” e o Triplex do Arujá?
LS – Ah! isso, não tenho nada com isso, é coisa lá da Marisa, ela adora visitar estes locais, sonha como uma louca, manda reformar, o pessoal pensa que é para mim, mas não é, eu nunca nem soube que ela esteve lá, não tem nada a ver não...

OP – Sim, e o sítio de Tatibaia, este o senhor frequentou bastante, não foi?
LS – A sim, agora me recordo que o Lullinhosinho tem uns sócio que tem um sítio lá, e emprestavam para a gente, sabe como é, a gente tem que receber bem. Dizem até que foi a Marisa Letuchiga que levou um barco para lá, mas gente, vê se tem cabimento, como é que ela ia levar um barco para lá, fraquinha do jeito que ela é, isto é um despropósito. Outra coisa horrorosa que tão dizendo por aí, é que a Fui, aquela operadora de celular, colocou uma torre lá sem alvará, longe de qualquer rede só para atender a mim, mas eu vô te dizer, eu nem uso celular, e tem prova disso, que descabido isso. E se não tem alvará e não está no mapa da ANATEC então não existe, isso é papo furado. E é como o Gerberto meu chefe de gabinete disse, agora não pode prestigiar o presidente e ceder o sítio para tomar umas pinguinhas. Isso tudo é intriga da imprensa golpista. A Marlena Chuai já disse, em alto e bom som, na minha frente, a classe média e essa mídia golpista são terroristas nojentos que têm de ser exterminados (risos). Mas, caso insistam que o sítio é meu, minha filha, escreve aí que foi um presente dos amigos, isso mesmo, e ninguém tem culpa de ter amigos tão generosos. Quero esclarecer que o sítio não é meu, é dos amigos do filho, mas se conseguirem provar que é meu, não tem problema, porque eu ganhei ele de presente, sabe como é os amigos agradecidos.

OP – Mas presidente, e os contratos com empreiteiras e navegação com desvios consideráveis de 2003 a 2009 e que coincidem com o seu governo?
LS – Minha filha, não sei de nada disso não, nunca ninguém me falou destes contratos, e vou te dizer mais, é tudo herança maldita, pode ver que é no início do meu governo, isso tudo é o pessoal do Francisco Henrique que ficou lá só para explorar a viúva enquanto eu não tive tempo de analisar tudo direitinho.

OP – O senhor sabe que agora a polícia federal conseguiu prender o João Bacana, o seu marqueteiro desde o primeiro momento, porque tem provas sólidas de que ele recebeu dinheiro desviado de obras públicas e grandes empreiteiras. O que o senhor pensa disso?
LS – João Bacana, mas eu não conheço esse sujeito, nunca vi, nunca falei com ele...

OP – Presidente, desculpe-me, mas olha estas fotos aqui do senhor em campanha em 2002, nesta época ele trabalhava para o Duda Mudança, 2006, 2010 e 2014, este aqui abraçado com o senhor é o João Bacana, o senhor não pode dizer que não o conhece...
LS – A bom, esse aqui, ah esse aqui é o Fera, só sabia que o nome dele era o Fera. Quando a gente tinha um pepino lá no Palácio, a Marisa dizia, chama o Fera. Quando o Gerberto tinha um problema, ele dizia, chama o MO e diz prele que o problema é com o Fera. O Fera é pau pra toda obra, desde pintar até reformar. O homem é o máximo, mente tanto, mas mente tanto que todo mundo acredita...

OP – Será por isso que o senhor foi eleito duas vezes e a Diuma também...?
LS -  Peraí minha flor, Ele pode mentir sobre tudo, mas quando se trata de fazer campanha do maior presidente do Braziu, do maior realizador, do mais popular, aí não, aí ele só diz a verdade. Se perguntar para ele de onde veio o dinheiro ele diz, não e verdade, ele disse mesmo que recebeu caixa dois de campanha, dinheiro sujo e tudo, mas que ele não sabia que era depositado em paraíso fiscal não, e mais o advogado dele já disse que ele até gostou que foi preso, porque como ele trabalha direitinho, porque ele fez os trabalhos né, não copiou nada da Internet, ele ficou feliz de pagar os impostos e multas. Então, ele disse na lata, disse mesmo que infelizmente tinha caixa dois, mas foi na Venezuela, em Angola, aqui no Brasil nada de caixa 2, mas se sabe né, números inteiros vão ao infinito...

OP – Mas presidente, e o problema em Portugalo, o Primeiro Ministro de lá seu amigo, também já foi preso e diz que as ligações com as grandes empresas foram feitas através de seu intermédio...
LS – Mas é lógico minha filha, veja bem, nunca antes na história deste país um operário que trabalhou pouco, foi tão bem pago para arrumar trabalho para as empresas do Braziu, e veja bem, sempre falando mal de empresário. Isso sim que é um feito, e veja que eu não tenho bem o científico terminado. Mas se teve pixuleco, isso é coisa dos portugaleses, eu não sei de nada disso, tem que perguntar para a Marisa, pro Gerberto, pro Bumlai, é eles que sabem das coisas que eu não sei, porque eu nunca sei de nada, só sei de governar bem este país.

OP – Sei, e agora que o senhor está sendo investigado, qual o seu futuro político?
LS – Eu investigado? Tudo mentira, eu vou lá na Puliça pra dizer que eu não sabia de nada, e não sabia mesmo, quem sabe é o João Bacana, mas infelizmente ele não voltou para o país, alguém lá deu a língua nos dente e ele desmarcou o retorno. Tem que perguntar para ele. A Marisa não vai dizer nada né, ela e minha mulher, eu que pago a manicure, a cabeleireira, e eu confio muito nela. O Gerberto é um baita amigo que acha tudo muito normal, e o Bumlai é culpado de qualquer coisa que acusem ele, porque ele sabe que eu sou um super-amigo e quando voltar a ser presidente de direito, vou ajudar ele com as fazenda dele. Ele assume qualquer coisa. Enfim, estou fazendo muito exercício, estou me preparando muito para a campanha de 2018, porque nunca antes na história deste país um operário que trabalhou tão pouco, chegou tão longe, e o povo me ama. Anote aí, pela primeira vez na sua história o Braziu viu três anos de recessão, e quem é que vai salvar o país. Eu né, só eu posso, pena que sem a ajuda do Fera, mas nem preciso, a Mariza e o Gerberto acham alguém aí para o papel de Goebbels. Anote aí!

LS - E tem mais minha filha, aproveito para dizer que não vou depor na polícia, afinal eu sou o maior presidente do Braziu. Ora, eu deixei sequestrador e assassino ficar no país, alegando que a Itália é um Estado de excessão perseguindo os meninos da esquerda, e o fulano, entrou inclusive com passaporte falso no Braziu, e não teve expulsão, então por que é que querem que eu deponha...? Eu sou pobre minha filha, eu não preciso depor, porque sou sempre inocente, você sabe que eu nunca soube de nada, e não sei mesmo, tem que prender o Francisco Henrique, foi ele que criou o esquema todo, só para pagar a pensão do filho que não é dele com aquela jornalista, que nós pagamos para dar as entrevistas para o jornal lá de São Pedro.

OP – Meu muito obrigado presidente e espero que tudo se esclareça...
LS – Obrigado a vocês pela oportunidade de demonstrar minha cândida inocência e deixar minha mensagem para os milhões de otários, opa desculpe, ato falho, para os nossos milhões de eleitores de que em breve voltarei a governar o Braziu.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Cenas da História





Cenas da História
Os Fatos que Modificaram os Rumos da Humanidade
Marcelo Ribeiro

Sinopse:

Este é um convite para o leitor voltar ao passado e conhecer momentos decisivos da história: o julgamento de Sócrates – a última grande conquista de Alexandre – Júlio César cruzando o Rubicão para conquistar Roma – Jesus pregando o Sermão da Montanha – como as águas que batizaram Clóvis fizeram nascer o reino da França? – por que foi construída a Basílica de São Pedro? – qual foi a mais brilhante das conquistas de Napoleão? – quem deu o maior golpe financeiro de todos os tempos? – o fim da Era Vitoriana e o nascimento do século XX – os combates aéreos do Barão Vermelho – como Londres resistiu aos bombardeios nazistas? – Gandhi levantando a Índia na Marcha do Sal – qual era o sonho de Martin Luther King? – o herói solitário que enfrentou uma fila de tanques de guerra na imagem que resume o século XX. Uma viagem no tempo, este livro é a janela pela qual essas e outras Cenas da História passarão diante de seus olhos.

O que penso:

Muitas vezes nos surpreendemos negativa ou positivamente com um texto. Quando vi este livro na prateleira, compulsei os temas que abordava e acreditei que realmente os pequenos ensaios, que necessariamente deveriam ser superficiais e despretensiosos, seriam uma boa leitura para diminuir o estresse. Ledo engano. O livro comete lamentáveis erros históricos, traz citações não referenciadas, coloca o Rio Sena onde deveria estar o Rio Marne, afirma situações falsas, como a criação da França pelo batismo de Clóvis, que Constantino tenha tornado o Cristianismo a religião oficial do Império Romano, sem sequer fazer menção ao Edito de Milão de 313 que na realidade apenas tolera a religião, tornada oficial apenas por Teodósio. Mas para não ser cruel, vou me ater apenas a um dos relatos, talvez dos mais lamentáveis. O de Dona Inês de Castro. O texto mistura lenda, tradições orais e história para construir um pastiche digno de Frankenstein. A Rainha Constança não morreu quando teve seu único filho, o futuro rei D. Fernando, o pai de D. Pedro I não foi contra o casamento deste com D. Inês de Castro, mas muito pelo contrário o incitou a isso para a legitimação de sua prole com a amada, tornando ambíguo o comportamento do varão real. Mais que isso, a guerra civil, desencadeada após a morte de D. Inês entre pai e filho, estava nos planos deste e de seus cunhados castelhanos. A cena do beija-mão da rainha morta é lenda, mito forjado a partir de uma tradição popular do amor cortês que abrilhantou a prosa e a poesia do medievo. Até porque a situação seria inusitada, morta em janeiro de 1355, não seria possível seus cabelos ruivos caírem sobre a face que guardava um riso renascentista em agosto de 1361. Há outros tantos equívocos, como menções ao Evangelho segundo o Espiritismo ou a invocação do pobre São Luis IX, que deve ter se revirado no túmulo quando tal sandice foi escrita ou defendida. Enfim, o livro todo é um equívoco, com erros grosseiros de ambientação histórica, que não resistem a um pouco de atenção a historiadores como Le Goff, Duby, Joaquim Veríssimo Serrão, Braudel, Pernaud e muitos outros. Os erros não permitem sequer que a obra seja fonte de inspiração, na medida em que reproduz lugares comuns equivocados e sem sustentação na historiografia. Muito triste que tenha alcançado publicação.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O Carro do Povo





O Carro do Povo
Bernhard Rieger

Sinopse:

Entre 1938 e 1968, o Fusca - e apenas o Fusca - exerceu um tremendo apelo sobre consumidores de todo o espectro político, da extrema direita até a extrema esquerda. O seu charme, porém, não chegou ao fim com o encerramento da fabricação. Centenas de milhares de pessoas se reúnem todos os anos para exibir, admirar e dirigir seus belos e bem conservados Volkswagens. Desde 1998, a adoração pelo VW original vem impulsionando as vendas do New Beetle, o primeiro de muitos lançamentos da indústria incentivados pela nostalgia automotiva. A aura do Fusca, no entanto, transcende a mera funcionalidade. Em um mundo saturado de ferramentas voltadas para a praticidade do dia a dia, pouquíssimas mercadorias são capazes de inspirar a afeição despertada pelo Volkswagen. Examinando as relações tênues e mutáveis entre o corpo material do carro e seus significados sociais mais maleáveis e abstratos, é possível extrair a essência da evolução do Fusca de um sonho intangível para um ícone global.

O que penso:

O livro de Bernhard Rieger não tem a intenção de descrever minuciosamente os modelos, alterações mecânicas, estéticas e técnicas pelas quais o carro do povo passou nos mais de 65 anos de sua existência. Criado por Ferdinand Porsche entre 1936 e 1938, tendo sido apresentado em sua forma definitiva a Adolf Hitler em 1939, nunca chegou a ser produzido na fábrica de Wofsburg, construída pelo Regime nazista na Baixa Saxônia. No entanto, seus derivados foram à guerra nas estepes russas, nos desertos do norte da África e se espalharam pelos vários teatros de guerra, alicerçados por sua robustez, simplicidade e eficiência mecânicas. Terminada a Guerra, a Inglaterra deu alento à fábrica que não tinha dono e se encontrava a apenas 48 Km da fronteira com o setor soviético, e é este alento, é esta visão de mundo que permite o nascimento do mito em torno do pequeno carrinho. Rieger não descreve um objeto material, mas antes, faz um apanhado cultural que tenta explicar o fenômeno de que um veículo simples e pequeno, tenha se tornando e se identificado como o carro nacional de alemães, mexicanos, americanos, brasileiros e muitos outros. Suas linhas, herdeiras do Tatra T97 tchecoslovaco, foram um fenômeno que povoou o imaginário de gerações e parece ainda não ter esgotado o seu poder de sedução. Tanto assim que o neto de Ferdinand Porsche, Ferdinand Piëch foi o responsável pela emulação do mito automobilístico com a criação do New Beetle em 1998, que deu origem, por conseguinte, à febre de revivals de modelos clássicos, como o Fiat 500, o PT Cruiser e outros. Um livro inteligente que discute o automóvel que se tornou mito e povoa ainda nosso imaginário com suas linhas simples e simpáticas.