Durante
milênios, acreditaram os homens,
Que
os fundamentos da moral,
Estavam
cimentados no temor de Deus,
Uma
moral covarde, uma moral do medo,
Uma
moral egoísta, por que sim,
Os
valores se fundamentavam no desejo,
De
chegar ao paraíso...
Depois,
há quatro séculos, os homens,
Novamente
os homens, acreditaram...
Que
a Moral, ora a moral,
Estava
solidamente fundamentada na razão,
Por
que o que nos fazia superiores,
O
que nos distinguia da natureza,
Era
nossa venerada racionalidade!
Foi
então que humanistas e iluministas,
Acreditaram
que o mundo não foi feito,
Para
o deleite dos seres humanos,
Ou
para eles deitarem nomes às criaturas,
Aos
espaços geográficos, ou ao tempo,
Mas
para ser dominada, a Natureza,
Explorada
e escravizadas, sempre,
Todo
o momento, pela vontade do homem.
Mas
então, um surto de tecnologia,
Os
espaços se reduziram, as velocidades aumentaram,
O
vapor, a eletricidade, a combustão,
O
telefone, o avião, os canhões, as
metralhadoras.
E
o homem, sentindo-se deus, dominando,
Prostrando
e explorando tudo à sua volta,
Descobriu
maneiras de liquidar, a si mesmo,
À
vida e à razão...
Vieram
escravidão, imperialismo,
Xenofobia,
servidão, eugenia,
Não
uma, mas duas guerras mundiais,
Para
certificar-se de que a razão, como fundamento,
Produz
apenas desumanização e violência,
Que
como produzimos iPhones e iPads,
Somos
capazes de produzir fornos e morte em massa.
Não
sendo Deus, não sendo a razão,
Não
sendo o medo, o egoísmo,
Não
sendo aquilo que nos distingue sem distinguir,
Não
sendo nada do pensado e do concebido,
Não
sendo qualquer valor universal ou particular,
Não
sendo Agostinho, Aquino, Kant ou Adorno,
Onde
está a origem da Moral?
Continuamos
buscando fora o que carregamos dentro,
Agostinho
estava certo, buscamos tão longe, o que está,
Antes
de tudo em nós mesmos, impedidos de ver’
Por
nosso antroprocentrismo injustificado,
Por
nosso etnocentrismo preconceituoso,
Por
nosso esnobismo atávico sobre o outro,
Enfim,
não olhamos para o outro em nós...
A
origem? Ah, a origem começa antes de nós mesmos,
Nas
capacidades de empatia, aquela de primeiro grau,
Que
permite perceber o que o outro sente,
Saber
de suas alegrias e de seus sofrimentos,
Olhar
e identificar o estado da alma do outro,
Seja
ele bípede implume, glabro e delgado,
Seja
ele quadrúpede, hirsuto, ágil e dedicado...
Mas
apenas perceber é pouco,
A
seleção natural exige que nos esforcemos mais,
E
a empatia, com milhares de anos, seleciona,
Aquela
secundária, que permite, não só perceber,
Mas
identificar-se com o sentimento do outro,
Sentir
suas alegrias e sofrer suas dores,
Sentir
um mal estar, porque o outro o sente...
Mas
ainda era pouco, e Darwin estava certo,
A
evolução, que não significa progresso, e
Que
nem tem por objeto perfeição ou destino,
Precisava
mais, e então, a compaixão,
Não
bastou perceber, nem bastou sentir, identificar-se,
Mas
há que compartilhar o sentimento, seja alegria,
Seja
sofrimento, compadecendo-se do outro!
Mas
ainda não foi o bastante, porque como vivos,
Coparticipes
da vida, disputamos tudo, dividimos
O
mesmo espaço, o mesmo ar, as mesmas fontes de alimentos,
Lutamos
pelas mesmas frações preciosas de energia,
Jogamos
os mesmos jogos de existir,
Disputamos
a escassez de todos os recursos,
De
uma natureza ávara, porque sábia...
E
não sendo o bastante, da seleção natural,
Nasceu
o altruísmo, herdeiro da primeira empatia,
Que
nos permite dar sem receber, que nos permite, doar-se,
Que
permite ao homem agir em função da dor e da alegria,
Que
nos permite fazer, sem esperar o retorno,
Que
nos faz capazes de não avaliar o custo,
Daquilo
que é nobre, mas pode nos custar a vida...
A
origem da moral? Está dentro de cada um de nós,
Ou
não está, porque fazê-la manifestar-se,
Depois
de milhões de anos de seleção natural,
De
busca de perpetuação e difusão da vida,
Depende
de uma vontade firme, construída,
Pela
cultura, pela razão, mas antes de tudo,
Por
acreditar que a vida do outro tem tanta dignidade como...
A
de outro homem,
A
de outro chipanzé,
A
de outro bonobo,
A
de outro gorila,
A
de outro orangotango,
A
de outro golfinho,
A
de outro elefante...
Enfim,
como de toda vida....