Outro corpo que não o meu,
Se espalha por toda memória,
Inunda meu pensamento de desejos,
Expressa, sozinho, toda completude!
Outro corpo que não o meu,
Exala todos os perfumes, os cheiros,
As cores, as formas, os volumes,
Que agonizo por ter em gozo!
Outro corpo que não o meu,
Se repete em imagens e lembranças.
Se perpetua na ânsia de ser e estar,
Torna-se modelo de beleza e perfeição.
Outro corpo que não o meu,
Seduz-me todo e inteiramente,
Escraviza-me, tão despudoradamente,
Que vivo a esperança escandalosa do encontro!
Outro corpo que não o meu,
Faz-me nós, todo nós,
E de tantos nós, enovelado,
Desejo perder-me no ato de amor!