Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 25 de março de 2015

À deriva





Sinto-me à deriva,
Deriva de mim,
Deriva do tempo,
Deriva do destino,
Deriva da existência.

Sinto-me só,
Só de mim,
Só no tempo,
Só no destino,
Só na existência.

Mas esta é minha condenação,
Sou livre, tão radicalmente livre,
Que não há acaso, mas destino,
Realizado por mim, em minhas esquinas,
Realizado por mim, em minhas encruzilhadas.

Onde estarão os atores?
Onde estarão aqueles que...
Deveriam dividir,
Sua existência livre, comigo;
Sua inexistência fática, comigo;
Sua tristeza e amargura, comigo;
Sua felicidade e brandura, comigo?

Estou livre e tão livre,
Que estou só, no mundo,
No palco, do teatro do destino,
Sem objeto, sem rumo,
Sem encontros, sem desencontros,
Numa modorrenta angústia,
Que se repete infinitamente,
Pela mesmice do olhar,
Da paisagem,
Da permanência.

Sinto-me como um Kamikaze,
Voando tanto mais rápido,
Quanto mais próximo o destino final,
Sei qual é a consequência deste encontro,
Um encontro comigo mesmo,
Que me aniquila, porque aniquilado estou,
Porque não sou deste mundo,
Que pleno de cadeias e formalidades,
Não consegue me conter, como não contém,
Mas causa-me dores, lancinantes dores,
Que me fazem acelerar o vôo,
Até o destino final.

Mas todos teremos o mesmo destino,
Que diferença fará se hoje ou amanhã?
Que diferença fará se for fortuito ou desejado?

Estou à deriva...
Desancorado...
Nauseado...
Meditabundo...
Pensando no Ato Final!

Descerra-se a cortina!

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