Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 13 de junho de 2017

Quanto tempo




Ainda ouço as máquinas de escrever,
O estalar dos cavacos no fogão,
A água e seu borbulhar ao acaso,
Encontro ainda os maços de vela,
A palha de aço, o escovão,
A lata de banha, hermeticamente fechada!

A pera suspensa sob o fio de luz,
A lâmpada incandescente, queimava,
O ferro, que precisava de carvão,
A sacola de pano, com seus cartuchos,
Que continham arroz, feijão e açúcar.
Os pesos e o fiel, gastos, ruidosos, largados!

O cheiro de chuva, que acontecia antes da chuva,
Borboletas, multicolores, expressão de alegria,
Os Três Patetas! O Gordo e o Magro!
Um Papa gordinho e risonho, seguido de um magro,
Atormentado, sempre em angústia, entre passado e futuro!
O jornal antes do filme no cinema, o futebol!

Meu pai em sua cadeira, “adivinhando” as notícias,
Sempre no mesmo canal, no mesmo horário,
Chinelos calçados, como preito de carinho,
Admiração sem fim, do herói único,
Com a clarividência tranquila dos dias,
Cid Moreira reproduzia, cada notícia antecipada!


A política como um detalhe obrigatório,
Distante, que se fazia visível na tela,
Lei Falcão e o bizarro desfile de currículos.
Dois partidos, muitas sublegendas, casuísmos!
Quatro emissoras na televisão, fim, meia noite...
Psicodelismo, novos baianos, jovem guarda!

Toca fitas armado, microfone na mão,
Rádio mal sintonizada, AM, miríade de propagandas,
Desespero em gravar a música sem a locução,
Voltar a fita com a caneta, acertar o ponto exato,
Fim de uma história, início da outra, quanto tempo...

E já não somos mais sujeitos de nossa história!

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