Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Noite Longa




Fechara os olhos a tanto tempo, e a fadiga tomara-lhe o corpo, tão intensa, deixando-o alheio de si mesmo ao longo de tantas memórias e sofrimentos, que silente ficou, entorpecido e ausente!
Não sabia mais quanto tempo passara e se, o silêncio que lhe ensurdecia, era o anúncio da solidão ou a denúncia da surdez! Entre a incredulidade de aceitar a solidão ou a surdez, abriu lentamente os olhos, descrente de que encontraria, para além das pálpebras um mundo reconhecível.
Mas, foi isso que lhe ocorreu. Continuava condenado a existir, ali, sentado sobre a poltrona, no canto daquela sala intemporal. Uma réstia de sol invadia o recinto, e nela flutuavam as partículas de pó denunciadoras da vastidão do tempo passado, do acúmulo de abandono, de apatia, de abulia, de solidão.
Fez um tímido esforço para levantar-se, mas o que conseguiu foi sentir cada músculo, cada osso, cada parte de um corpo que imóvel, quase encarquilhou-se. Pensou que se levantasse de súbito, superaria a dor e a inércia, mas a dor queimante no pescoço, e outra rasgada nos braços, fizeram sentir como realidade as ferroadas do joelho.
Então percebeu que aquelas dores eram suas lembranças, marcadas em cada parte do seu corpo, pelas ausências e faltas de seus amores, passados e não tão presentes! Não se queixava, porque não havia espaço para se queixar.
Um caroço obstruiu-lhe a glote, caiu-lhe sobre a cabeça uma sensação gelada, uma vontade de chorar.

Mais uma vez, restou-lhe uma lágrima e a solidão de estar. Existir para sentir a falta!

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