Recompôs-se e num
átimo levantou-se, espreguiçou-se e sentiu cada músculo retesar-se, fechou os
olhos e sentiu uma vertigem, uma agradável vertigem que quase o fez desabar sob
o solo. Uma sensação agradável que já experimentara um sem número de vezes mas, que era sentida como única a cada vez.
Abriu os olhos,
prolongou por mais tempo que pode aquela sensação de desequilíbrio, de zonzeira,
que precedia a escolha de manter-se mais um dia vivo. Sim, porque a cada dia a
escolha de existir se fazia mais exigente, mais sentida, mais compreendida em sua
plenitude.
Cada dia que acordamos
temos sempre a escolha de viver ou de morrer. Porque para morrer basta que
tenhamos nascido vivos. Assim, todos os dias uma escolha se impõe, cada dia
com suas perdas é uma vitória da vida sobre a morte, consciente e corajosa,
apesar de o medo ser um componente importante e relevante da escolha.
Olhou para a sala
ao seu redor, milhares de livros, como amigos interessados, silenciosos, como
se estivessem com seus olhos arregalados, contemplando cada movimento, cada
pensamento. De suas lombadas pulsavam e reverberavam um algaravia de vozes onde os nomes de uma humanidade conhecida se reuniam para explicar tudo que não tem qualquer sentido.
O tempo como que
parado, desejado como eterno, fazia uma pausa para que ele, então desperto, então
vivo com suas dores, fizesse a escolha, desse o primeiro passo, rompesse o
torpor do abandono e enfrentasse mais uma jornada para lugar algum,
reconstruindo memórias e dando algum ou qualquer sentido ao existir que se
impunha na extensão e na medida da escolha feita!
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