Despreocupado
seguia o homem que só então conseguira aposentar-se, sem que isso lhe garantisse uma vida digna.
Tinha 82
anos, sentia-se rejuvenescido com um programa apresentado por uma grande rede
de televisão que trombeteava que a vida começa aos 80. Viu mulheres idosas,
ainda frescas, fazendo teatro, jogando vôlei, fazendo miçangas no parque e
alardeando sua juventude. Ele acreditou que sua vida estaria só começando.
Os proventos
da aposentadoria não eram justos, muito menos seguros, já que em nome de um
Estado Social de Direito, gerações de políticos praticaram a redistribuição da
renda, com inúmeros benefícios sociais, que ao fim e ao cabo, transformaram
grandes empresários do país campeões de venda no mundo de commodities primárias.
Não havia
mais os jornais. Aqueles que seu pai trazia para casa há mais de 40 anos, porque ninguém
mais tinha tempo de ler histórias, noticias, textos. A vida fluía como uma
lâmina tênue de areia numa Clepsidra enlouquecida e desumana. Mas, de súbito,
viu um embrulho de sebo, aquele lugar remotamente conhecido como lugar onde se
vendem coisas, digo melhor, livros velhos. Folha de jornal antigo rasgado e descartado numa lixeira
politicamente correta.
Apanhou por
curiosidade juvenil, do alto de seus 82 anos, e leu uma notícia.
Sim, havia
desaparecido naqueles dias um escritor, que tendo escrito um novo gênero literário
para os tempos, àquele momento, dito modernos, uma tal de short stories, havia
simplesmente sumido de forma inexplicada.
Tão desaparecido,
após ter escrito seu primeiro-último texto que ainda não fora encontrado. Mas,
salientava a matéria, poucos tinham tempo de procurar por alguém não só
desconhecido, mas também atormentado pela impossibilidade de ser lido.
Para um
mundo de coisas, palavras não fazem sentido!
Continuou o
seu caminho, certo de que o escritor restava não encontrado!
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