Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sábado, 1 de julho de 2017

Notícia




Despreocupado seguia o homem que só então conseguira aposentar-se, sem que isso lhe garantisse uma vida digna.
Tinha 82 anos, sentia-se rejuvenescido com um programa apresentado por uma grande rede de televisão que trombeteava que a vida começa aos 80. Viu mulheres idosas, ainda frescas, fazendo teatro, jogando vôlei, fazendo miçangas no parque e alardeando sua juventude. Ele acreditou que sua vida estaria só começando.
Os proventos da aposentadoria não eram justos, muito menos seguros, já que em nome de um Estado Social de Direito, gerações de políticos praticaram a redistribuição da renda, com inúmeros benefícios sociais, que ao fim e ao cabo, transformaram grandes empresários do país campeões de venda no mundo de commodities primárias.
Não havia mais os jornais. Aqueles que seu pai trazia para casa há mais de 40 anos, porque ninguém mais tinha tempo de ler histórias, noticias, textos. A vida fluía como uma lâmina tênue de areia numa Clepsidra enlouquecida e desumana. Mas, de súbito, viu um embrulho de sebo, aquele lugar remotamente conhecido como lugar onde se vendem coisas, digo melhor, livros velhos. Folha de jornal antigo rasgado e descartado numa lixeira politicamente correta.
Apanhou por curiosidade juvenil, do alto de seus 82 anos, e leu uma notícia.
Sim, havia desaparecido naqueles dias um escritor, que tendo escrito um novo gênero literário para os tempos, àquele momento, dito modernos, uma tal de short stories, havia simplesmente sumido de forma inexplicada.
Tão desaparecido, após ter escrito seu primeiro-último texto que ainda não fora encontrado. Mas, salientava a matéria, poucos tinham tempo de procurar por alguém não só desconhecido, mas também atormentado pela impossibilidade de ser lido.
Para um mundo de coisas, palavras não fazem sentido!

Continuou o seu caminho, certo de que o escritor restava não encontrado!

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