Estava sentado na
poltrona a um canto da sala. Olhava com estranhamento todas as coisas tão
comuns, tão permanentes que o cercavam, depois de se ter fitado com tanta
surpresa no espelho que havia denunciado o seu retorno.
Recordava todas a
vidas que vivera, todas as pessoas que fizeram parte de sua história, que lhe
preencheram o vazio de uma existência sem objeto. Sentia a presença de cada
uma, e do quanto lhe transbordava a dor da ausência de cada uma.
No entanto, não
mais sabia se estava cercado de fantasmas, pessoas ou memórias. Sentia-se só,
vazio, fitava o infinito da poltrona que lhe servia como promontório. Fitava o
passado como um vasto mar de recordações, que subiam e desciam como marés e o
convidavam a lançar-se do precipício da saudade para as rochas do desespero e
da solidão.
Respirar lhe doía.
Arfava. Percebia a profundidade da estranheza que sua vida havia adquirido com
o passar do tempo, sem que tivesse percebido que sua existência tivesse se
constituído em diferenças na terra ou no céu, nos rios ou nos lagos, nas
pessoas ou nas pedras.
Fechou os olhos e
passou a repetir lentamente o nome daquelas que amou. Repetiu, repetiu, repetiu
seus nomes como uma invocação, esperando que houvesse uma resposta. Queria
ouvir apenas que alguém se importava com o fato de ele ainda existir para além
do tempo, para além da amada, para além do desejo, que a longo tempo ficara sem
resposta.
Sentia o palpitar
do coração, a dilatação das têmporas, o ar passando pelas narinas e estendendo
o tórax. Estava vivo, não sabia por que? Talvez por mera preguiça, por
covardia, por acomodação, quem sabe?
Ali na penumbra da
sala, colhida entre o familiar e o alheio, entre o instante presente e um
passado atemporal, descobriu-se dolorosamente vivo. E de tantas vidas vividas,
restou-lhe um suspiro.
Abriu lentamente os
olhos para o nada!
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