Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sábado, 17 de agosto de 2019

Descobrir




Como descobrir um amor, assim num encontro,
Tão único, tão especial, tão surpreendente,
Como descobrir um outro, com os mesmos gostos,
Tão próximo, tão distante, tão único!

A descoberta da possibilidade da felicidade,
No carinho derramado pelo interesse,
Pela dedicação desinteressada do tempo,
Pela confiança, tão pronta, tão determinada!

Como não acreditar na orientação divina
Que faz do achamento casual, num momento especial,
De um outro que passa a povoar intensamente,
Todo pensamento, todo plano, todo futuro!

Descobrir que num determinado momento,
Passamos a existir novamente para além de nós mesmos,
Passamos a acreditar que há sempre uma possibilidade,
De amar, de ser amado, de tornar-se um, inseparável!

Descobrir, que podemos ser, todo e inteiros novamente!
Que percebemos na doação total e irrefletida, pertencimento,
Que desejamos mais o outro em nós, do que nós mesmos,
Porque acreditamos na força de um sentimento regenerador!

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Acreditar





Acredito no acaso, acredito no encontro que se dá para além das certezas,
Acredito mesmo, que mesmo no desencontro há uma razão de ser,
Acredito de fato, que a falta que me faz é antes de tudo uma falta em mim,
Uma dor que dilacera, que se expande, que se dilata, em cada pensamento,
Que se esparrama pelo caminho, que se espalha em cada experiência vivida!

Acredito no acaso, porque se não acreditasse eu não teria sido possível, nem você!
Acredito mesmo, porque sou uma mera possibilidade entre outras tantas,
Acredito porque de fato, sou um acaso acontecido entre milhões de outros,
E mesmo assim, com a dor que me dilacera e que me escraviza o pensamento,
Muitas vezes não consigo perceber a beleza deste acontecimento único!

Acredito no acaso, mas que não seja proibido perseguir o desejado,
Com tanta intensidade que nos permita frustrar-nos menos e alegrar-nos mais.
Que nos seja permitido amar sem pensar nos desencontros, mas nas promessas,
Que cada encontro seja uma explosão de felicidade e percebido como único,
Que acreditando no acaso, consigamos acreditar na eternidade do encontro!

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Promessas




Da primeira vez que amamos, somos pródigos em promessas,
Acreditamos sinceramente em cada rogo, em cada oração,
Todos os nossos projetos, são marcados pelo ineditismo,
São marcados por uma criatividade criada, saída do coração!

O tempo passa e o cansaço dos passos dados, das palavras perdidas,
Faz com que já não acreditemos mais nas promessas, não as que fazemos,
Mas daquelas que ouvimos, tornando-nos estéreis e incapazes de amar,
Porque desacreditados de nossas próprias certezas, de nossa força!

Talvez a possibilidade de reconstruir vidas, seja apenas a chance,
De tornar-nos todos estéreis, todos desventurados e desacreditados,
Todos marcados pelo fracasso, e portanto, escravos do medo,
Da insegurança, incapazes de acreditar nos sonhos e nas promessas!

Talvez toda a nossa liberdade, tenha surgido para nos fazer escravos,
Escravos da solidão e do abandono, escravos da ilusão e da tristeza,
Não aquela praticada deliberadamente pelo outro, ou querida,
Mas antes buscada, justificada e racionalizada pela nossa incapacidade.

Sim, por esta incapacidade atávica de amar e perseverar, radicalmente,
De encontrar nas entrelinhas das mensagens cifradas de amor, toda...
Sua essência, toda sua existência, toda sua verdade intensa, plena...
E assim, tornar-nos estéreis, impermeáveis às promessas, eunucos!

Não me repito




Nunca me repeti, julgo desonesto e imoral,
Não me reproduzo nas relações que vivo, sendo todo e inteiro,
Único em cada olhar, em cada carícia, com o cuidado, de viver...
Mais do que intimamente, a relação de cumplicidade e doação!

Minhas relações amadurecem, crescem em suas particularidades,
Em sua exclusividade e existência únicas, construídas no todo,
E por tudo, para um outro que é um universo particular, 
Minha dedicação, toldada pela dor e pelo sofrimento, não descuidam!

Posso ser sombra, posso ser errático e frágil, fraco e desacreditado nunca!
Posso ser ensandecido, apático, abúlico, mas limitado nunca!
Por isso acredito num amor radical até à medula, visceral e total,
Talvez a expressão mais violenta de uma entrega total e irracional!

Não acredito em amores sem sofrimentos e superações, sem doação!
Não acredito em amores que não superam a dor de sua própria existência!
Nem acredito na falta da radicalidade que exige uma entrega sem condições!
Mesmo que não se tenha nada para ganhar em troca, que não seja, amor!

Não me repito, se não reverbero, não existo, não imploro, não mereço!
Se não existo para a radicalidade, não existo e pronto...
Como entender um amor e uma dedicação que tenta sublimar-se?
Então é o caso de sanear a ausência, com o abandono! Ao meio dia!

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Nosso espaço...




Espaço, um lugar, um existir no mundo, que é meu espaço,
Onde o tempo, não passa, se dilata, na experiência de permanecer,
Ou passa, e quando passa, é como um escoar ensandecido na clepsidra,
Acelerada pelo desejo de continuidade, pelo desejo de prosseguir assim,
Espaço que apenas e tão somente exige o pensamento de voltar!

Eis aqui meu espaço, teu espaço, nosso espaço, um não lugar;
Porque absolutamente único, fora dos mapas cartográficos,
Porque ele resume todo e intensamente todo mapa que interessa!


Eis aqui nosso espaço, e ele é tão grande, habita em mim, habita em você,
Mas ao mesmo tempo, tão pequeno, tão distante, tão longe de mim, de você!
Mas isso não importa, porque nada há que possa estar entre mim e você,
Não agora, nem amanhã, se de nossas vontades for tudo que nos une!

O espaço, esse que  é meu e teu, tem marcas profundas de minha presença,
Tem marcas permanentes de tua presença, teus cheiros, teus olhares,
Preenches com tuas certezas, e também com tuas dúvidas, aquelas,
Que sem sentido, esvaziam nichos, espetam ausência, onde há apenas, falsa falta!

Nosso espaço, aquele que permeia cada parte entre eu e você,
Está preenchido de nós dois, é impermeável à dúvida e à distância,
E se tenho a dúvida de materializar-me inteiro, nesse espaço,
É mais pela ansiedade de permanecer, do que pela tristeza de partir!

Toda e Inteira





Sabes que te vejo, toda e inteira,
Que apenas eu compartilho de tua nudez,
A nudez de teu corpo, a nudez de tua alma,
Eu te faço mulher, porque me fazes homem,
Como duas partes de um todo inteiro,
Que reúne em si, irredutíveis diferenças!
Sabes que te possuo, agora e amanhã,
E que se nos realizamos assim, nus, plenos,
Entregues às fantasias e a uma imaginação criadora,
No tempo, sem tempo, num desejo e gozo de amar!
Sabes que estou a morrer na tua ausência,
Sabes que é menos que nada existir longe,
Porque onde não somos, juntos, eu e você,
É aí que não existimos, resta-nos sofrer!
Sabes que te vejo, toda e inteira,
Não hoje, nem amanhã, todo o tempo,
Porque habitas em mim, e disto,
Nada resta de ausência em mim!