Acordo de madrugada,
Penso em você, e lá estava você,
Presente em mim, presente em minha história,
Distantes e tão próximos,
Ausentes de nós, sofrendo pelo que somos,
Pelo que deixamos de ser...
Você não tem certeza do que é,
Eu não tenho nenhuma certeza de minha existência,
Só sei que da última vez que olhei fundo,
Bem dentro de teus olhos,
Que olhei teu corpo,
Que senti cada parte de você,
Que percebi que naquele instante me desejava,
Cheguei muito perto de encontrar,
Enfim, o motivo de existir,
De existir para te amar...
Somos apenas estranhos,
Num mundo de solitários,
Num mundo de liberdades forçadas,
Que nos aprisionam nas correntes do nada,
De um nada que se avizinha pela solidão irredutível,
De existir, sem sentido...
Mas é como se você tivesse
Surgido em mim e eu em você...
Imagino todos os seus sofrimentos,
Imagino todas as suas faltas,
Imagino todas as suas sobras,
Não consigo dizer ou imaginar,
Uma forma de dizer que as amo,
Que não poderias ser outra mulher,
Que não apenas tão e somente você!
Sua sanidade não é mais crítica do que a minha,
Somos dois loucos em busca de um sentido,
Perdidos no mundo desvairado de mentiras,
Somos dois artistas do nihilismo,
Impregnados de um amor cínico pela humanidade,
Somos dois perdidos e achados,
Um no outro, um em outro,
Sou o que me fazes,
Serei mais, o dia que fores o que te faço...
Se sabes seu nome,
Sabes quem sou, onde estou,
E onde hei de me perder...