Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Sentido?






Fecho os olhos, cansado de existir sem sentido, amando, mais que amado, exausto de perceber o non sense de cada dia, de cada respirar, da frenética sucessão de dias e noites, de ruas, calçadas, faixas, sinaleiros, pedestres, rádios, sons, pássaros, nuvens, arvores, asfalto, veículos, bicicletas...
Fecho os olhos e a angustia de existir me assalta, entendo Sartre, entendo a liberdade irredutível dos seres, a solidão insofismável que nos cerca. Fecho os olhos e desespero para entender que isto é o que permeia a vida...
Impulsionado pelo desejo de manutenção da vida de uma carga genética alheia a mim, não compreendo bem a necessidade de dar sentido a esta existência vazia e repetitiva, determinada por ânsias incompreensíveis à razão e completamente alheias às minhas paixões.
Penso atribuir-me sentido para esvaziar meu sofrimento, mas a busca é vã, porque não há sentido, não há sentido possível numa vida que apenas se reproduz, que se busca repetir num incansável emaranhado de falta de sentido, de reprodução estéril, de faminta sede de liberdade.
Sim, se há algum sentido no existir é a liberdade, mas tudo me busca limitar, tudo é desonesto com meu sentir, com meu existir, tudo é mentira em volta de mim, tanto assim, que a verdade é que é coisa ruim, a verdade é falsa, abjeta, monstruosa, porque nega a existência do mundo tal qual ele é, tal como, e apenas pode, se apresentar ao todo...
Não, estamos redondamente enganados, não é a mentira que é o problema do mundo, mas a verdade, ela é insuportável, medonha, destruidora, invejosa, a mentira sim, esta é a construtora da cultura, da arte, da linguagem e da expressão da arte, mecanismo original de demonstração de amor ao mundo.
Mas, se vivemos porque o mundo é mentira, mentira não só para nós, mas para o demiurgo criador também, então em que ordem estará a verdade? Estará ela relacionada ao demônio? Acredito que sim, nada mais ruim e demoníaco do que aqueles que se acham donos e dominadores da verdade, nada mais violento e infame do que os que acreditam saber tudo de verdadeiro e único, nada mais torpe do que os fiéis invioláveis e puros.
Assim, a existência é um eterno mundo de cabeça para baixo, que se repete não como um paraíso na terra, mas como um Inferno dantesco, que se renova a cada dia, para acentuar nossa indizível mesquinhez, nossa profunda insignificância, nossa infinita desimportância.
Preciso desta reflexão, preciso disso para acomodar meu desassossego, para aplacar a dor do meu pensar, para permitir, mesmo que por algum tempo ainda, uma repetição inexplicável do mesmo, todo o tempo, do nada, toda a vida, do sem sentido a cada momento.
Sentindo, é isso, apenas sentindo todo o nada que cerca o existir, é que somos capazes de perceber que o que dá sentido à existência é sentir, sentí-la dolorosa, sentí-la torturante, sentí-la sem sentido.
Como farei para continuar a repetir-me só, livre, e ao mesmo tempo escravo deste mundo mentiroso e paradoxal que construímos à imagem e semelhança de nossa falta de sentido?

Um comentário:

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