Quero dividir com vocês
o prazer que tive ao ler o livro de Stéphanne Charbonnier, escrito pouco antes
de morrer em um atentado em Paris, ele diretor do polêmico Charlie Hebdo, um
verdadeiro ensaio como Libelo, Manifesto pela Liberdade de Expressão.
Compartilho com vocês
uma das partes mais significativas do livro:
“Deus é grande o
suficiente para se defender sozinho (pg. 26)
Francamente, se Deus
existe e é tão poderoso quanto seus servos afirmam, nós, os infiéis, os
descrentes, os laicistas, os ateus, os antiteístas, os agnósticos, os
apóstatas, estamos mal... Estamos irremediavelmente condenados ao fogo do
inferno.
Daí a pergunta: por que
os crentes recorrem à justiça dos homens para nos punir, se a justiça Divina o
fará, e bem mais severamente do que qualquer juiz? Quem é afinal esse Deus, que
afirmam todo-poderoso, mas que precisa de advogados para nos processar? Será
que Deus não se ofende, ao constatar que aquele a quem até então considerava
como um bom crente recorreu à justiça, e não à oração? Por que o fiel faria
Deus se arriscar a cair no ridículo perdendo um processo na Terra, embora
esteja seguro de vencer todos os processos no Céu? Não quero brigar com
ninguém, mas, do ponto de vista do crente, não seria blasfêmia o ato de pedir a
magistrados, que talvez sejam descrentes eles mesmos, a condenação de outros
descrentes em nome de Deus? Encarregar-se da defesa de Deus não é a expressão
de uma espécie de pecado por orgulho? Deus, o criador do mundo, aquele sujeito
de ombros largos que brinca com nosso planeta como o motorista parado no sinal
vermelho brinca com as melecas que tira do nariz, precisa do mestre Fulano de Tal
para lavar sua honra?
Ao atacarem na justiça
os blasfemadores, as associações comunitaristas só provam uma coisa: elas não
acreditam em Deus.
Ou então são favoráveis
à dupla punição, o que é particularmente maldoso e perverso. Querem que sejamos
condenados aqui, na França, e uma segunda vez, lá no alto. Ou melhor, lá
embaixo, pois é comumente admitido que o inferno fica no subsolo e o paraíso no
primeiro andar.”
Um texto inteligente,
irreverente, impecável e irretorquível. Efetivamente se Deus é tão grande,
onipotente, onipresente e onisciente, não há motivo para que padres, pastores,
rabinos, mulás nos obriguem a segui-lo. Muito pelo contrário. É o exemplo e o
testemunho de vida cristã, judia ou islâmica que leva à conversão, e não o
ódio, a perseguição e a imposição de mal e duvidosas verdades de fé!
Um livro brilhante, não
é possível deixar de lê-lo com sofreguidão, aproveitamento e regozijo.
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