Percorro as ruas,
todos os dias, existindo e refletindo nossa solidão, como se andasse num
labirinto, sem um prêmio a ser encontrado!
Vejo horas e
minutos passarem, com uma relatividade que não consigo apreender, muitas vezes
um tempo que voa, porque tanto o desejo, outras vezes tão lento, como que para
me torturar por fazer ou deixar de fazer aquilo que não desejo.
O espaço se
transforma numa tortura que o demiurgo Arimã usa como tortura para um corpo tão
limitado, mas tão cheio de desejos e paixões. Queria estar em outro lugar, em
outro tempo, com outra presença, mas estou preso aqui, e vejo muros, nuvens,
fachadas, automóveis, pessoas e animais, que sempre os mesmos e sempre outros,
se confundem numa sucessão de labirintos que levam a lugar algum!
Hoje o tempo se
arrastou, deformado pela espera, deformado pela ansiedade de um encontro,
tornado possível apenas pelo que penso e sinto, como se eu fosse todo o meu pensamento, materializado na leitura do
outro. Existo sim, em outros lugares, em outras formas, em outros tempos, sinto
a presença do outro que retém na leitura uma imensa parte de mim!
A felicidade que me
tomou ao saber que duas almas podem se encontrar fora do cárcere e do labirinto
da existência no concreto, que escapam ao espaço e ao tempo, para se
encontrarem nos versos, nas palavras e no pensamento, tomou-me de surpresa, e
agora, arrastasse o tempo para um encontro nunca imaginado, percebido ou
intuído!
Estamos presos e
condenados ao labirinto das cidades de concreto, dos asfaltos, semáforos,
placas, da selva de rostos, de vazios, e nem percebemos que o labirinto está
dentro de nós mesmos, onde permanecemos incapazes de romper com o conformismo,
de poder se lançar no abismo do outro, cujo encontro se produziu apenas por
sentir o que sentimos!
O que nos retém
neste labirinto? Talvez nossa falta de coragem, mas a dor de pensar é já
liberdade. Mas Sócrates disse que a liberdade está no agir, pois então, que a
sorte esteja lançada, e que possa precipitar-me ao encontro daquele outro que
tocou-me a alma porque decifrou-me nos versos soltos que fiz!
Desesperadora a
perspectiva do labirinto que agora percebo, mas que sempre desejei se
desfizesse no encontro dos olhos de quem sabe ler-me!
Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso...Fernando Pessoa coloca de maneira magnífica que jamais devemos matar um sonho. E o sonho a que se refere a tão intimista e ao mesmo tempo declarada leitura me leva a fazer minhas as palavras de Fernando Pessoa! Matar o sonho e matamo-nos. Concretiza-lo é viver a plenitude do mesmo!
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