Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O poeta








Dizia Canetti, que o verdadeiro poeta,

Tal como o imaginamos, está...

Subjugado, submetido ao seu tempo,

Como um vassalo, como um lacaio!



Sim, o poeta é o ser mais baixo,

Atado pelas mãos, pelos pés, todo,

Às correntes curtas, inelásticas,

Que o mantém preso a este mundo!



Sente a premência, a urgência,

De uma liberdade que lhe é negada,

Porque sente e vive, alma nua,

A crueza, a vileza do tempo!



Sua memória não se engana, não cede,

Vincula-se ao torpe, à mentira,

Deste mundo, todo fantasia, todo dor,

Está submetido pela dor do pensar!



O poeta é sim guiado por uma devassidão,

Uma necessidade insaciável de viver,

De resistir à opressão da mentira,

Do olhar no outro, a cura, a redenção!



Resiste tão completamente ao vício,

Que não consegue fazer-se virtuoso,

Por que é no vício que encontra a razão,

A verdade de existir, a plenitude!



Assombro, que se apresenta lúcido,

Assombro, que se faz insano...

Que não permite o saciar da busca dolorosa,

Do sofrimento como resposta à falta!



Por que o poeta, o mais baixo, torpe,

Único que sente visceral a falta da liberdade,

A falta da paz, da violência, do outro,

É que sente a dor e a falta de existir!



O poeta vive da ânsia insatisfeita,

De ser livre, de ser vivo, de ser...

Amante, verdadeiro, único, inteiro...

Apenas para derramar-se, escravo, palavra!

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