Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A inocência do olhar




Muitas vezes não percebemos que a natureza nos olha com uma indiferença recheada de compaixão. Frágeis como somos, incapazes de existir sem o outro, mais que isso, dependentes absolutamente da existência do outro para que possamos saber o que somos, e quem somos, representamos pendurados em galhos a nos balançar, a forma mais sutil da sabedoria Divina, ao demonstrar que um ser tão frágil e incapaz, é capaz de pensar o mundo e conferir consciência à Divindade!
Quantas vezes já falamos com árvores, pedras, o mar, e quantas vezes já falamos com nosso cachorro ou nosso gato? Sim, nossa brutal solidão, nossa irredutível liberdade, antes de ser uma benção é um eterno castigo, determinado por nossa inculta e imodesta soberba!
De que nos vale tanta racionalidade? De que nos vale tanta sapiência?
Quid hoc ad aeternitatem?
Sim, de nada valem, se não encontrarmos nos olhos e nos ouvidos do outro aquele sentimento de receber, de albergar, de acolher! Nada sou se não houver outro humano, um só humano que me possa dizer quem sou? e o que sou? Por que sou? e que me possa tão e simplesmente ouvir!
Preciso de ti como as plantas do Sol, porque sem este teu olhar, sem esta tua presença, sou pouco mais que uma pedra, largada à beira da estrada, para ser pisada, e apenas sentida, como um entrave, uma dor fugaz, um presença ausente, que não se perpetua na lembrança do caminhante mais que o segundo que medeia entre a dor e o palavrão!
Se não houvesse um outro como eu, haveria de ter uma árvore, que ao olhar para mim, ao ouvir-me sussurrar, me dissesse:
És um carvalho, o mais belo carvalho, apenas para que eu te contemple!
Não posso ouvi-lo porque tu existes, e me dizes que sou humano, tão humano e imperfeitamente humano, que mato, a pouco e pouco, a mim e a ti, na esperança vã de encontrar-me a mim, onde não posso achar mais do que só e apenas Você!

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