Muitas vezes não percebemos que a natureza nos olha com
uma indiferença recheada de compaixão. Frágeis como somos, incapazes de existir
sem o outro, mais que isso, dependentes absolutamente da existência do outro
para que possamos saber o que somos, e quem somos, representamos pendurados em
galhos a nos balançar, a forma mais sutil da sabedoria Divina, ao demonstrar
que um ser tão frágil e incapaz, é capaz de pensar o mundo e conferir
consciência à Divindade!
Quantas vezes já falamos com árvores, pedras, o mar, e
quantas vezes já falamos com nosso cachorro ou nosso gato? Sim, nossa brutal
solidão, nossa irredutível liberdade, antes de ser uma benção é um eterno
castigo, determinado por nossa inculta e imodesta soberba!
De que nos vale tanta racionalidade? De que nos vale
tanta sapiência?
Quid hoc ad aeternitatem?
Sim, de nada valem, se não encontrarmos nos olhos e nos
ouvidos do outro aquele sentimento de receber, de albergar, de acolher! Nada
sou se não houver outro humano, um só humano que me possa dizer quem sou? e o
que sou? Por que sou? e que me possa tão e simplesmente ouvir!
Preciso de ti como as plantas do Sol, porque sem este
teu olhar, sem esta tua presença, sou pouco mais que uma pedra, largada à beira
da estrada, para ser pisada, e apenas sentida, como um entrave, uma dor fugaz,
um presença ausente, que não se perpetua na lembrança do caminhante mais que o
segundo que medeia entre a dor e o palavrão!
Se não houvesse um outro como eu, haveria de ter uma
árvore, que ao olhar para mim, ao ouvir-me sussurrar, me dissesse:
És
um carvalho, o mais belo carvalho, apenas para que eu te contemple!
Não posso ouvi-lo porque tu existes, e me dizes que sou
humano, tão humano e imperfeitamente humano, que mato, a pouco e pouco, a mim e
a ti, na esperança vã de encontrar-me a mim, onde não posso achar mais do que
só e apenas Você!
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