Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Eleições, Religião e Oportunismo




Clóvis Rossi que é um articulista lúcido da FOLHA, faz um alerta que apesar de parecer um grito vindo do século XVII, infelizmente é hoje mais que oportuno, é uma necessidade.
Escreve ele:

Misturar Deus (qualquer Deus) ou seus profetas com política é receita certa para o horror.

Ele faz esta chamada à consciência devido ao mais recente e escandaloso assassinato do embaixador norte-americano na Líbia, Christopher Stevens, e três outros funcionários dos EUA, vítimas de fanáticos islamitas, açulados por fanáticos islamofóbicos, que buscam trazer à política, ao espaço público suas convicções religiosas.
Ora, no Brasil estamos vivendo uma crescente confusão entre religião e política. Muitos políticos se apresentam ao eleitor como Pastor tal, Padre tal. Com a separação do Estado e da Igreja isto é inadmissível no espaço público, porque ser pastor ou padre, fala de uma vocação para Deus, e não para o espaço público. A apropriação pelo devoto e dedicado evangelizador de sua condição para angariar votos, não só é um desvio de sua vocação, como uma invasão do espaço público laico por categorias religiosas.
Russomano em São Paulo tem se utilizado escandalosamente dos templos da Igreja Universal para fazer campanha. Mas cidadãos e cidadãs de bem, os templos da Igreja Universal, seus bens e rendas são imunes de impostos, o que já é um rematado absurdo, que foi mantido na infeliz Carta de 1988.
Quando da Revolução Francesa, uma das lutas do povo francês foi contra privilégios e contra as isenções do clero e da Igreja. No Brasil insistimos em manter imunes à tributação as coisas relacionadas à religião, o que é uma violência com todo cidadão que não tem religião ou que a não tem reconhecida e institucionalizada.
Sou contra toda forma de privilégio, porque eles se amplificam, eles se perpetuam. A Constituição buscava a isenção de tributos para o Templo, mas hoje, os anexos, as propriedades, as rendas, enfim tudo que falsamente ou verdadeiramente fiquem em nome de uma seita religiosa são isentos de tributos.
Não é por outra que vemos pastores andando em seus reluzentes Lande Rovers pela cidade, sem que pague impostos. Mansões, televisões, rádios, num crescendo de apropriação do espaço público pela Religião.
A Religião é algo de foro íntimo, se um judeu vem falar comigo, quero que ele me perceba como judeu, se vier um protestante, que me perceba como protestante, se for espírita o mesmo. Não importa a ninguém se sou católico, porque de minha salvação cuido eu.
O Brasil caminha perigosamente para clivagens religiosas perigosas, caminhamos para tornar a religião onipresente no Espaço Público, e onde há santos, devem ser estabelecidos pecadores, onde há pecadores há fogueiras!
Você pode ter a maior fé e convicção na sua igreja ou seita, e eu tenho, devo e imperativamente vou respeitá-la e sequer discuti-la mas, se um representante de sua Igreja utilizar a estrutura dela para se eleger qualquer coisa, fique atento, ele é mais corrupto que o pior dos corruptos, porque utiliza a sua fé, a sua busca de salvação, imune de impostos, para se locupletar e para aumentar o seu negócio, que não é salvar almas, mas fabricar dízimos!
Jesus negou querer qualquer poder material quando se lhe ofereceram Impérios, Reinos e vastos domínios, por que é que temos agora pregadores da fé, querendo ser eleitos isso e aquilo ancorados na fé das pessoas? Nada mais trai os ensinamentos de caridade e misericórdia do que participar da arena política, que é por excelência um espaço secular, despido de crenças e que não pode, não deve ser marcado pela intolerância religiosa!
Toda Religião que se preze deve ser intolerante com o erro! Todo Estado que se preze, deve ser o garantidor do nosso direito de errar!
Se o político que lhe faz um discurso é religioso, desconfie! O lugar dele não é no espaço público, é no púlpito! Se ele não fica lá, a vocação dele é falsa!
Está na hora de rever a imunidade de impostos de todas as Igrejas, afinal em agosto de 1789, começou uma revolução para suprimir tais indecentes privilégios, e nós no Brasil, ainda não conseguimos realizá-la!

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