Clóvis Rossi que é um articulista lúcido da FOLHA, faz um alerta
que apesar de parecer um grito vindo do século XVII, infelizmente é hoje mais
que oportuno, é uma necessidade.
Escreve ele:
Misturar Deus (qualquer Deus) ou seus
profetas com política é receita certa para o horror.
Ele faz esta chamada à consciência devido ao mais recente e
escandaloso assassinato do embaixador norte-americano na Líbia, Christopher
Stevens, e três outros funcionários dos EUA, vítimas de fanáticos islamitas,
açulados por fanáticos islamofóbicos, que buscam trazer à política, ao espaço
público suas convicções religiosas.
Ora, no Brasil estamos vivendo uma crescente confusão entre
religião e política. Muitos políticos se apresentam ao eleitor como Pastor tal,
Padre tal. Com a separação do Estado e da Igreja isto é inadmissível no espaço
público, porque ser pastor ou padre, fala de uma vocação para Deus, e não para
o espaço público. A apropriação pelo devoto e dedicado evangelizador de sua
condição para angariar votos, não só é um desvio de sua vocação, como uma
invasão do espaço público laico por categorias religiosas.
Russomano em São Paulo tem se utilizado escandalosamente dos
templos da Igreja Universal para fazer campanha. Mas cidadãos e cidadãs de bem,
os templos da Igreja Universal, seus bens e rendas são imunes de impostos, o
que já é um rematado absurdo, que foi mantido na infeliz Carta de 1988.
Quando da Revolução Francesa, uma das lutas do povo francês foi
contra privilégios e contra as isenções do clero e da Igreja. No Brasil
insistimos em manter imunes à tributação as coisas relacionadas à religião, o
que é uma violência com todo cidadão que não tem religião ou que a não tem
reconhecida e institucionalizada.
Sou contra toda forma de privilégio, porque eles se amplificam,
eles se perpetuam. A Constituição buscava a isenção de tributos para o Templo,
mas hoje, os anexos, as propriedades, as rendas, enfim tudo que falsamente ou
verdadeiramente fiquem em nome de uma seita religiosa são isentos de tributos.
Não é por outra que vemos pastores andando em seus reluzentes
Lande Rovers pela cidade, sem que pague impostos. Mansões, televisões, rádios,
num crescendo de apropriação do espaço público pela Religião.
A Religião é algo de foro íntimo, se um judeu vem falar comigo,
quero que ele me perceba como judeu, se vier um protestante, que me perceba
como protestante, se for espírita o mesmo. Não importa a ninguém se sou
católico, porque de minha salvação cuido eu.
O Brasil caminha perigosamente para clivagens religiosas
perigosas, caminhamos para tornar a religião onipresente no Espaço Público, e
onde há santos, devem ser estabelecidos pecadores, onde há pecadores há
fogueiras!
Você pode ter a maior fé e convicção na sua igreja ou seita, e eu
tenho, devo e imperativamente vou respeitá-la e sequer discuti-la mas, se um
representante de sua Igreja utilizar a estrutura dela para se eleger qualquer
coisa, fique atento, ele é mais corrupto que o pior dos corruptos, porque
utiliza a sua fé, a sua busca de salvação, imune de impostos, para se locupletar
e para aumentar o seu negócio, que não é salvar almas, mas fabricar dízimos!
Jesus negou querer qualquer poder material quando se lhe ofereceram Impérios, Reinos e vastos
domínios, por que é que temos agora pregadores da fé, querendo ser eleitos isso
e aquilo ancorados na fé das pessoas? Nada mais trai os ensinamentos de
caridade e misericórdia do que participar da arena política, que é por
excelência um espaço secular, despido de crenças e que não pode, não deve ser
marcado pela intolerância religiosa!
Toda Religião que se preze deve ser intolerante com o erro! Todo
Estado que se preze, deve ser o garantidor do nosso direito de errar!
Se o político que lhe faz um discurso é religioso, desconfie! O
lugar dele não é no espaço público, é no púlpito! Se ele não fica lá, a vocação
dele é falsa!
Está na hora de rever a imunidade de impostos de todas as Igrejas,
afinal em agosto de 1789, começou uma revolução para suprimir tais indecentes
privilégios, e nós no Brasil, ainda não conseguimos realizá-la!
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