Ele estava perplexo,
suava frio, o coração disparava, as mãos estavam geladas, ofegante, uma
sensação horrível de morte súbita, de algo muito ruim por acontecer!
Estava sozinho,
parado em frente a um enorme relógio em uma estação qualquer, a espera de um
trem, ou de um ônibus, ou ainda, de um embarque aéreo, mas não havia ninguém,
apenas o imenso relógio.
A cada movimento do
relógio seu coração já havia batido duas vezes, ele percebia que alguma coisa
lhe fugia, seus pensamentos estavam presos no caminhar do relógio.
Pensava apenas no
mal estar que sentia, nas coisas que deixara de fazer. Das que fizera, não
podia arrepender-se, porque o arrependimento não é capaz de fazer o relógio
retroceder!
Fixava o relógio,
fixava o ponteiro, inexorável, irreprimível. Com violência seu coração
disparava na velocidade maior que o ponteiro. Travava-se uma corrida entre
ponteiro e pulso, cada um medindo alguma coisa intangível.
Via os segundos
passando, olhava fixo o relógio, sem compreender a realidade de sua existência.
Media cada um de seus pensamentos pelas dores que sentia, e pelo avançar
daquele ponteiro, que nenhuma compaixão tinha pelo seu sofrimento.
Sentia que iria
morrer, que não mais sabia a idade que tinha, sabia apenas que vivera muitas
vidas, que tinha tido muitos filhos, que tinha encontrado centenas, milhares de
pessoas, que seu destino estava ligado a todos e a cada um dos habitantes do
planeta que agora o oprimia, com sua órbita inexorável, fazendo com que os dias
se sucedessem, apesar do desejo de que tudo parasse.
Não havia ninguém
perto dele, e fixando mais uma vez o relógio que avançava, percebeu com horror,
que o único ponteiro que se lhe apresentava era o de segundos.
Onde estavam as
horas? Onde estavam os minutos? Percebeu então e só então, que não há dias,
noites, horas, minutos, mas apenas o palpitar de seu coração como medida de seu
ensandecimento, de seu ensombrecimento, do cansaço de seu juízo!
Não uma segunda,
após um domingo, sequer uma sexta-feira depois de uma quinta-feira, ha apenas
convenções, cuja estupidez humana atribui poderes mágicos!
Convenções que agora
não faziam nenhum sentido! Seria um pesadelo, estaria ele perdido, olhando para
um relógio sem sentido, em um não lugar!
Não, ele estava num
estado de ânimo desesperador que o acompanhava já há algum tempo, que não lhe
permitia a paz necessária para ficar feliz. Todos os dias, em pânico, se
defrontava com aquele relógio, imenso, pregado a sua retina, com apenas um
ponteiro, anunciando a morte súbita, um desastre, uma dor, uma perda, que não
sabia calcular, mas sabia real e vivida!
Chegou a um estado
de exaustão e desespero, paralisantes, ofegante, desesperado dispara pelos
corredores, avança pelas ruas, pelas praças pelos edifícios, prestes a ter o coração
saindo-lhe pela boca!
Desfalece de súbito,
desaba, apaga seu tormento, afunda sobre uma poça, numa esquina qualquer, o
olho vidrado, mas já não mais acordado, sem deixar de escutar os segundos
escoando no relógio medonho de um só ponteiro, que media os intermináveis
segundos de sofrimento que destruíam sua sanidade!
Desfaleceu.
Acordou três dias
depois em um hospital, atendido por médicos tão distantes quanto o relógio que
o perseguia, comunicando a ele que tivera um Ataque de Pânico.
Nada disso o
confortou, apenas descobriu que entre o relógio e os médicos, residia o pouco
de sanidade que lhe permitiria existir ainda por algum tempo!
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