Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Uma história






Entardecia, o sol se punha,
A rua como um funil, onde
Cada veículo tentava em vão,
Ocupar o mesmo espaço do outro!

O calor, o ar condicionado, o rádio,
Notícias? Sempre as mesmas,
Desgraças, violência, corrupção,
Uma monotonia que se repete!

As pessoas, com rostos borrados,
Indo e vindo, de nenhum lugar,
Para lugar algum, pelo menos,
Para quem estava preso no funil!

Mas de súbito, estava lá,
Uma jovem, queimada do sol,
Com idade incerta, entre 20,
Talvez 30 anos, maquiada!

O rosto era belo, o cabelo,
Preso atrás com um laço.
Usava um collant negro,
Calça fuseau negra, curta!

Uma pequena saia plissada,
Tendo por estampa as dos kilts,
Miçangas como pulseiras...
Botina com fivelas nos pés!

O mover-se gracioso, até delicado,
Mas o rosto, mesmo belo, duro...
Olhar distante e nas mãos,
Tochas de malabar...

Inopinadamente senta no meio fio,
Abre uma sacola, dela retira um par de tênis,
Descalça as botas, coloca um dos pés,
Senta arqueada, procura alguma coisa.

Cata o celular que estava perdido na bolsa,
Como sempre está em todas as bolsas...
Não atende, fica olhando quieta a tela,
Um pé calçado, outro não...

Imaginei todos os lugares,
Onde ela vivia, o que fazia,
Como poderia se chamar,
Qual as suas alegrias...

Quais as suas tristezas,
Senti, percebi, intui, toda uma história,
Mas antes que ela pudesse calçar,
O outro pé, seguiu o fluxo o funil!

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