Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Céu distante






O céu parece tão distante,
Impossível de ser alcançado com uma escada,
Fugidío sempre que tentamos alcançá-lo
Com um foguete,
Com mil foguetes,
Com milhares de ideias,
De alcançá-lo,
De tocá-lo,
De chegar ao fim,
Do Céu universo,
E no entanto,
Alcanço sempre a beatitude,
De me achar,
Plenamente no Céu,
No instante,
No momento de te amar.

Por que procurar um Céu distante,
Se tão perto de mim,
Está você,
Meu eterno,
Infinito céu,
Pleno de prazer,
Pleno de desejo,
Pleno de realização,
Pleno em seu interminável,
Prazer de beijar,
Prazer de gozar,
No momento,
Em que o Céu não está distante,
Mas dentro de mim,
Que estou dentro de você!

Céu distante,
Que permaneça no firmamento,
E não desabe sobre mim,
Enquanto eu estiver em você,
Céu distante,
Que não faz qualquer sentido,
Se não puder alcançar,
Em cada ato de amor,
Teu coração,
Teu amor,
Tua presença,
Em minha vida!

Céu distante,
Que está tão perto,
Do ato de amar!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Razão de ser






Acreditamos sempre,
Ingenuamente, 
que temos,
Sempre tivemos,
Uma razão de ser,
Buscamos desesperadamente,
Em nossa pequenez,
Em nossa insignificância,
Um motivo qualquer,
Qualquer motivo,
Que nos faça especiais,
Que nos faça objeto da graça,
Que nos faça objeto da ira,
Que nos faça objeto da bênção,
Ou ainda, objeto do castigo,
Como se fôssemos realmente,
Pensados, desejados.

Não, nossas mesquinhas vidas,
Não têm objetivos,
Não têm sentido,
Não têm qualquer razão,
Para o bem, para o mal,
Somos tão insignificantes,
Que buscamos,
Incansavelmente nos diferenciar,
Fazer a diferença,
Amar, ser amado,
Escrever, ser lido,
Fazer coisas excepcionais,
Para simplesmente ser admirados,
Mas tudo isso é vão,
Tudo isso é inútil,
Porque no final das contas,
No balanço diário,
Encontramo-nos cercados,
De nossa mediocridade,
De nossa desimportância,
Tão devastadora,
Que temos que projetar,
Fora de nós, tudo que cremos,
Seja bom, especial,
Honesto e honroso,
Em nosso existir!

Imploramos a graça,
De sermos amados por nós mesmos,
Imploramos a graça,
De alcançar objetivos,
Mesquinhos,
Pequenos,
Insignificantes,
Que só fazem sentido em nossa,
Deslumbrante estupidez,
Mas que projetamos,
Como se fossem graças,
Bênçãos, reconhecimentos,
De um outro, fora de nós,
Que nada mais é,
Que a projeção vazia,
Impiedosa de nós mesmos.

E isto é o resumo,
De tudo que sentimos,
De tudo que imploramos,
É o resumo, desta pequenez,
Que se reduz a nada,
Sempre no desespero,
Da solidão,
Da singularidade,
Da nulidade,
Que encontramos ao olhar,
Profundamente, 
nos olhos,
Que miramos,
Quando olhamos o espelho.

Talvez por isso,
Percamos tão pouco tempo no espelho,
Porque talvez, tenhamos muito...
Muito medo do que podemos ver...
E descobrir,
Que não há razão de ser,
Mas mera expectativa de existir,
Pouco mais, do que um nada,
Pouco mais, que uma insignificância!

Não há razão,
Não há motivo,
Não há futuro,
Além do imediato,
Além do agora,
Além do sentimento de abandono,
Que se perpetua,
Todos os dias,
Que temos a coragem,
De olhar no fundo dos olhos,
Da imagem que nos inquire,
Sobre a razão, que é...
Desrazão!

Lógica do Erro





Errei, será?
Imaginei que pudesse me amar,
imaginei que pudesse importar-se comigo,
imaginei que fosse possível começar,
como tudo que começa,
sem destino,
sem tempo,
sem pressa,
sem deveres.

É, errei, parece...
mas terei errado de fato?
Apenas por ter te desejado,
sem outra razão que
ficar deslumbrado com tua beleza,
com tua elegância,
com teu sofrimento,
com tua leveza,
com teu carinho.

E se errei, por que errei?
Errei porque me encantei com teu olhar,
porque me encantei com a delicadeza,
de tudo que te cerca,
de tua forma bela e doce,
de agradecer cada coisa,
de agradecer cada mimo,
de agradecer cada promessa,
será que tudo que te cerca,
será que tudo que fazes,
será que tudo que ouves,
será que tudo que guardas,
não merece de mim,
como do mundo,
a mais plena admiração.

Talvez, com certeza,
pode ser, que errei?
Se apenas pude,
indefeso,
inerme,
vencido,
prostrado,
reconhecer que sois
uma deusa,
que arquitetas ideias,
arquitetas pensamentos,
arquitetas sentimentos,
arquitetas o mundo,
onde prende, com encantamento,
todo o incauto mago,
que de ti recebe sua magia.

Errei, erraria de novo,
e mais uma vez,
e talvez nunca aprendesse,
que és incapaz de amar-me,
porque a lógica do erro,
é apenas e tão somente errar,
sem o qual, não seria erro,
mas um simples engano,
sem nenhuma das belezas,
que erro encerra em si,
beleza esta que se resume,
em dizer que nos apaixonamos,
antes que o outro se apaixone,
em dizer o que sentimos,
antes que os outros se convençam do que sentem,
em dar tudo de nós,
antes que o outro sequer perceba que pode dar,
qualquer coisa,
alguma coisa,
muita coisa,
coisa alguma,
apenas por amar!

A lógica do erro,
é então,
errar,
tão simplesmente,
como um beijo negado,
como um olhar desviado,
como um recado não respondido,
como uma lágrima triste,
solitária,
abandonada, sem mão,
que a colha de maneira suave,
tão suave,
que apenas molhe a mão,
restando a face seca,
enxugada pelo amor,
que ao recolher a lágrima,
deixa a ternura.

Errei,
tantas vezes,
e tantas vezes continuo a errar,
que já não me preocupo com o erro,
mas com a possibilidade de deixar de errar,
o que seria, tão e tão somente,
morrer.

Chamado






Quantas vezes me chamares,
Quantas vezes me desejares,
Tantas vezes estarei pronto para partir,
Ao encontro de te dar,
A certeza de que em meu pensamento,
Existe sempre, sempiternamente,
A vontade de te amar.

Quantas vezes precisares,
Quantas vezes quiserdes,
Estarei eu pronto,
Para acarinhar-te,
Para dar-te uma segurança,
Que não tenho em mim,
Que não tenho em ti,
Que tenho apenas quando me chamas,
Que se realiza com o chamado!

Assim, não perca, sempre,
O sentido, de ouvir-me,
Gritar no silêncio da distância,
Que se me chamares,
Estarei a teu lado,
Apenas para dizer-te
Que desejo te amar,
Que se não o quiseres,
Que se não o desejares,
Que se não mo permitires,
Ainda assim, quedar-me-ei a teu lado,
Em silêncio, invisível,
Porque o amante,
Quando chamado,
Está condenado ao olvido de si mesmo,
Para viver a lembrança do amado!

Chamado,
Pode não fazer sentido para o que chama,
Faz todo o sentido para o chamado,
Pode não dizer nada do que sente o amado,
Mas é todo o sentido do amante!

Chamado,
Espero o teu,
Agora,
Hoje,
Sempre,
Apenas!