Estava
sentado, lia poemas de Mário, um filho, neto, bisneto de generais,
nascido na pátria-mãe Portugal.
Corria
os olhos com satisfação sobre a biografia do poeta, que morrera aos
escassos 25 anos em Paris, num abril de 1916. Tinha nascido em 19 de
maio de 1890, um tempo em que no Brasil, marechais perjuros,
governavam uma república positivista, sem que o povo entendesse,
porque na monarquia havia partido republicano, que diga-se, nunca
elegeu mais que dois deputados, e na república os monarquistas eram
encarcerados, perseguidos, seus jornais e revistas empastelados.
O
mesmo ocorrera em Portugal em 1908 com o regicídio do Rei Carlos I e
seu herdeiro Luis, bem como, em 1910, um golpe militar depusera D.
Manoel II, que deixara o país, como seu parente distante Pedro II
fizera no Brasil, 21 anos antes, com o único fito de não derramar
sangue de seus compatriotas.
Mas
enfim, este Mário de Sá-Carneiro, cometera suicídio na cidade luz
em plena belle époque, e qual teria sido a razão de fado tão
desditoso, já que em tão pouco tempo de vida, tinha como parceiro
de escritos o inigualável Fernando Pessoa, tornara-se uma promessa
da poesia em na mais jovem língua latina, e emprestava a ela, toda a
beleza e genialidade dos homens capazes de transbordar de amores?
Tinha
uma história familiar dorida, perdera a mãe muito cedo, com apenas
4 anos, e depois, criado pelo avô, na medida em que o pai, militar
de carreira, viajava pelo Império Português, perdido entre os
domínios de África, da Ásia e ainda como adido militar em Paris. O
avo lhe dedicara amor intenso e cuidados, mas um ano antes de falecer
a avó que fizera as vezes de mãe, soube que o avo tinha uma amante,
muito jovem, e com ela filhos, tios que o mais velho, lhe era 15 anos
mais novo.
Sofrera
perdas, morte da mãe, traição e morte da avó, perda do afeto
avoengo para os tios tão mais jovens, não conseguira suportar as
tristezas e separações, não percebendo que era esta mesma tristeza
e as doloridas separações que lhe davam os motivos para transbordar
rios de encantamento feito poesia, que como mágica, desnudavam a
alma dos que sofrem as perdas do amor.
No
entanto, creio, ao ler o opúsculo, breve, biográfico, que o motivo
de sua desdita e do abandono injustificável da vida, do talento e da
promessa, era que estava sempre a anunciar uma “nostalgia do amor
sem a nódoa do sexo”.
Não
compreendo como se pode sentir a saudade do amor, sem que se deseje a
consumação da carne, o fundir-se no outro. Talvez, e só talvez,
para Sá-Carneiro, o amor materno que não se realizou, ou que se
despedaçou, nas perdas irreparáveis que sofrera, ficou sendo o
paradigma do amor buscado, do amor perdido, do amor desejado.
O
amor materno sim, é concebível, pode prescindir do sexo, mas o amor
de fato, o amor nascido do desejo, o amor que é paixão e vontade de
fusão, este é não resumido no sexo, mas realizado nele.
Podemos
amar e abstrair o sexo, podemos inclusive, conceber o sexo, apenas
por ele mesmo, coisa perigosa, porque pode levar ao amor, mas amor
sem sexo, nostálgico, apenas pela falta de um amor que pode se
resumir como maternal.
Todos
os homens, em sua imaturidade cruciante, buscam algo de maternal, nas
suas relações de amor, no entanto, as mulheres que se compadecem de
si mesmas, que julgam que em algum momento o casamento será uma
relação casta de cuidadores entre si, tendem a se decepcionar,
porque amor, é fusão, conjunção, confusão de almas, consumidas
pelo desejo, que medeia e perpassa todas as relações.
Sá-Carneiro,
este Mário, poeta insigne, promessa de um outro Fernando Pessoa,
suicidou-se em Paris, porque não via as mulheres como desejo, e
assim, não tinha lugar no mundo, onde não é possível ter
nostalgia de amor casto sem a nódoa do sexo.
Amor
de verdade é todos os dias marcado, lambuzado, suado, enodoado de
sexo!
Uma
pena que Màrio não tenha encontrado uma Messalina, estaria vivo,
poemando, e teríamos o prazer de ler seus poemas, escritos até a
poucos anos, com vários pseudônimos, todos, para dar conta dos
múltiplos que somos, para dizer do amor!
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