Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Nossos Ossos






Sinopse:

"Meu nome é Heleno. Sou dramaturgo, protagonista deste prosa longa, primeiro romance de Marcelino Freire, e tenho um corpo morto de um michê para entregar ao seu pai e à sua mãe, mas não sei quem são e nem onde estão.
Tudo porque nada escapa ao teatro. As coisas todas vêm ao palco e ficam aqui para sempre. Cheguei em São Paulo por causa de Carlos, meu primeiro amor, e para escrever peças, encantar plateias, 'revelar esse mundo e inventar outros'. Para curar doenças, sofrer, amar, ser feliz, ser normal, ser outro, sempre outro narrando também a melancolia da infância, os restos mortais de tudo o que foi falado em minha casa e os fósseis que eu achava em meu quintal.
Ah, se não fossem o público, os diretores, os jornalistas, os atores, os preparadores de elenco, os produtores, os outros nordestinos da técnica, eu não poderia fazer cara de necrotério, essa cara de forte, cara de rico, cara de vingança e cara de nada quando fico representando só para mim.
E aí vêm meu amor pelo boy, Lourenço me levando para ser 'enterrado no coração de meu pai', o carinho por Picasso, a sinceridade arisca do michê, os seios de Estrela, o porteiro, o assassinato, o bancário, os outros michês, a fábrica de dominó, meus nove irmãos, o delegado, o IML, o cara do táxi no ir-e-vir dessa narrativa que Freire inventou. A malandragem paulistana. As pessoas da noite. As padarias...
O teatro para mim era besteira d'alma, eram as brincadeiras vespertinas de criança, a cruz da interpretação, era a lembrança de minha mãe (todas as personagens que eu inventei são ela).
Nesta vida, amei os aplausos, as viagens, as críticas de elogio, o sexo de curiosidade com os artistas bem-sucedidos, as metidas de rua, adorei foder gostoso atrás dos fliperamas.
Eu amei de tudo e vou continuar amando."
Heleno de Gusmão, em depoimento ditado para Paulo Lins.

Minha Opinião:

O primeiro romance de Marcelino Freire é inteligente, ágil, de linguagem que se aproxima da prosa poética. Muito agradável de ler.
Se ambienta numa São Paulo olhada a partir do mundo de gays, michês, travestis, enfim, um romance ambientado com a lógica de um grupo que vaga pelas ruas e pelo mundo que se espalha pela cidade imensa.
Construído para ter a cadência de uma peça de teatro, termina com o encerramento das cortinas, e neste momento, fica um sabor de quero mais, de que a leitura, muito agradável, poderia continuar, por muitas horas.
Os personagens podem ser trocados, os ambiente não, mas o romance abre perspectivas de um escritor que se lança nas entrelinhas dos sentimentos angustiantes de abandono, sentimentos que desnudam traições sentimentais que acontecem entre homens e homens, mulheres e mulheres, homens e mulheres, porque todos humanos, demasiadamente humanos.
Uma das boas leituras deste início de ano!

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