Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Scheherazade






Vem...
Vem...
Estou aqui sozinho, perdido,
A noite como um mausoléu me envolve,
Em delícias, que só fazem sentido em você!

Andamos de mãos dadas nos sonhos,
Que tenho todos os dias,
Andamos, como almas gêmeas,
Que se confundem, sem perder,
As silhuetas distintas,
Que vagam,
Flanam,
Voam,
Pairam,
Como nenúfares,
Perdidos no Rio atravessado por Caronte...

Barqueiro,
Todos os dias, pede-me moedas,
Não tas dou,
Por que?

Não hei de partir sem antes, amar,
A mais bela,
Mas uma sombra ainda me persegue,
Como mancha...
No muro,
Na calçada,
Na estrada,
Que se perde,
No horizonte,
Para além de Hades...

Escuto,
Escuto,
Escuto...

Meu coração bate,
Ao som de Scheherazade,
Sim, tu és a princesa,
Sinfonicamente traduzida,

Mas onde estás,
No silêncio,
No ruído da chuva,
No gemido,
No vagido,
Onde estás?

Agora sei..
Onde está tua sombra,
Se não a encontro,
Ou te fundistes em mim,
Ou te esfumas,
Como a fumaça da chaminé,
Que denuncia,
O aquecimento do ar,
Produzido pela destruição,
De todas as promessa,
De todos os escritos,
De todas as esperanças,
Destruídas,
Pelo fogo ritual,
De uma paixão,
Inacabada,
Inacabável!

Lanço-me pelo Volga,
Alcanço os Urais,
Despejo-me em Pripet,
Danço em Masúria,
Perco-me na face oculta da lua,
Sem nunca ter,
Saído da calçada,
Onde cego,
Apalpo o tempo,
Corro a ausência de espaço,
Suspiro os passos,
Apenas para gritar em silêncio,
Teu nome,
Que todos os homens,
Não podem ouvir,
Que todas as mulheres,
Emudecem...

Diluí-me em teus véus,
Sumi...
Sumi...
Sumi...
Entre tuas pernas,
Dilui-me em teu ventre,
Escorro pelo Vístula,
Derreto nos Alpes,
Para perder-me no Danúbio...

Escondo-me em teu seio,
Para perder-me de mim,
Fundido em você...

Atormenta-me a sombra,
No muro...
Que não nega,
Meu existir...

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