Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Desconsolação






Guardo aqui, em algum canto,
Em muitos cantos,
Umas fotografias, que...
Dizem de mim, dizem de meu passado!

Guardo aqui, muito bem guardadas,
Fotografias, emudecidas, já não falam seus personagens,
Alguns, já nem respiram...
Outros, não serei mais capaz de encontrar,
Meu consolo, é que aqui estão elas guardadas,
Preservadas do tempo, como provas,
De que existi, e que existiram em mim,

O papel grosso, opaco, em escala de cinza,
Dizem da preciosidade que são estas fotos,
Que sei sempre onde estão,
Porque outros antes de mim, as guardavam,
Como se tesouros fossem!

Encontro nelas meus pais,
Estes quando casavam, jovens,
Sorridentes, promitentes...
Encontro nelas, meu pai, orgulhoso,
Segurando-me no colo, como troféu,
Hoje, maior do que ele,
Seria incapaz de equilibrar-me,
Naquele colo poderoso...

Desconsolação...
Constatação de que hoje,
Fazemos milhares de fotos,
Frágeis, casuais, inexpressivas,
Sem conteúdo, sem sentimento,
Que se perdem, em cartões de memória,
Em HDs que se desfazem,
Computadores obsoletizados,
Em milhares de pastas de ficheiros,
De imagens, que já nem sabemos quem são,,,
Desconsolação...
Sentimento de desamparo,
De não mais pertencimento,
De esquecimento, imperdoável do que somos,
Do que vivemos, e do nosso existir.

Tornamos troféus da memória,
Em banalidades descartáveis,
Apenas expressão de nossa avidez,
Boçal avidez pela fugacidade do momento,
Numa perpetuação da falta de sentido,
De uma vida, cada vez mais,
Desconsolada!

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