Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Fraqueza não, estupidez fatal




Tenho lido com muita atenção os textos de Hélio Schwartsman que tem feito da página 2 da FOLHA um espaço maravilhoso de reflexão. Clóvis Rossi teve um sucessor digno do colunista que deixou o espaço!
Na maior parte das vezes eu teria que concordar com Hélio em todas as suas colocações, com sua lucidez na análise das questões como a absolvição do réu da acusação de estupro de duas meninas menores, da contradição e do erro de considerar constitucional a criação de cotas raciais.
Hoje, porém tenho de discordar. Acredito que a invenção da polícia foi uma das piores coisas que aconteceram à humanidade. Quero me fazer entender, não sou contra os policiais, que são dignos servidores públicos, que têm uma importante e ineludível função social. Meu problema é com a instituição policial, que por todos os ângulos que se lhe analise, é antes de tudo um problema, muito mais que uma solução.
A polícia compreendida como um subproduto do Estado Leviathan pensado por Hobbes, e por tal, uma consequência do contrato social de homens envilecidos por sua natureza, é antes uma denúncia de nossa hipocrisia e de nossa impiedade, do que uma forma de institucionalização da violência para proteção de todos os homens e mulheres.
O monopólio da violência pelo Estado não é uma garantia de paz social. Não o é porque o Estado não é eficaz e muito menos eficiente. Hoje mesmo em reportagem na Globo News havia a constatação de que a sociedade brasileira gasta muito mais do que o Estado em segurança. Ou seja, além de transferirmos o monopólio da violência para o Estado, este por sua própria ineficiência, cria uma demanda por violência privada, tolerada pelo Estado, e que, além de expor-lhe a falência é uma denúncia de que, não interessa aos governos providenciar que o Estado seja eficiente, porque isto não permitiria a apropriação privada da violência permitida.
A estupidez que marcou o plebiscito sobre a permissão do porte de armas foi algo que explicitou bem a união da esperteza com a sandice. Por óbvio que permitir que o cidadão se arme não diminui a violência. Só a multiplica.
Dizer que todos os ladrões saberiam que a população está desarmada é antes de tudo um exercício de má fé. Posto que qualquer um que tivesse arma estaria cometendo um crime. Um homem, qualquer homem, que tenha uma arma e que acredite que pode usá-la é um potencial criminoso, mesmo que se pareça com São Francisco! Não há como afastar que uma arma só serve para uma única e exclusiva coisa, ferir as pessoas, roubar-lhe a vida.



Quando um policial civil tenta entrar armado numa agência bancária, sem estar a serviço ou sem ter sido chamado para atender uma ocorrência, ele está sim praticando uma violência.
Vou contar um fato que me marcou, e que em minha história explica porque nunca peguei numa arma, e por acreditar que nunca pegarei numa por qualquer motivo.
Tinha ainda 7 anos quando corria o regime militar, e minha tia que tinha uma Rural resolveu levar a minha mãe, meus dois irmãos, eu e meus três primos para sua fazenda em Tibagí, saindo de Ponta Grossa. No meio do percurso fomos parados por uma batida da polícia civil (DEOPS ??) e policiais do exército. Fizeram-nos sair todos do carro, e apontando, o que vim a saber muito mais tarde, fuzis (os policiais do exército) e calibres 12 (policiais civis) fizeram minha tia e minha mãe abrir todo o carro, e nos colocaram em fila na beira da estrada.
Sempre acreditei que naquele momento passei a ser revolucionário, não para matar ninguém, mas para destruir com ideias o arbítrio e a estupidez. Se duas mulheres e seis crianças numa Rural poderiam representar um perigo para o Regime, que regime era esse? Armas só servem para intimidar, só servem para mostrar o quanto o mais forte tem medo de   mostrar que sem a arma, é apenas um pálido reflexo de uma coragem inexistente!
Contra o tráfico a polícia não funciona, como a grande maioria dos assassinatos está relacionada com o álcool e com drogas, a polícia é pouco efetiva na grande maioria dos crimes de morte. Um policial que ganha pouco mais de R$ 2 mil não pode expor impunemente a sua vida. Nem eu o faria. Num confronto com traficantes drogados, quem tem mais a perder? Somos uma sociedade de hipócritas se queremos que um soldado dê sua vida por uma miséria. O problema não é a polícia ganhar mal, o problema é acreditar que uma sociedade de consumo, que gera imensas necessidades nas pessoas tem a intenção de se proteger daqueles que querem participar do festim, fingindo que constituem uma instituição para reprimir a violência gerada pelas próprias necessidades que impõe!
Acerta Hélio quando diz que o sistema funciona relativamente contra crimes de roubo de banco. Mas quanto a polícia recebe para elucidar tal crimes? Ou, melhor, avaliemos a estupidez de uma trinca de meliantes que tenta roubar uma joalheria de um shopping caríssimo no centro de uma capital como recentemente aconteceu em Curitiba? Com certeza metade da polícia de choque estaria atrás deles em menos de alguns minutos! Assim foi!
Não estão errados os policiais, estamos errados nós que elegemos maus governantes e representantes, e vamos parar de passar a mão na cabeça do povo, de todos nós, os responsáveis por termos tráfico, somos nós, quem é que vai comprar peças na robauto, quem aceita comprar um aparelho de R$ 4 mil por R$ 800, quem aceita descobrir uma maneira de diminuir o prejuízo negociando com aquele que lhe furtou?
A única maneira de resolver uma parte grande, talvez a mais significativa, é resolver o problema da drogadição, é procurar fazer o caminho inverso do que se está a fazer com o cigarro!
Não está na hora de começar a escutar o que tem a nos dizer Fernando Henrique Cardoso!
Difícil mesmo é ter humildade para enteder que a violência é inerente ao ser humano, e que assim, o que temos que fazer é buscar formas de canalizá-la para coisas positivas.
Vamos pensar juntos? Pensar dói!

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