Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

domingo, 27 de maio de 2012

O aborto ao alcance de todos




O título acima retirado da coluna de Élio Gaspari na FOLHA de domingo é mais um alerta, é mais um motivo de reflexão.
Alerta o jornalista que um levantamento do Ministério da Saúde teria identificado aproximadamente 359 sites que vendem pela internet a medicação Cytotec que todos sabemos é capaz, por suas reações adversas, provocar o aborto. Em tais sítios da Web a medicação pode ser comprada por R$ 350,00 com cinco comprimidos.
Se o Ministério da Saúde encontrou 359 sítios que vendem a droga que promete a interrupção da gravidez, podemos estar certos de que há muitos mais. O problema não é a  venda da droga, illegal, mas que enquanto a questão da interrupção da gravidez for mantida numa moldura teológica absolutamente inadequada num Estado que se diz laico, a vida real teimará em escancarar para todos nós que praticar a interrupção sempre estará ao alcance de todas as mulheres que desejam, que necessitam ou que em seu desespero procuram uma forma de alcançar a interrupção colocando suas próprias vidas em risco.
A história das agulhas de tricô e das sondas intra-uterinas não são lendas, mas trágicas manobras primitivas que denunciam a incensatez da criminalização de algo que tem como substrato a dor, a vergonha, o medo e a culpa.
Sabemos que o maior problema hoje quando tratamos da interrupção da gravidez é a hipocrisia e o falso moralismo de uma sociedade que se laiciza mas, que faz questão de render tributo indigno a um Deus desapiedado de nossa humanidade.
Enquanto a democracia cobrar o seu preço na ignorância do eleitor, que elege pastores, que elege bancadas evangélicas numa confusão dolorosa entre o público  e o privado, estaremos reféns da indignidade de criminalizar mulheres que interrompem voluntariamente sua gravidez.
A indecência de termos um tipo que criminaliza a maternidade indesejada e voluntariamente interrompida é que deforma a moral e o caráter do povo, o que torna possível a venda de um medicamento, por R$ 350,00 cinco comprimidos.
A conta deveria ser paga por todos os que fazem lobby contra a descriminalização do Aborto.
Deo Gratia!

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