Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Guardados





Entre os guardados, achei um pedaço de você,
Sabia que estaria lá, porque nunca fostes embora,
Sabia que te encontrarias, porque sabes o que sou,
Sabia que te acharia, porque nunca me perdi de você!

Entre os guardados, todos os pedaços de minha vida,
Há encantos, há dores, há desesperos,
Mas é sempre lá que encontro os melhores,
Pedaços, retalhos, estilhaços de mim!

Entre os guardados, todos eles rearrumados,
É que encontro cada fragmento de minha história,
Assim, reescrito, pelo meio, ou inacabado, todo,
Reunido, espalhado, mas sempre intensamente vivido!

Entre os guardados, guardo sempre o melhor de você...
E é por isso que não me perco de teu olhar, nem de teu carinho,
É por isso, que basta evocar cada momento vivido,
Para então afundar-me inteiro nos guardados que tenho!

Entre os guardados, reconheço o pouco de certezas que tenho,
Entre eles sei que minha existência faz algum sentido,
E este sentido se constrói em cada encontro, em cada desejo,
Permitindo que eu exista por mais um dia, apenas para guardar você!


Pandora





Diziam os gregos que Pandora,
A primeira mulher que existiu,
Criada por Hefesto, o deus do Fogo,
E por Atena, deusa da Sabedoria e das Artes,
A pedido de Zeus todo poderoso,
Para alegrar aos homens,
Era aquela que tudo dava,
Aquela que tudo possuía,
Aquela que tudo tirava!

Assim, em cada mulher,
Permanece uma Pandora,
E quando esta mulher,
Reúne em si, graça, inteligência,
Juventude, beleza, determinação,
Não alegra ao homem, mas escraviza-o,
Porque apenas ela pode tudo dar,
Porque apenas ela tudo possui,
E assim, tudo tira!...

Cada mulher, uma Pandora,
Cada mulher, um universo de sabedoria,
Arte, doação, ternura, opulência,
Cada mulher, um destino que arrasta,
E como Pandora, deixa atrás de si...
Apenas uma esperança de não ser devorados,
Pelo sorriso, pelo olhar, pelo desnudar,
Da mulher que nos torna dependentes,
De apenas um existir seu...

Cada mulher uma Pandora,
Como resistir-lhes, se tão jovens?
Como resistir-lhes, se tão sábias?
Como resistir-lhes, se tão belas?
Como resistir-lhes, se tão humanas?
Como resistir-lhes, se tão divinas?
Como resistir-lhes? - Se tão fracos...
Nós que criamos tantas leis e mundos,
Apenas para garantir que não pareçamos,
Servos tão absolutamente entregues,
Aos caprichos de Amor!

Pandora,
Ainda bem, que não sabes teu poder!

Se mãe gastasse...





Todos dizemos, se mãe gastasse...?
Quando tinha fome, nem falava, bastava chorar!
Quando estava sujo, e que sujo, bastava chorar!
Depois vieram o aprender a comer, a andar, a falar,
Estava sempre alguém ali, e daí, das primeiras palavras...
Aprendi a dizer mãe!
Mas antes de dizer que a amava, dizia,
Mãe, água...
Mãe, fome...
Mãe, quero...
Mãe, dá...
Mãe, mãe, mãe...
E sei lá por quê?
E depois vieram os não, agora não!
E eu sempre testando limites, dizendo...
Mas. Manhêeeee!
Ficamos maiores, problemas maiores,
Mas ainda assim, quando tudo dá errado,
Ou ainda muito certo...
Manhêeeeee!
E, continuamos, mesmo muito tempo depois,
Chamando essa heroína tão particular,
Tão única, tão anônima,
Mas com certeza a protagonista sem a qual,
Não existiria qualquer história para ser contada!
Ah, se mãe gastasse...
Mas entre as perfeições de Deus,
Entre as razões do Universo,
Certamente está...
- Mãe, venha aqui!!