Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Encontros





A vida é uma sucessão ilógica de acontecimentos,
Todos tão frouxamente encadeados que muitos,
Parecem permanentes e verdadeiros, imutáveis,
Mas a vida insiste em serpentear o universo,
De todas as vidas possíveis, de todos os sonhos sonhados,
E assim, muito de repente, o caos se estabelece,
O tempo, não parece mais um tempo encadeado,
A idade, não parece mais um limitador para contar a história,
E então, confundem-se a sucessão das causas,
Confundem-se numa explosão estrepitosa, as consequências,
E passamos a viver um tempo, não tempo,
Não existimos mais no encadeamento plausível,
Não conseguimos mais nos encaixar na sucessão dos fatos,
E misturamos nossa vida com a do outro, e percebemos,
Que não faz mais sentido o tempo que vivemos,
E não percebemos a lógica da sucessão causal.
Sentimos uma necessidade imperiosa de recontar,
De reestruturar passado e presente em nova síntese,
Queremos ter filhos para além dos filhos que temos,
Queremos fazer mil vezes amor, para além dos amores que fizemos,
Queremos viver intensamente o momento do gozo, para além
De todas as paixões,
De todas as sofreguidões.
De todas as explosões e estases vividos!
E então, temos de recontar o passado, para poder viver este presente,
Temos de refazer memórias para incluir aquele que dá novo sentido,
Para fazer sentido na vida que segue novos leitos, novas imensidões!
Que podemos fazer se a vida é feita de encontros, desesperados,
Desejados, intensamente buscados, para justificar nossa existência?
Encontros, não são casuais, mas desejados, planejados no futuro
Para dar sentido e concretude ao nosso passado!
E então toda razão se revela, no espaço intimo do leito de amar,
Onde a parte melhor de mim se funde no mais belo existir do outro!
E assim, vou vivendo intensamente esta ilogicidade da vida,
Esta falta de sentido, que é vencida no encontro do amado,
Que atribui sentido, inesperado, perturbado, avassalador,
E que expõe o absurdo do tempo, o absurdo da causa e do efeito,
Que ganha novo sentido no encontro, que desejo, seja definitivo,
Para então poder, de forma acabada, reescrever minha história,
Para incluir o outro, em cada lembrança, em cada momento,
Para colorir com o outro, cada momento vivido, dando novo sentido,
Atribuindo novo valor, a cada fato da vida percebido como parte,
Do todo que me constitui como unidade, como singularidade,
Neste existir, que sem paixão, não seria mais que um suspiro insignificante!

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Vivo a experiência da angústia!





Imaginas sempre que estou distante porque quero,
Imaginas cândida que não te tenho em meus pensamentos,
Imaginas que quedas excluída do que faço, do que deixo de fazer,
No entanto é tua presença, viva e doce, que torna suportável meu viver!

Estes são versos roubados de Morpheu, e por tal alucinados,
Pela irrealidade que cerca o pensamento e a sensação deformada da realidade...
Mas eram tão urgentes, que tive de arrastar-me até as teclas do computador,
Com um sentimento bizarro de presença e ausência, incapaz de escrever corretamente,
Tento buscar a forma adequada de dizer de minhas angústias que toldam e dilaceram minha alma, que toda te pertence.

Se nos dias mágicos que subtraímos da triste e árida realidade...
Vivemos encantamento, magia, promessas, este dom parte de ti,
De tua coragem como mulher de enfrentar a dúvida, de acreditar...
Na presença, na beleza, nas palavras, na sofreguidão de um amor feito de desejo e paixão!

Poderia escrever mil versos, e não declinaria teu nome, porque ele...
Ele só a mim pertence, e torna-se o meu, eternamente meu, em mim, quando nos fundimos no ato de amar!
Eu sei teu nome e sei que sabes o meu, e quiçá neste momento repetes o meu, tão determinadamente, que perdi a profundidade do sono e ganhei turva lucidez de uma vigília precária!

Pois que seja assim, se este é o destino desta declaração de amor envergonhada...
Não pelo que sinto, não pela sua verdade, mas porque limitada por minhas fraquzes!
Talvez seja um grito antecipando de uma imensa explosão de permanencia e desejos inconsoláveis.

Estou imerso no zolpidem que insiste que me vá a dormir...
Bastam alguns segundos sobre os lençóis e imagino lendo um livro ao teu lado ou vendo um filme...
Com minhas pernas entre as tuas, meu calcanhar em tua vulva, úmida.
O desejo cresce,  conquista cada parte de mim e passa a ter um controle definitivo de minha vontade!

Estou no lugar errado, limitado por um hipnótico que amplia minha sensibilidade de tua falta.
Suportarei eu mais tempo sem tua presença? Sobreviverei a esta falta incontida e apaixonada que vai me dilacerando a existência?
Não, não estou mais preparado para ausentar-me impune de ti. Nossa casa!

De você recebo todos os sinais, o respeito, a admiração, o carinho, a ternura, a paciência misericordiosa com minhas falhas.
Existe um lugar para mim, e este lugar é o mais próximo de ti, dentro de ti, pelo tempo que conseguirmos realizar nosso desejo.
Se estou vivo é para viver intensamente o que sinto por você, que se faz única absolutamente, passando a preencher de sentido todos os aspectos da minha existência.

Não há aqui imposição, perseguição, o que tem é a candura do cuidado, da compreensão, é onde se preocupas comigo. É onde existo de fato e verdadeiramente, sem que seja uma única e última vez, que acredito não possa falhar!
Minha mente pode estar atabalhoada, medicada, insegura, mas tem claro que sua única razão de ser está em você que é vida, que é minha,, que se faz plenitude quando nos encontramos sobre o colchão de amar!

Ah... Se soubesses como vivo a angústia da falta... exclusivamente de você!