Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Onde estão os poetas






A poesia é antes de tudo sofrimento
A busca dos poetas se faz,
Por achar aqueles que sentem, amam,
Pensam e vivem as diferenças,
As ausências, as angústias,
Da vida, dos sentimentos, das pulsões,
De cada um e de todos os que vivem o tempo...

Onde estão os poetas, neste tão sofrido,
Neste tão abandonado e desmazelado país,
Que caminha aos tropeços, aos solavancos,
Marcado pela insensatez dos representantes,
Marcado pela inconsciência dos representados?

Talvez estejam tão dispersos, tão largados,
Incompreendido, abandonados,
Quanto sempre estiveram,
Talvez não mais morram de tuberculose,
Pobreza ou abandono,
Porque se tornaram tão invisíveis que,
Mesmo gritando nos mares e ondas,
Das redes e páginas virtuais,
Estão tão olvidados e incompreendidos,
Que seu clamor não são mais,
Que gritos estéreis no deserto.

Os poetas, onde estarão eles,
Que nem mais ser notados são,
Que nem mais compreendidos são,
Que não mais movimento podem causar,
Nas almas vazias que fazem passeatas,
Despidas de sentido pelas ruas congestionadas,
De pressas, de azedumes, de incompreensão,
De nossas cidades!?

Onde estarão os poetas, que nem mesmo sabem
Que poetizam uma realidade tão repetitiva,
Cujos jornais não precisam mais ser abertos,
Porque todos já sabidos, relidos,
Repetidos?
Onde estarão os poetas que podem dar sentido à vida,
Uma vida sem sentido, porque limitada,
Por instituições espúrias,
Tanto à esquerda quanto à direita,
Que sabem todas as verdades,
Que são mentiras mil vezes repetidas?
Onde estarão os poetas, que serão como redentores,
Das dores de pensar, que libertam,
Em torrenciais jorros,
As lágrimas de desespero e angústia,
De perceber que caminhamos para a ruptura,
Mais uma ruptura, da ordem,
Porque incapazes que somos,
De pôr cobro à vilania do status quo?

Os poetas estão aí, em todos os lugares,
Em lugar nenhum,
Por que continuam clamando,
No deserto de nossas consciências,
Pelo despertar dos sonâmbulos,
Deitados em berço esplêndido,
Esperando um redentor,
Um novo Sebastião,
Que ao fim e ao cabo,
Se torna apenas mais um fanfarrão,
A nos roubar nossos sonhos e ilusões!

Quero um poeta,
Mas onde estará ele?

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Prolóquio






Dizem...
Tenho um problema!
Teremos mesmo problemas?

Se o problema tem solução,
Basta solucioná-lo,
Ele não é um problema!

Se o problema não tem solução,
Então não adianta procurar solucioná-lo.
E ele também não é um problema!

Talvez compreender a vida,
Tal como é, assim, complicada,
Difícil, arredia,
Seja a forma de responsabilidade maior,
De aceitar de maneira peremptória,
Que não há problemas,
Mas responsabilidades!

Assim, diz o prolóquio,
Não existem problemas,
Existem negações de nossas responsabilidades!

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Pensei em você






Quando vi a harmonia das esferas,
Quando ouvi a harmonia das notas,
Quando senti a maciez das pétalas,
Quando percebi a ordem no caos...

Pensei em você em cada instante,
Em cada momento,
Em cada mensagem,
Em cada palavra,
Em cada...

Pensei em você,
E o que me faz não estar,
Tão próximo de ti,
Que sejam com um, o que é dois?

Pensei em você,
E foi tão doloroso,
Medir em milímetros nossa distância,
Que é quase eterna no silêncio,
Que é quase infinita no espaço,
Que percebi minha solidão,
Tão concreta, que me restei esmagado,
Impotente, vazio e solitário,
Encarcerado em meu pensar!

Pensei em você...
E se assim é,
Quando me ouvires,
Falar no vento que sopra,
Saberás que estou partindo,
Com velas à solta,
Buscando um caminho,
Entre tantos outros,
Entre tantos descaminhos,
Para alcançar você.

Pensei em você,
Ou será que é você,
Que pensas em mim,
E de mim, faz existência?
Pensei em você...