Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Pequeno Tratado da Intolerância





Pequeno Tratado da Intolerância
Charb

Sinopse:

Você não perde uma chance de exaltar o passado, lamentando que não se fazem mais programas de TV nem comerciais como no seu tempo? Defende com vigor o conceito de voto útil nas eleições? Compra sempre as armações de óculos que estão na moda? Acha uma gracinha decorar sua mesa do trabalho com um desenho que seu filho fez para a escola? Se sua resposta para qualquer dessas perguntas aparentemente inofensivas for sim, você já esteve na mira de Charb. Essas pequenas paixões da vida cotidiana sempre trouxeram à tona os piores instintos do cartunista e jornalista francês, que neste volume distribui sem pudor, em crônicas afiadas e divertidas, suas próprias sentenças de morte. Cartunista e jornalista, Stéphane Charbonnier foi diretor da Charlie Hebdo de 2009 até 2015, quando morreu, durante uma reunião de pauta, no atentado terrorista à revista satírica francesa.

O que penso:

Na melhor tradição voltairiana, Charb escreve um pequeno tratado, não sobre a Tolerância como o grande Iluminista, mas sobre a Intolerância. Um texto leve, irreverente, iconoclasta, divertido, que pode ser lido de qualquer maneira e que nos coloca as muitas sandices do politicamente correto. Que nos questiona sobre a superficialidade de nossas opiniões, que nos coloca diante de problemas simples que se tornam torturantes apenas e tão somente por nossa omissão, ignorância ou comodismo. O Pequeno Tratado é uma leitura agradável, enriquecedora que nos leva a questionar muitas de nossas convicções. Faz troça de convicções vazias e o texto "Morte aos Falsos Anarquistas" é um texto exemplar do gigantismo da obra. Deve ser lido.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O Último Império






O Último Império
Serhii Plokhy


SINOPSE:

No Natal de 1991, o presidente norte-americano George H. W. Bush discursou para a nação a fim de declarar a vitória dos Estados Unidos na Guerra Fria. No mesmo dia, Mikhail Gorbatchov havia renunciado a seu posto de primeiro e último presidente soviético. A consagração dessa narrativa, em que o fim da Guerra Fria estava ligado à desintegração da União Soviética e ao triunfo dos valores capitalistas sobre o comunismo, protagonizou a opinião pública norte-americana e persiste desde então, com consequências desastrosas para a situação dos Estados Unidos no mundo. O premiado historiador Serhii Plokhy revela neste livro que o colapso da União Soviética foi tudo menos obra dos Estados Unidos. Valendo-se de documentos recém-revelados e de entrevistas originais com os principais envolvidos, Plokhy apresenta uma interpretação nova e ousada dos últimos meses da União Soviética e argumenta que a chave do colapso foi a incapacidade de as duas maiores repúblicas soviéticas, a Rússia e a Ucrânia, concordarem quanto à continuidade da existência de um Estado unificado. Ao atribuir o colapso soviético ao impacto das ações norte-americanas, os dirigentes políticos estadunidenses superestimaram sua capacidade de derrubar e reconstruir regimes estrangeiros. O papel decisivo dos Estados Unidos no desaparecimento da União Soviética não só é um mito como uma crença descabida que tem orientado - e perseguido - a política externa norte-americana desde então. "Uma grande análise de um momento histórico extraordinário e sua relevância na crise atual tornam este livro leitura obrigatória." (Wall Street Journal) "Uma leitura fascinante sobre os meses finais da União Soviética." (Telegraph, UK) "Uma retomada incisiva dos meses que antecederam a dissolução da URSS. Com uma narrativa vibrante, o livro capta esse acontecimento histórico de modo sublime." (Sunday Times, UK) "Este livro é um achado raro. Esclarecedor e imparcial, enfatiza a pesquisa e análise de especialistas." (Publishers Weekly) "Plokhy proporciona detalhes incríveis sobre esse momento histórico, especialmente sobre a Ucrânia." (Kirkus)

O que penso:

Um livro que faz o relato de forma segura e compreensível da extinção da URSS, da implosão do último império colonial europeu que sobreviveu praticamente todo o século XX. Faz-nos pensar o quanto Hitler e sua ideia de lebensraum a Leste, sua compreensão do destino imperial alemão na Europa Oriental, não estavam alienados da compreensão política, social e histórica do continente. O livro é muito bem escrito, a armação histórica é compreensível e faz uma interpretação muito correta do período histórico e principalmente, acentua de maneira correta o fato de os EUA não terem vencido a URSS, e a desintegração do grande rival não ter qualquer relação com a ação do gigante americano. Excelente leitura para compreender o período histórico que vai de 1989 a dezembro de 1991.
Um livro que faz o relato de forma segura e compreensível da extinção da URSS, da implosão do último império colonial europeu que sobreviveu praticamente todo o século XX. Faz-nos pensar o quanto Hitler e sua ideia de lebensraum a Leste, sua compreensão do destino imperial alemão na Europa Oriental, não estavam alienados da compreensão política, social e histórica do continente. O livro é muito bem escrito, a armação histórica é compreensível e faz uma interpretação muito correta do período histórico e principalmente, acentua de maneira correta o fato de os EUA não terem vencido a URSS, e a desintegração do grande rival não ter qualquer relação com a ação do gigante americano. Excelente leitura para compreender o período histórico que vai de 1989 a dezembro de 1991.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Um conto nada de fadas





Era um país, que ficava nos trópicos, tinha uma natureza exuberante, um vasto território, rico em florestas, rios, minerais. Seu solo era rico, como também o seu subsolo, a franja marinha prenunciava uma vocação de conquistas e de expansão.
Neste país de faz de contas, sempre que o petróleo baixava no mercado internacional a gasolina subia nos postos de combustíveis. Sempre que havia uma crise internacional, depois que um governo progressista tomou o poder, nele se encarava como uma marolinha, até se perceber um tsunami.
Neste país de faz de contas, o combustível renovável subia quando subia o combustível fóssil, subia quando era entressafra, subia quando não tinha outro motivo que a ineficiência e o apadrinhamento dos usineiros, que eram por sua vez os dominadores da política do nordeste, que volta e meia, tornavam o partido no poder, o maior partido do ocidente.
Neste país de faz de contas, o governante nunca sabia de nada, e isto fazia com que nunca na história daquele país houvesse tanta corrupção, tanto desmando, tanta espoliação do povo, que ao ver repetida mentiras todos os dias, por milhares de vezes, sempre acreditavam na inocência dos culpados e sempre condenavam os inocentes, o próprio povo, a sustentar um Estado burocrático, inchado, aparelhado e ineficiente.
Ora, este país de faz de contas criou o racismo oficial, as cotas que dividiam o país em estamentos coloridos e econômicos, neste país abastecia-se o automóvel mais com impostos do que com combustível, porque o que realmente fazíamos era trabalhar para sustentar um sistema político parasitário.
Fazia-se tanto de conta que em cada litro de combustível havia um imposto de mercadorias que equivalia a mais de 40% do preço da bomba, sem contar os impostos da dita União, um centro sanguessuga que espoliava a riqueza da periferia para distribuir aos coronéis do sertão.
Contava-se para as crianças estórias belas de fadas em que este país de faz de contas um dia seria o país do futuro, mas o que restava na vida era apenas foi uma vez. Neste país havia um dragão que volta e meia assolava a população e a economia, ajudado pelos desmandos dos aparatchiks dos partidos da esquerda festiva ou dos grupos reacionários da direita. Assim, não restava ao povo mais que buscar salvadores da pátria, que nunca se apresentavam para matar o dragão, senão para alimentá-lo às escondidas e envergonhadamente, para em seguida, com o discurso de nunca antes neste país, soltá-lo novamente sobre a riqueza e a vida dos cidadãos.
Neste país de faz de contas, havia impostos e mais impostos, e taxas, e contribuições e muitos mais mecanismos de escravização do trabalho, tudo em nome da coletividade, que não era a do povo, mas a daqueles que se locupletavam do Estado.
Agora diz que, quando o barril do petróleo atinge menos de US$ 30.00, neste país cada litro não sai por menos do que US$ 1.00, mas ainda é sabido que, se o petróleo subir a gasolina vai subir, se ele baixar, ela vai subir, e se houver furo de caixa no governo, ela vai subir, se os governos estaduais ficarem mamando no governo federal ela vai subir, assim, a perspectiva que temos quanto ao consumo de combustíveis é que nunca na história deste país haverá uma real valoração dos combustíveis, nem teremos informado com transparência na bomba, quem mais nos rouba.
Pagamos um preço alto para existir modestamente no país de faz de contas, onde houve um tempo que o lema era “sem medo de ser feliz”, cuja tradução aproximada é “sem medo de ser roubado, tungado e esfolado e ainda ter de sorrir”!
Neste país de faz de conta, bom mesmo era nunca ter trabalhado, ter sido líder sindical, ou assaltante de banco, ou chineleiro no Araguaia, porque então poderíamos governar o tal país e fazer de conta que tudo está melhor, no melhor país do mundo.
Neste país panglossiano havia sempre uma certeza, este é o país do futuro, de um futuro cada vez mais distante, onde o passado, como nunca dantes na sua história, será medido pela ruína da cultura, da saúde, da educação.
É, talvez este não seja um conto de fadas, talvez seja necessário um demiurgo para exorcizar este país, redescobrindo-o ou melhor, encobrindo-o, para que no próximo achamento, haja menos necessidade de não ter medo de ser feliz e mais coragem de desafiar aqueles que nos humilham, traem e espoliam.
Melhor seria: “sem medo de ter coragem”, coragem como a certeza do que deve ser feito para varrer da história do país todos os políticos, substituindo-os a cada gestão, impedindo camarilhas.
Coragem para fechar o livro, parar de fazer parte de uma história nada de fadas, e que sempre acaba sem um final feliz para o cidadão!