Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Liberdade e Existir





Muitos homens e mulheres passaram toda a vida buscando o seu objetivo primeiro ou último. Muitos filósofos e filósofas gastaram rios de tinta discutindo a natureza humana. Muitos de nós nos questionamos sobre o sentido da vida, do tempo, dos afetos, de tudo quanto fazemos e pensamos.
Tão doloroso é perceber que toda esta energia foi dispensada sem qualquer proveito, porque não há natureza humana. Não há objetivo, seja primeiro ou último na vida que não seja a própria vida!
Por quê nos questionamos tanto sobre nossos pensamentos e nossas ações e não sobre suas consequências para a existência da humanidade?
Os muçulmanos estão a nos ensinar o verdadeiro valor da religião, que é a de unificar distintas tribos do primata humano, todos sob uma mesma crença, dando sentido e objetivo para suas vidas, já que tão perdidos e solitários numa população imensa, informe, desunida e autopredadora.
O radicalismo islâmico é tanto mais incompreensível ao ocidente, quanto mais sincero, mais íntimo, porque ele faz com que o fenômeno religioso volte a ser o que era em sua origem, o reconhecimento e pertencimento a uma tribo.
Enquanto isso no Ocidente, pertencemos a tantas tribos, a tantos grupos, que nossa identidade amorfa não nos permite mais sermos intolerantes. Mas isso nos enfraquece, porque já não temos unidade, ou qualquer fenômeno ou ideia que seja capaz de galvanizar nossa identidade comum para se contrapor às tribos cuja religião é o traço de união radical.
Talvez antes de pensarmos em natureza humana, em objetivo da vida, devamos nos preocupar em buscar elementos de identificação e os levemos à radicalidade.
O laicismo é fundamental no Ocidente, é ele que nos permitiu não queimar bruxas e hereges em fogueiras, nem buscar pela guerra eliminar os crentes de outras religiões. Outro aspecto fundamental é a democracia liberal que está a buscar novos fundamentos, e que garantiu a prosperidade e a sociedade que todos criticam, mas que desconfio, ninguém em sã consciência gostaria de se desfazer.
Queremos liberdade, queremos vida com menos Estado, menos impostos, menos guerras, menos fanatismos! Temos de buscar identificar um traço que nos una numa grande tribo de resistência aos fundamentalismos religiosos, aos evangelismos, ao islamismo e ao estado teocrático israelense.
Somos contra fronteiras, somos contra o não reconhecimento do mérito, somos a favor da liberdade como princípio fundamental de toda a sociedade humana, e se há algum direito mais inalienável que a vida, este direito é a liberdade. Todo atentado contra a liberdade é um atentado contra toda a humanidade, contra a vida em suas mais distintas formas é antes de tudo uma violência contra a VIDA em absoluto.
Façamos da LIBERDADE uma religião, que nos permite tolerar tudo e todos, que permita a sobrevivência das diferentes e irredutíveis tribos neste pequeno e insignificante planeta. Acredito que esta seja a única razão para que se permita o diferente, o radicalmente distinto de mim.
Não faz a menor diferença dizer que Deus é um só, que todos são irmãos, que todos somos filhos da mesma divindade, se acreditamos que Deus, ao se chamar Iavéh, Jeová, Ala ou Jesus, não só não é o mesmo como autoriza que nos matemos de forma abjeta, apenas porque seu nome é diferente, como se não fosse o mesmo. Como não é o mesmo!
Mas o anseio da liberdade de existir, de ser livre para acreditar e não acreditar, para fazer e deixar de fazer, para sustentar templos ou derrubá-los é absolutamente igual em cada um e em todos os primatas humanos.
Sejamos livres para defender a dignidade dos bonobos, chimpanzés, gorilas, orangotangos, nossos primos ontológicos, sejamos livres para olhar nos olhos de nosso cachorro e encontrar no fundo deles uma igual e profunda dignidade, e direito à vida, como temos todos!
Transijo, sou capaz de tolerar o que quer que seja, desde que não me roubem a liberdade de ser livre, a liberdade de pensar a liberdade!
Não temos objetivo algum, não temos finalidade alguma, não somos imagem nem semelhança de coisa alguma, não temos um caminho progressivo ao Nirvana, nem temos ao final paraíso ou inferno, mas com certeza temos esta pequena e delicada vida, preenchida de uma solidão e de uma liberdade radicais, vamos nos unir numa única e imensa tribo, de primatas humanos que amam a liberdade.
Liberdade de amar, liberdade de viver sem medo, liberdade de viver sem governos, liberdade de produzir sem regulamentos estúpidos, liberdade de ir e vir pelo mundo, sem que reconheçamos fronteiras artificiais que apenas projetam nos homens ódios tribais incompreensíveis, liberdade que nos torne mais fiéis a um único e simples mandamento, o amor à VIDA.
Liberdade único princípio que não pode ser modulado, afastado e amesquinhado. Liberdade como traço indistinto entre o humano e toda a natureza que o cerca.