Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Trago em mim






Dia de festa, encontramos muitos sorrisos, alguns contrariados, outros falsos, alguns constrangidos, outros tangidos pela necessidade, outros escondendo uma realidade dolorosa.
Não se trata de hipocrisia, aquele que não sabe sorrir e mitificar seu sofrimento, ou sua maldade, ou ainda seu indizível desamor da humanidade, não compartilha com a humanidade a capacidade de se reinventar sempre, de buscar sempre se recriar, de levantar cada dia, como se tudo pudesse recomeçar do zero.
Somos assim, podemos nos reinventar, estamos neste planeta de polo a polo, de temperaturas acima de 60º Celsius, a temperaturas abaixo de 40º Celsius. Estamos espalhados por desertos, savanas, geleiras, florestas tropicais, cidades, ilhas, barcos, aviões, carros, trens, ou seja, estamos em todos os lugares.
Podemos estar ausentes apenas de um lugar, de nós mesmos, de nossa humanidade, e a maior prova desta ausência, é o deserto interior que faz com que nos afastemos da alegria geral, do sorriso que se nos oferece aquele rosto iluminado pela alegria da festa de Ano Novo!
Quantos motivos há para a alegria? Milhares!
Para a tristeza? Outros milhares.
Para compartilhar da felicidade do outro? Uma só – nossa humanidade que compartilhamos com o outro!
A não ser os que sofrem por esta mesma humanidade, os que sofrem pelo fenecimento desta existência simples e complexa, os que enlutados, se consomem na falta, na ausência do amado, todos nós outros temos motivos para sorrir, nem que seja em respeito à humanidade que habita em nós!
Trago em mim esta humanidade que pensa o Novo Ano como promessa!

Ano Novo






Começa a contagem regressiva...
Dez...
Nove...
Oito...
Sete...
Seis...
Cinco...
Quatro...
Três...
Dois...

Espocam os champanhes,
Espocam espumantes,
Espocam lambruscos.

Alegrias, sorrisos, alívios,
Homéricas libações alcoólicas,
Beatíficas reuniões de oração!

Uma única certeza,
Seres humanos acreditam na passagem do tempo,
No renascimento de buscas, de esperanças,
De superação do perdido, do alcançar novas possibilidades!

Schummacher luta pela vida!
Nós também pelas nossas...
Esquecemos as injustiças,
Lembramos da grandeza de Bento XVI, na humildade!

Um...
Uma eternidade entre este um e o zero...
Todas as nossas angustias,
Vencidas por um imaginário abraço fraterno,
À humanidade, também nossa humanidade!

Queremos esquecer que no Blangadesh,
Homens espancam advogada porque defende o direito,
De outros homens...
Não basta esquecer...
Seja o próximo, o ano que for,
Seja 537, ou 1234, ou 1492, ou 1914, ou 2012, ou ainda...
2014...
Não podemos esquecer de nossa humanidade...
Não matar...
Não escravizar...
Não esquecer...
Viva o novo ano,
Não porque novo ano!
Mas porque podemos fazer deste novo tempo,
Um tempo melhor para se viver!


Zero... – FELIZ ANO NOVO!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os dias




Passam os dias
O sol nasce e se põe,
A lua impera nas noites,
O calor, escaldante, do dia,
Substituído pelo frescor da noite!

Passam os dias,
Meu encantamento por tua presença
Não acaba, ou se esgota,
Em todas os olhares que trocamos,
Nos carinhos que vivemos,
Nos silêncios que preservamos,
Bastando tua presença
Bastando que permaneças perto de mim.

Passam os dias,
Mas não passa o desejo,
De estar sempre a teu lado,
De estar sempre a te amar,
De ouvir-te no silêncio que fazes,
Quando vivendo cada dia,
Como se fosse o último!

Passam os dias,
E apenas me ocorre,
Como já ocorreu, a muitos...
Mais brilhantes poetas...
Que hoje, te amo mais,
Muito mais...
Que ontem...
Mas certamente,
Menos...
Muito menos...
Do que te amarei amanhã!

Passam os dias,

Não passa meu desejo por você!

Sábado ou Domingo




Discutiam acaloradamente sobre a guarda do sábado ou do domingo. Cada um com suas certezas.
Não lhes parecia um assunto banal, na medida em que a bíblia mandava guardar o dia do Senhor. Mas este era o sábado ou o domingo?
Não conseguiam entrar num acordo minimamente razoável, cada um aferrado a suas certezas. Ficou a discussão cada vez mais acalorada.
O que acreditava que era domingo perguntou ao que cria que era o sábado, porque os concursos públicos em um Estado laico eram no domingo, já que o domingo era o seu dia santificado. O outro estufou o peito e disse que jamais faria uma prova no sábado e que assim os tribunais reconheciam seu direito de fazer em outro dia.
Nenhum dos dois percebeu que o que interessava era a laicidade do Estado, e que se um não podia fazer no sábado, o outro tinha que ser respeitado pelo seu domingo. E com certeza a quarta e a sexta também eram sagradas para outras religiões da terra e não tanto desta terra!
Permaneceram levantando argumentos sobre a santidade do domingo e do sábado, incansáveis em sua luta por terçar provas e fatos que comprovassem a sua verdade sobre o dia Santo.
Para espanto de ambos, sentados numa terça-feira dia 31 do ano, tomando um refresco de limão à beira da calçada, viram aproximar-se um sujeito vestido como um mendigo, sorridente e desdentado.
Aproximou-se dos dois contendores e pediu um cigarro. Não tinham.
Perguntou entre íntimo e cúmplice se tinham uma cachacinha. Acharam-no desaforado!
Sorriu com suas gengivas aparentes, retirou umas moedas do bolso, contou-as, e pediu alguns centavos para comprar um “martelinho”.
Novamente, retorquiram, aquilo era um abuso, pespegaram-lhe todo tipo de adjetivos negativos e o exortaram a corrigir a vida torta que levava.
O sujeito que permanecia alegre, de uma alegria jovial e pura, disse-lhes que vivia bem, muito obrigado, e que quem deveria mudar de vida eram eles, ali perdendo o seu tempo, negando toda sorte de bondades aos outros.
Pensaram um pouco, e fizeram um trato com o mendigo. Se lhes dissesse que dia era e qual o dia mais santo, eles lhe pagariam um refresco e um pão com pernil de peru.
O mendigo pensou, negociou uma cachacinha no lugar do refresco, mas diante da recusa, aceitou o trato.
Disse-lhes então que acreditava que aquele deveria ser dia 5 de junho de um ano qualquer, porque não faria qualquer diferença ser este ou aqueloutro dia, e na realidade não havia dia isso ou aquilo, apenas convenções que os homens usam para submeter uns aos outros.
Santificado eram todos os dias que tinha o que comer, onde dormir e quando encontrava pessoas que como ele eram capazes de sentir fome, sono, sede, frio, calor, compaixão. Assim, se Deus tinha um dia santificado, com certeza não seria o sábado ou o domingo, visto que as pessoas se desentendiam sobre esses dias, deixavam de cumprir suas obrigações nesses dias e ainda acreditavam que os outros tinham que acreditar em suas sandices dogmáticas.
Revoltados, negaram-lhe o pão e o refresco, ao que ele respondeu com um sorriso e retorquiu.
No dia em que santificassem o dia do Senhor, não esquecessem de honrar seus compromissos, já que em Deus não há tempo, nem ontem, nem amanhã, mas com certeza haverá de honrar seus compromissos.
O primeiro deles amar a todos os homens sem distinção o segundo perdoar sem limites. Se é domingo ou sábado, pouca diferença faz, a não ser como homenagem que a hipocrisia presta à virtude!