Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Inferioridade da Mulher




É verdade, Broca e Morton o confirmam,
Já no século XIX, é verdade,
A craniometria, a psicologia do desenvolvimento,
Não podem negar...

As mulheres têm cérebros menores,
Sua força muscular, é menor,
Não constituíram exércitos,
Nem construíram impérios...

Mas acredito também,
Que num mundo de mulheres,
Haveria mais compaixão,
Haveria muito mais coragem...

Coragem de parir,
Coragem de amar,
Coragem de suportar,
Coragem de reproduzir a cultura, o sentimento, a beleza...

Se os homens parissem,
Não mais haveria humanidade,
Se as mulheres não nos amassem,
Não haveria mais arte, superação, beleza e encantamento,

Talvez a inferioridade da mulher,
Possa ser medida pelos milhões de mortos em guerra,
Seja medida pela miséria e pela feiura da dor que os homens provocam,
Seja estabelecida pela ausência da vida onde elas não existem.

Taí... As mulheres são inferiores,
Mas quer saber,
Apenas aos anjos mais perfeitos e encantados,
Às musas e às Deusas...


Do resto, são antes a criação...

Origem da Moral





Durante milênios, acreditaram os homens,
Que os fundamentos da moral,
Estavam cimentados no temor de Deus,
Uma moral covarde, uma moral do medo,
Uma moral egoísta, por que sim,
Os valores se fundamentavam no desejo,
De chegar ao paraíso...

Depois, há quatro séculos, os homens,
Novamente os homens, acreditaram...
Que a Moral, ora a moral,
Estava solidamente fundamentada na razão,
Por que o que nos fazia superiores,
O que nos distinguia da natureza,
Era nossa venerada racionalidade!

Foi então que humanistas e iluministas,
Acreditaram que o mundo não foi feito,
Para o deleite dos seres humanos,
Ou para eles deitarem nomes às criaturas,
Aos espaços geográficos, ou ao tempo,
Mas para ser dominada, a Natureza,
Explorada e escravizadas, sempre,
Todo o momento, pela vontade do homem.

Mas então, um surto de tecnologia,
Os espaços se reduziram, as velocidades aumentaram,
O vapor, a eletricidade, a combustão,
O telefone, o avião,  os canhões, as metralhadoras.
E o homem, sentindo-se deus, dominando,
Prostrando e explorando tudo à sua volta,
Descobriu maneiras de liquidar, a si mesmo,
À vida e à razão...

Vieram escravidão, imperialismo,
Xenofobia, servidão, eugenia,
Não uma, mas duas guerras mundiais,
Para certificar-se de que a razão, como fundamento,
Produz apenas desumanização e violência,
Que como produzimos iPhones e iPads,
Somos capazes de produzir fornos e morte em massa.

Não sendo Deus, não sendo a razão,
Não sendo o medo, o egoísmo,
Não sendo aquilo que nos distingue sem distinguir,
Não sendo nada do pensado e do concebido,
Não sendo qualquer valor universal ou particular,
Não sendo Agostinho, Aquino, Kant ou Adorno,
Onde está a origem da Moral?

Continuamos buscando fora o que carregamos dentro,
Agostinho estava certo, buscamos tão longe, o que está,
Antes de tudo em nós mesmos, impedidos de ver’
Por nosso antroprocentrismo injustificado,
Por nosso etnocentrismo preconceituoso,
Por nosso esnobismo atávico sobre o outro,
Enfim, não olhamos para o outro em nós...

A origem? Ah, a origem começa antes de nós mesmos,
Nas capacidades de empatia, aquela de primeiro grau,
Que permite perceber o que o outro sente,
Saber de suas alegrias e de seus sofrimentos,
Olhar e identificar o estado da alma do outro,
Seja ele bípede implume, glabro e delgado,
Seja ele quadrúpede, hirsuto, ágil e dedicado...

Mas apenas perceber é pouco,
A seleção natural exige que nos esforcemos mais,
E a empatia, com milhares de anos, seleciona,
Aquela secundária, que permite, não só perceber,
Mas identificar-se com o sentimento do outro,
Sentir suas alegrias e sofrer suas dores,
Sentir um mal estar, porque o outro o sente...

Mas ainda era pouco, e Darwin estava certo,
A evolução, que não significa progresso, e
Que nem tem por objeto perfeição ou destino,
Precisava mais, e então, a compaixão,
Não bastou perceber, nem bastou sentir, identificar-se,
Mas há que compartilhar o sentimento, seja alegria,
Seja sofrimento, compadecendo-se do outro!

Mas ainda não foi o bastante, porque como vivos,
Coparticipes da vida, disputamos tudo, dividimos
O mesmo espaço, o mesmo ar, as mesmas fontes de alimentos,
Lutamos pelas mesmas frações preciosas de energia,
Jogamos os mesmos jogos de existir,
Disputamos a escassez de todos os recursos,
De uma natureza ávara, porque sábia...

E não sendo o bastante, da seleção natural,
Nasceu o altruísmo, herdeiro da primeira empatia,
Que nos permite dar sem receber, que nos permite, doar-se,
Que permite ao homem agir em função da dor e da alegria,
Que nos permite fazer, sem esperar o retorno,
Que nos faz capazes de não avaliar o custo,
Daquilo que é nobre, mas pode nos custar a vida...

A origem da moral? Está dentro de cada um de nós,
Ou não está, porque fazê-la manifestar-se,
Depois de milhões de anos de seleção natural,
De busca de perpetuação e difusão da vida,
Depende de uma vontade firme, construída,
Pela cultura, pela razão, mas antes de tudo,
Por acreditar que a vida do outro tem tanta dignidade como...

A de outro homem,
A de outro chipanzé,
A de outro bonobo,
A de outro gorila,
A de outro orangotango,
A de outro golfinho,
A de outro elefante...


Enfim, como de toda vida....

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Invisível






Quantos de nós não nos sentimos invisíveis?
Quantos de nós não topamos com nossa insignificância?
Quantos de nós não sofremos com a falta de importância?

Como será possível viver com alguém e não perceber,
A dor, o sofrimento, a falta, a ausência, a angústia,
Não perceber que o outro se desfaz, abandonado a si mesmo?

Como será possível esquecer que o outro grita,
Muitas vezes alto a ponto de parecer mudo,
Que continua a existir, mas de uma existência zumbi?

Como não percebemos o desmoronar do outro,
Mesmo ele dizendo, indicando, apontando,
Todas e cada uma de suas feridas?

Será egoísmo? Será uma forma de encarar o mundo,
Como se fosse nosso próprio umbigo,
De encarar o mundo apenas como extensão de nós?

Não tenho as respostas, mas sei que elas fazem cada vez mais sentido,
E fazem tanto sentido que escuto de forma ensurdecedora minha mudez,
E constato de forma dolorosa que sou tão apenas invisível!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Lágrimas






Quando a alma chora, permanentemente,
No mais íntimo, no mais profundo, vazio,
No mais abismal escuro e silencioso de cada um,
Chora, clama, silenciosamente, num grito surdo,
De desesperança, de vazio, de dor...

Quando as lágrimas já não se manifestam,
Porque vazios todos os rios, oceanos e lagos,
Que preenchem a vastidão da alma atormentada,
Quando as lágrimas são lembranças de uma presença,
Cada vez mais ausente, mais tangível, pelo não dito...

Quando o choro é canto, repetido, obsessivo,
Como metrônomo da alma atormentada pelo que poderia ser,
Mas que se perde nos encontros e desencontros,
Quando incompreensível a solidão vivida a dois, todos os dias,
Cada dia, como abismo de si mesmo, infecundo...

Quando a presença é opressiva e incompreensível,
Quando o choro, o canto e as lágrimas se confundem,
Quando não há mais esperança e o tédio é a constante,
Aprofundando um abismo sentido como infinito,
Quando a alma percebe sua dolorosa infinitude...

É infinito o tempo vivido em busca e no sentido do nada,
É eterno o sofrimento sentido em cada minuto,
É lágrima derramada como lava na existência,
É grito surdo, mudo, desesperado, para ninguém ouvir,
É lamento que se perpetua sem sentido para...

Lugar algum!