Espaço de sentir e pensar de Laércio Lopes de Araujo

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Intimidade





Se olhares com atenção em torno de ti,
Verás que há em cada lugar, pedaço de mim!
Se permitires aguçar cada sentido teu,
Perceberá que permaneço em você, agora!

Se não me encontras perdido em teus lençóis,
É porque o mundo é tão vasto e injusto,
Que eu não estou aí perdido em você...
Você não está aqui, imersa em mim!

Mas para cada momento que vivemos,
Há sempre uma lembrança e um desejo,
Há sempre uma premência que devora,
Que traz repetida uma promessa de ficar!

Escrevo agora, quando minha vontade era beijar!
Escrevo agora, porque me devora o desejo de amar!
Escrevo agora, porque tão próximos e tão distantes...
Resta-nos apenas a certeza de se encontrar!

E este encontro, tão surpreendente quanto inverossímil,
Deu-se porque teceram as moiras destino,
Que agora é responsabilidade nossa, tão única,
Tornar história, dar-lhe conteúdo, fazer-lhe perene!

Se preciso do tempo para escrever o que sinto,
É antes porque preciso ainda mais do tempo,
Para viver teu corpo intensamente, agora,
Amanhã e depois, prometido o sempre!

E assim, que seja eterna intimidade, eu e você...
Agora sobre a cama de desejar e amar!

Teus lábios





Se me ofereces teus lábios,
Que em desejo sinto tocados,
Vejo-lhes o encanto e a formosura,
E deles retenho a ternura infinita!

Fico contemplando cada traço,
Dos lábios que anseio encontrar,
Fico hipnotizado com a imagem,
Com o desenho encantador de tua boca!

Como posso viver, como posso existir,
Tão longe das promessas que se encerram,
No corpo e na vida que se oferece,
Na pulcritude beatífica que se realiza!

Não tenho mais pensamentos que aqueles,
Que me conduzem todo inteiro para você,
E cada ato praticado com ternura,
Constrói uma promessa que vem de você!

Trânsito em Julgado





Havia um país onde todos temiam a polícia,
Porque para ser preso bastava apenas o arbítrio,
E naquele país presunção de inocência era luxo,
Que se reconhecia muito parcimoniosamente!

Neste país, como lá nas terras da América do Norte,
Criminoso condenado, ia para a cadeia,
Se o juiz estabelecesse a materialidade e autoria,
Os recursos, eram coisas de outro tempo!

Até que um dia, o esbirro da ditadura,
Também foi preso, porque criminoso,
Um tal de delegado, de nome Fleury,
Então, já não se podia prender pelo juiz!

E veio mais uma das constituições,
Que criadas para ser instituição democrática,
Apenas reforçava a distância, entre...
De um lado povo, do outro coronéis!

E assim se fez preceito constitucional,
Só se prende com trânsito em julgado,
Mesmo que materialidade e autoria definidas,
Mas se for coronel, nunca vai preso!

Porque da apelação, tem recurso,
Do recurso, tem especial, tem extraordinário,
E então tem prescrição da pena,
E os coronéis nunca vão para a prisão!

E assim, ensinamos o povo, ele sempre,
Que a lei de Gerson, aquela que dizemos odiar,
Prevalece sempre, como exemplo, porque então,
Até retirante, se presidente, não pode ser preso!

Mas as cadeias permanecem lotadas,
Cada vez mais como depósitos humanos,
De negros, de pobres, de párias,
Porque não tem advogados ministros!

E aquele país que se tinha por ser do futuro,
Ia ficando cada vez mais distante,
Porque mesmo os juízes, tinham moralidade duvidosa,
Faziam greve, por moradia, que ao povo era negada!

Transito em julgado, privilégio, dos coronéis!